Muitos acreditam que o pioneirismo na fabricação de carros no Brasil pertence a grandes montadoras como VW ou Ford. No entanto, o primeiro carro fabricado em solo brasileiro foi a charmosa Romi-Isetta, lançada em 1956.
A história da indústria automobilística brasileira tem um protagonista frequentemente esquecido quando se fala do primeiro carro fabricado em solo brasileiro. Contrariando a percepção popular, que muitas vezes aponta para Volkswagen ou Ford, o título de pioneiro pertence à Romi-Isetta, um pequeno carro urbano produzido pela Indústrias Romi S.A. em Santa Bárbara d’Oeste (SP) a partir de 5 de setembro de 1956.
A narrativa sobre o primeiro carro fabricado em solo brasileiro frequentemente omite seu verdadeiro protagonista. Esta história de pioneirismo e inovação de uma empresa brasileira merece ser contada, corrigindo um equívoco histórico comum.
Isetta: do design italiano do pós-guerra à ousadia da Indústrias Romi S.A
A Isetta original nasceu na Itália do pós-Segunda Guerra, um projeto da Iso SpA de Renzo Rivolta, comissionado aos engenheiros aeronáuticos Ermenegildo Preti e Pierluigi Raggi. Apresentada em 1953, a “pequena Iso” ou “carro-bolha” era um minicarro com design radical: forma de ovo, única porta frontal que levava consigo o volante e motor de motocicleta na traseira. Embora não tenha sido um grande sucesso na Itália, seu conceito inovador foi licenciado para a BMW (que a popularizou) e para a Indústrias Romi no Brasil.
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A Indústrias Romi S.A., fundada em 1930 por Américo Emílio Romi em Santa Bárbara d’Oeste (SP), evoluiu de uma oficina de reparos para uma importante fabricante de máquinas operatrizes e até do primeiro trator nacional (Toro, 1948). Em 1955, com sua expertise em mecânica e fundição, a Romi anunciou a audaciosa decisão de produzir o primeiro carro brasileiro sob licença da Iso.
A Romi-Isetta: primeiro carro fabricado em solo brasileiro
O lançamento oficial da Romi-Isetta ocorreu em 5 de setembro de 1956. A produção, iniciada um mês antes, totalizou aproximadamente 3.000 unidades até 1961. Uma robusta campanha publicitária gerou interesse e um sucesso inicial, incluindo uma caravana de 33 Romi-Isettas de São Paulo ao Rio de Janeiro em 1958.
Notavelmente, a Romi-Isetta alcançou um índice de nacionalização de 72% do peso do veículo, superando a exigência legal da época (50%). Inicialmente (1956-1958), utilizou motores Iso (2 tempos, 236cc, 9,5hp). A partir de 1959, adotou motores BMW (4 tempos, 298cc, 13hp). Compacta (cerca de 2,28m de comprimento), leve (350-360kg) e com bitola traseira estreita (eliminando a necessidade de diferencial), atingia cerca de 80-85 km/h e oferecia bom consumo (25 km/l com motor BMW).
O impacto das políticas industriais
A trajetória da Romi-Isetta foi profundamente afetada pelo Grupo Executivo da Indústria Automobilística (GEIA), criado em junho de 1956 para fomentar a produção nacional de veículos com altos índices de nacionalização, oferecendo incentivos fiscais e financeiros. No entanto, os critérios do GEIA para um veículo ser considerado “convencional” (mínimo de duas portas, capacidade para quatro ocupantes) excluíram a Romi-Isetta, que possuía uma porta frontal e menor capacidade.
Consequentemente, a Indústrias Romi foi privada desses incentivos cruciais, tornando o carro pouco competitivo. Enquanto a Romi-Isetta era obrigada a adquirir componentes importados a taxas de câmbio desfavoráveis, concorrentes como a perua Vemaguet (lançada em novembro de 1956 e frequentemente citada como o “primeiro carro nacional oficial”) beneficiavam-se do apoio do GEIA. Essa desvantagem levou ao encerramento da produção da Romi-Isetta em 1961.
Ford e Volkswagen no cenário automotivo brasileiro dos anos 50
Para entender o pioneirismo da Romi-Isetta, é vital distinguir montagem de kits importados (CKD) de fabricação com alto conteúdo local. Antes de 1956, Ford e General Motors no Brasil realizavam majoritariamente operações de montagem CKD. O primeiro veículo Ford efetivamente fabricado no Brasil foi um caminhão F-600, em agosto de 1957.
A Volkswagen iniciou a montagem da Kombi no Brasil em 1953 (CKD), com a primeira unidade com 50% de peças nacionais saindo em 1956. O Fusca começou a ser montado em 1953, mas sua fabricação nacional com conteúdo significativo só começou por volta de 1959. Assim, a Romi-Isetta detém o título específico de primeiro carro fabricado em solo brasileiro na categoria de automóveis de passageiros.
Mais que um carro
Apesar de sua breve produção, a Romi-Isetta deixou um legado significativo. Hoje, é um item de colecionador altamente valorizado, com exemplares alcançando valores superiores aos de modelos DKW da mesma época. Sua importância histórica é atestada pela presença em museus, como o Museu Eduardo André Matarazzo.
A Fundação Romi celebra ativamente a história do veículo com exposições e encontros. Em Santa Bárbara d’Oeste, sua cidade natal, um monumento homenageia a Romi-Isetta como o primeiro carro de passeio fabricado em série no Brasil. O conceito inovador da Isetta original também influenciou o design automotivo global, sendo precursor de carros urbanos modernos.
Reconhecendo a Romi-Isetta como o verdadeiro primeiro carro fabricado em solo brasileiro e seu significado histórico
A análise histórica confirma inequivocamente o status da Romi-Isetta como o primeiro automóvel de passageiros fabricado no Brasil, em 1956. Este feito da Indústrias Romi S.A. antecedeu a fabricação de automóveis de passageiros por marcas de maior renome.
Embora as políticas restritivas do GEIA tenham abreviado sua trajetória comercial, seu pioneirismo e o alto índice de nacionalização alcançado demonstram a coragem empresarial e a capacidade técnica da indústria brasileira da época. O legado da Romi-Isetta como símbolo de inovação e item de colecionador perdura, exigindo seu pleno reconhecimento na história automotiva nacional.
Amei! Sou apaixonada por esses carros antigos, agente encontra Romi Isetta aqui no Brasil?
Sem falar do Puma em Curitiba, e o Gurgel aquela época fazendo **** com fibra de bananeira, não incentivam os brasileiros.
Normal o Brasil sempre deu preferência para as multinacionais, e só ver a história da Gurgel….
Não só da Gurgel, como também do Miura fabricado em Porto Alegre