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O primeiro carro fabricado em solo brasileiro não foi um Volkswagen nem um Ford

Escrito por Bruno Teles
Publicado em 28/05/2025 às 11:31
Atualizado em 30/05/2025 às 20:39
Qual o primeiro carro fabricado em solo brasileiro? 🇧🇷 Não VW/Ford! Conheça a história da pioneira Romi-Isetta de 1956.
Qual o primeiro carro fabricado em solo brasileiro? 🇧🇷 Não VW/Ford! Conheça a história da pioneira Romi-Isetta de 1956.
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Muitos acreditam que o pioneirismo na fabricação de carros no Brasil pertence a grandes montadoras como VW ou Ford. No entanto, o primeiro carro fabricado em solo brasileiro foi a charmosa Romi-Isetta, lançada em 1956.

A história da indústria automobilística brasileira tem um protagonista frequentemente esquecido quando se fala do primeiro carro fabricado em solo brasileiro. Contrariando a percepção popular, que muitas vezes aponta para Volkswagen ou Ford, o título de pioneiro pertence à Romi-Isetta, um pequeno carro urbano produzido pela Indústrias Romi S.A. em Santa Bárbara d’Oeste (SP) a partir de 5 de setembro de 1956.

A narrativa sobre o primeiro carro fabricado em solo brasileiro frequentemente omite seu verdadeiro protagonista. Esta história de pioneirismo e inovação de uma empresa brasileira merece ser contada, corrigindo um equívoco histórico comum.

Isetta: do design italiano do pós-guerra à ousadia da Indústrias Romi S.A

A Isetta original nasceu na Itália do pós-Segunda Guerra, um projeto da Iso SpA de Renzo Rivolta, comissionado aos engenheiros aeronáuticos Ermenegildo Preti e Pierluigi Raggi. Apresentada em 1953, a “pequena Iso” ou “carro-bolha” era um minicarro com design radical: forma de ovo, única porta frontal que levava consigo o volante e motor de motocicleta na traseira. Embora não tenha sido um grande sucesso na Itália, seu conceito inovador foi licenciado para a BMW (que a popularizou) e para a Indústrias Romi no Brasil.

A Indústrias Romi S.A., fundada em 1930 por Américo Emílio Romi em Santa Bárbara d’Oeste (SP), evoluiu de uma oficina de reparos para uma importante fabricante de máquinas operatrizes e até do primeiro trator nacional (Toro, 1948). Em 1955, com sua expertise em mecânica e fundição, a Romi anunciou a audaciosa decisão de produzir o primeiro carro brasileiro sob licença da Iso.

A Romi-Isetta: primeiro carro fabricado em solo brasileiro

Qual o primeiro carro fabricado em solo brasileiro 🇧🇷 Não VWFord! Conheça a história da pioneira Romi-Isetta de 1956.

O lançamento oficial da Romi-Isetta ocorreu em 5 de setembro de 1956. A produção, iniciada um mês antes, totalizou aproximadamente 3.000 unidades até 1961. Uma robusta campanha publicitária gerou interesse e um sucesso inicial, incluindo uma caravana de 33 Romi-Isettas de São Paulo ao Rio de Janeiro em 1958.

Notavelmente, a Romi-Isetta alcançou um índice de nacionalização de 72% do peso do veículo, superando a exigência legal da época (50%). Inicialmente (1956-1958), utilizou motores Iso (2 tempos, 236cc, 9,5hp). A partir de 1959, adotou motores BMW (4 tempos, 298cc, 13hp). Compacta (cerca de 2,28m de comprimento), leve (350-360kg) e com bitola traseira estreita (eliminando a necessidade de diferencial), atingia cerca de 80-85 km/h e oferecia bom consumo (25 km/l com motor BMW).

O impacto das políticas industriais

A trajetória da Romi-Isetta foi profundamente afetada pelo Grupo Executivo da Indústria Automobilística (GEIA), criado em junho de 1956 para fomentar a produção nacional de veículos com altos índices de nacionalização, oferecendo incentivos fiscais e financeiros. No entanto, os critérios do GEIA para um veículo ser considerado “convencional” (mínimo de duas portas, capacidade para quatro ocupantes) excluíram a Romi-Isetta, que possuía uma porta frontal e menor capacidade.

Consequentemente, a Indústrias Romi foi privada desses incentivos cruciais, tornando o carro pouco competitivo. Enquanto a Romi-Isetta era obrigada a adquirir componentes importados a taxas de câmbio desfavoráveis, concorrentes como a perua Vemaguet (lançada em novembro de 1956 e frequentemente citada como o “primeiro carro nacional oficial”) beneficiavam-se do apoio do GEIA. Essa desvantagem levou ao encerramento da produção da Romi-Isetta em 1961.

Ford e Volkswagen no cenário automotivo brasileiro dos anos 50

Para entender o pioneirismo da Romi-Isetta, é vital distinguir montagem de kits importados (CKD) de fabricação com alto conteúdo local. Antes de 1956, Ford e General Motors no Brasil realizavam majoritariamente operações de montagem CKD. O primeiro veículo Ford efetivamente fabricado no Brasil foi um caminhão F-600, em agosto de 1957.

A Volkswagen iniciou a montagem da Kombi no Brasil em 1953 (CKD), com a primeira unidade com 50% de peças nacionais saindo em 1956. O Fusca começou a ser montado em 1953, mas sua fabricação nacional com conteúdo significativo só começou por volta de 1959. Assim, a Romi-Isetta detém o título específico de primeiro carro fabricado em solo brasileiro na categoria de automóveis de passageiros.

Mais que um carro

Apesar de sua breve produção, a Romi-Isetta deixou um legado significativo. Hoje, é um item de colecionador altamente valorizado, com exemplares alcançando valores superiores aos de modelos DKW da mesma época. Sua importância histórica é atestada pela presença em museus, como o Museu Eduardo André Matarazzo.

A Fundação Romi celebra ativamente a história do veículo com exposições e encontros. Em Santa Bárbara d’Oeste, sua cidade natal, um monumento homenageia a Romi-Isetta como o primeiro carro de passeio fabricado em série no Brasil. O conceito inovador da Isetta original também influenciou o design automotivo global, sendo precursor de carros urbanos modernos.

Reconhecendo a Romi-Isetta como o verdadeiro primeiro carro fabricado em solo brasileiro e seu significado histórico

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A análise histórica confirma inequivocamente o status da Romi-Isetta como o primeiro automóvel de passageiros fabricado no Brasil, em 1956. Este feito da Indústrias Romi S.A. antecedeu a fabricação de automóveis de passageiros por marcas de maior renome.

Embora as políticas restritivas do GEIA tenham abreviado sua trajetória comercial, seu pioneirismo e o alto índice de nacionalização alcançado demonstram a coragem empresarial e a capacidade técnica da indústria brasileira da época. O legado da Romi-Isetta como símbolo de inovação e item de colecionador perdura, exigindo seu pleno reconhecimento na história automotiva nacional.

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Deusélia
Deusélia
31/05/2025 09:18

Amei! Sou apaixonada por esses carros antigos, agente encontra Romi Isetta aqui no Brasil?

Paulo
Paulo
31/05/2025 07:31

Sem falar do Puma em Curitiba, e o Gurgel aquela época fazendo **** com fibra de bananeira, não incentivam os brasileiros.

José paulo
José paulo
30/05/2025 10:26

Normal o Brasil sempre deu preferência para as multinacionais, e só ver a história da Gurgel….

Dolmy Melchiades
Dolmy Melchiades
Em resposta a  José paulo
30/05/2025 16:52

Não só da Gurgel, como também do Miura fabricado em Porto Alegre

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Bruno Teles

Falo sobre tecnologia, inovação, petróleo e gás. Atualizo diariamente sobre oportunidades no mercado brasileiro. Com mais de 7.000 artigos publicados nos sites CPG, Naval Porto Estaleiro, Mineração Brasil e Obras Construção Civil. Sugestão de pauta? Manda no brunotelesredator@gmail.com

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