Primeiro financiamento em yuan no Brasil saiu do papel neste anos de 2025, o RMB 160 milhões via ICBC Brasil para módulos e inversores do Complexo Solar Lagoinha no Ceará. A liquidação em RMB reduz exposição ao dólar.
O primeiro financiamento em yuan (RMB) para um projeto de energia no Brasil já é realidade. A CGN viabilizou a importação de módulos e inversores para o Complexo Solar Lagoinha, de 165 MW, no Ceará, por meio de uma operação de RMB 160 milhões estruturada pelo ICBC Brasil, banco autorizado a operar como clearing do yuan no país.
O caso deixa de lado o discurso e mostra um fluxo operacional concreto de desdolarização na cadeia de suprimentos de energia de acordo com o Banco Central da China.
O parque Lagoinha Solar foi inaugurado em 27 de junho de 2025 e marca um ponto de virada para empresas que compram equipamentos na Ásia. Com 304 hectares e capacidade estimada para abastecer cerca de 200 mil residências, o ativo virou vitrine de como RMB pode reduzir custo e risco cambial em etapas específicas do projeto.
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Financiamento em yuan no Brasil: o caso CGN e o papel do ICBC Brasil
A operação da CGN é de trade finance em RMB para importação de módulos e inversores Longi. Não se trata do financiamento integral da usina, mas de crédito comercial atrelado à compra de equipamentos. O ponto central é que a liquidação ocorre em yuan, alinhada ao fornecedor, evitando conversões desnecessárias e dando previsibilidade de custos.
O ICBC Brasil entrou no jogo após ser nomeado pelo People’s Bank of China como banco de compensação do RMB no Brasil em fevereiro de 2023. Essa infraestrutura reduz atritos operacionais, encurta prazos de liquidação e abre caminho para cartas de crédito em RMB com fornecedores chineses.
Do lado do ativo, o Lagoinha Solar consolida o “sinal verde” do RMB no setor elétrico brasileiro. 165 MW, 304 ha, inauguração em 27 de junho de 2025, desempenho e escala suficientes para transformar o caso num benchmark replicável para outros projetos que dependem de insumos asiáticos.
BRICS e COP30: por que o timing acelera a desdolarização verde
O tema chega com força em 2025. No BRICS de 6 a 7 de julho, no Rio, líderes reforçaram a agenda de financiamento ao desenvolvimento e uso de moedas locais. A discussão de clima e infraestrutura dominou a pauta e ampliou o espaço para estruturas alternativas de funding
Em novembro, a COP30 em Belém deve concentrar anúncios de transição energética, fundos climáticos e novas janelas de crédito. Projetos com cadeia de suprimentos chinesa ganham vantagem ao combinar rubricas verdes com liquidação em RMB quando a compra é feita na China.
O pipeline já está em formação. Em novembro de 2024, o BNDES firmou empréstimo de 5 bilhões de yuan com o China Development Bank, a primeira operação em moeda chinesa do banco de fomento. Em março de 2025, o New Development Bank assinou RMB 1,425 bilhão com a CPFL para modernização de redes em São Paulo, a primeira transação em RMB da CPFL e um marco no setor elétrico.
Custos, risco cambial e o que muda para empresas
Para quem compra equipamentos na China, casar a moeda do contrato com o fornecedor pode suavizar a volatilidade do dólar e diminuir custos de conversão. Em trade finance, cada ponto percentual de câmbio e spread faz diferença na competitividade do CAPEX e do LCOE. No caso CGN, a liquidação em RMB é o elo que fecha essa conta.
A infraestrutura para pagamentos e mensagens financeiras também evoluiu. Além do clearing local do RMB no Brasil, o CIPS amplia a conectividade internacional do yuan, enquanto os dados do SWIFT RMB Tracker mostram participação do RMB em 2,88% dos pagamentos globais em junho de 2025, mantendo a 6ª posição. Isso não substitui o dólar, mas sustenta um uso gradual e pragmático.
Há limites. Hedge, governança, compliance sancionatório e cobertura natural de receitas seguem cruciais. Se a receita estiver em real e o mix de insumos vier de múltiplas origens, a conta pode não fechar em RMB em toda a cadeia. A tendência, porém, é usar o yuan onde ele reduz atrito e risco e manter outras moedas onde fizer sentido.
E agora: quem pode ser o próximo
O setor elétrico deve seguir à frente. Após CGN e CPFL/NDB, concessionárias e geradoras com CAPEX importado tendem a testar cartas de crédito e adiantamentos em RMB em etapas específicas, especialmente em equipamentos de alto valor.
No agronegócio e na indústria, contratos de médio e longo prazo com fornecedores chineses podem migrar parte da liquidação para RMB, reduzindo a exposição ao dólar na importação de máquinas, painéis, inversores, componentes e químicos. O avanço depende de padronização documental e de bancos locais com apetite operacional.
Para investidores e gestores financeiros, o checklist de 2025 inclui cláusulas cambiais, cobertura de hedge, spreads totais e o monitoramento de anúncios em BRICS e COP30. O fato novo é claro, o Brasil já tem clearing de RMB e um caso de sucesso operacional. Isso não encerra a dominância do dólar, mas abre uma rota competitiva para projetos com cadeia asiática e selo verde.