A saga da dinastia do Banco Safra, desde as origens na Síria até a recente disputa judicial bilionária envolvendo Joseph Safra, seu filho Alberto e o futuro do império.
Herdar um império bancário, abrir um banco rival, ser deserdado e processar a própria família. A história do Banco Safra envolve bilhões, traições e disputas dignas de série. Tudo começou com camelos e moedas na Síria do século XIX.
Chegou a uma guerra judicial bilionária nos tribunais de Nova York, expondo segredos de uma das famílias mais discretas do mundo financeiro.
Das Caravanas da Síria ao Brasil: a origem do império Safra
A história da família Safra no mundo financeiro começou no século XIX. Em Alepo, na Síria, eles atuavam no câmbio e transporte de valores para caravanas. Fundaram a Safra Frères & Cie. Mais tarde, mudaram a sede para Beirute, no Líbano. Lá, Jacob Safra fundou o Banco Jacob E. Safra em 1920. Percebendo a instabilidade política crescente na região após 1948, Jacob decidiu emigrar. Em 1952, desembarcou em São Paulo. No Brasil, inicialmente abriu uma empresa de importação e comércio.
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Joseph Safra assume: a construção do Banco Safra
Joseph Safra era o filho mais novo de Jacob. Teve formação internacional, trabalhando nos EUA e Argentina. Chegou ao Brasil em 1962. Após a morte do pai em 1963, Joseph e seus irmãos levaram o nome da família adiante. Eles introduziram no Brasil ferramentas financeiras comuns no exterior, como letras de câmbio e juros sobre depósitos.
Joseph, conhecido como “Seu José”, seguia o lema do pai: solidez acima de tudo. O Banco Safra como o conhecemos nasceu oficialmente em 1972, após aquisições anteriores. Joseph liderou com estilo discreto, conservador e controlador. A reputação foi construída no boca a boca, focando em clientes avessos a risco.
Jogadas bilionárias
Joseph Safra não fugia de lances estratégicos. Em 1988, obteve lucro expressivo explorando uma regra da caderneta de poupança. Nos anos 90, entrou no setor de telefonia com a BCP, em parceria com a BellSouth. A escolha da tecnologia TDMA se provou errada, e a empresa acumulou dívidas bilionárias.
A BCP foi vendida com prejuízo para o grupo que formou a Claro. Por outro lado, em 2012, fez um movimento certeiro ao comprar o banco suíço Sarasin. Também investiu na Chiquita Brands (bananas) e em imóveis de luxo globais, como o Edifício Gherkin em Londres.
A saída de Alberto e o início da disputa familiar
Nos últimos anos, o Banco Safra buscou se modernizar. Lançou a maquininha SafraPay e a carteira digital SafraWallet. Tentou alcançar clientes menores, como pequenos empresários. Essas mudanças geraram atritos internos. Ao mesmo tempo, a saúde de Joseph Safra declinava devido ao Parkinson. A sucessão começou a gerar conflitos.
Alberto Safra, um dos filhos, era preparado para assumir o banco no Brasil. Contudo, em 2019, ele deixou o Banco Safra. Fundou sua própria empresa, a ASA Investments. Levou consigo executivos importantes do grupo. A saída foi vista por Joseph como um golpe.
A batalha judicial
A tensão explodiu em 2023. Alberto Safra entrou na justiça em Nova York. Processou a própria mãe, Vicky Safra, e os irmãos Jacob e David. Alegou que sua participação no grupo foi diluída injustamente. Afirmou ter sido impedido de nomear um diretor. Questionou a capacidade mental do pai ao assinar documentos que o deserdavam. A família respondeu publicamente. Afirmou que Joseph deserdou Alberto ainda em vida. O motivo seria a mágoa pela criação do banco concorrente. Joseph Safra faleceu em dezembro de 2020, aos 82 anos, em meio a essa crescente disputa familiar.
O Banco Safra pós-conflito
A guerra judicial teve um desfecho parcial em julho de 2024. Foi anunciado um acordo. Alberto Safra venderia sua participação no império Safra. Seguiria com sua empresa independente, a ASA. A viúva, Vicky Safra, assumiu o comando do grupo junto aos filhos Jacob e David.
O Banco Safra continua operando e buscando se adaptar. Mantém forte atuação em filantropia, apoiando hospitais como Albert Einstein e Sírio-Libanês, e instituições culturais. Recentemente, em 2025, foi multado pelo Procon-MG por empréstimos consignados não autorizados. O grande desafio atual do Banco Safra é equilibrar sua tradição de solidez e discrição com as demandas do mundo digital e de novos perfis de cliente.