Com um vão de 3,3 km, o projeto que atravessa o Estreito de Messina avança na Itália, mas enfrenta desafios sísmicos, ambientais e um custo bilionário.
A Ponte sobre o Estreito de Messina é um projeto que cativa a imaginação italiana há milênios. A ambição é conectar a Sicília à Itália continental através daquela que seria a maior ponte suspensa do mundo. Impulsionada por um forte apoio governamental recente, a concretização deste sonho parece mais próxima do que nunca.
Este artigo analisa a saga da Ponte de Messina. Exploraremos sua história, o projeto de engenharia sem precedentes, os desafios monumentais e o status atual desta que é uma das obras de infraestrutura mais debatidas da Europa.
Uma ambição de 2.000 anos: a história por trás da Ponte de Messina
A ideia de uma ligação física permanente entre a Sicília e a Itália continental não é nova. As primeiras concepções remontam aos romanos, em 251 a.C., que tentaram construir uma estrutura flutuante para transportar elefantes de guerra. Ao longo dos séculos, a ideia ressurgiu, tornando-se quase mítica.
-
O carteiro francês que passou 33 anos recolhendo pedras para erguer um palácio de 26 metros de comprimento com as próprias mãos, hoje considerado uma das maiores obras de arte do mundo
-
Casas feitas de contêiner estão desafiando o mercado imobiliário em 2025 e provando que luxo, conforto e sustentabilidade cabem dentro de aço reciclado
-
Após 25 anos, Transnordestina (1.200 km) entra na reta final para cortar frete em até 35% e conectar Piauí ao Porto do Pecém
-
O Japão construiu 400 km de muros gigantes contra tsunamis, proteção ou novo problema?
No século XX, diversas propostas foram consideradas. Em 1981, foi criada a empresa estatal Stretto di Messina S.p.A. para planejar a travessia. Um projeto chegou a ser contratado no início dos anos 2000, sob o governo de Silvio Berlusconi, mas foi arquivado por governos seguintes devido a custos e riscos ambientais. Após décadas de avanços e recuos, a obra foi vigorosamente retomada pelo atual governo italiano.
Como será a maior ponte suspensa do mundo?
O projeto da Ponte de Messina é uma demonstração de proeza de engenharia. Com um vão principal projetado de 3.300 metros (3,3 km), ela se tornaria a maior ponte suspensa do mundo, superando a atual recordista, a Ponte Çanakkale 1915 na Turquia (2.023 metros).
A estrutura está projetada para tráfego misto, com três faixas de rodagem em cada sentido e uma linha férrea de via dupla. Suas duas torres de sustentação terão uma altura impressionante de 399 metros. Uma inovação central é o “Messina Type Deck”, um tipo de tabuleiro aerodinâmico de caixão triplo, projetado para garantir estabilidade contra os fortes ventos do estreito. A vida útil da estrutura é de 200 anos.
O impulso político e o status atual em 2024-2025
A reativação do projeto é uma prioridade do governo italiano. O Ministro das Infraestruturas e Transportes, Matteo Salvini, é seu principal defensor. O governo reativou a estatal Stretto di Messina S.p.A. em 2023 para supervisionar o projeto, e a construção ficará a cargo do consórcio Eurolink, liderado pela Webuild, que já havia vencido a licitação original.
O processo de aprovação avançou significativamente. Em junho de 2025, a Comissão de Avaliação de Impacto Ambiental do Ministério do Ambiente emitiu um parecer favorável, um passo crucial. A aprovação final pelo Comitê Interministerial para o Planejamento Econômico e Desenvolvimento Sustentável (CIPESS) é o próximo grande marco, aguardado para meados de 2025.
Os desafios colossais do projeto da maior ponte suspensa do mundo
Apesar do otimismo do governo, especialistas e organizações civis apontam para desafios monumentais. O Estreito de Messina é uma das áreas de maior risco sísmico da Europa, capaz de gerar terremotos de magnitude superior a 7.1 na escala de Richter. Embora o projeto contemple uma engenharia antissísmica robusta, a preocupação persiste.
Os impactos ambientais também são um ponto de intenso debate. A área é um hotspot de biodiversidade, protegida por diretivas da União Europeia, e uma rota migratória crucial para aves e cetáceos. Grupos ambientalistas questionam a eficácia das medidas de mitigação e prometem continuar a contestação legal. Outra preocupação grave é o risco de infiltração da máfia (‘Ndrangheta e Cosa Nostra) em um projeto de obras públicas desta magnitude no sul da Itália.
O futuro da conexão siciliana
Construir a maior ponte suspensa do mundo tem um custo elevado. O orçamento total estimado é de 13,5 bilhões de euros, incluindo a ponte e cerca de 40 km de infraestruturas de ligação rodoviária e ferroviária.
O financiamento virá predominantemente de fundos públicos italianos. O governo também busca cofinanciamento da União Europeia, que já contribuiu para os custos do projeto detalhado. O cronograma atual é ambicioso: o início da construção é previsto para o final de 2025, com conclusão em 2032. Contudo, o caminho à frente é complexo e depende da superação dos desafios legais, financeiros e ambientais para que o sonho de 2.000 anos se torne realidade.