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O primeiro arranha-céu do Brasil nasceu com 12 andares, terminou com 30 e foi chamado de ‘loucura’: para provar a segurança, o dono Giuseppe Martinelli se mudou com a família para a cobertura e transformou o prédio em símbolo de São Paulo

Escrito por Valdemar Medeiros
Publicado em 01/10/2025 às 11:03
O primeiro arranha-céu do Brasil nasceu com 12 andares, terminou com 30 e foi chamado de loucura: para provar a segurança, o dono Giuseppe Martinelli se mudou com a família para a cobertura e transformou o prédio em símbolo de São Paulo
Foto: Prefeitura de SP
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O Edifício Martinelli, primeiro arranha-céu do Brasil, nasceu com 12 andares e terminou com 30. Chamado de loucura, teve o dono vivendo na cobertura para provar sua segurança e virou símbolo de São Paulo.

Na década de 1920, São Paulo ainda era uma cidade marcada por casarões, igrejas coloniais e edifícios de poucos andares. Mas, em meio à euforia do café e ao crescimento econômico, surgia um projeto que mudaria para sempre a paisagem urbana: o Edifício Martinelli. Inaugurado em 1929, ele nasceu com um plano modesto de 12 andares, mas terminou com impressionantes 30 pavimentos e 130 metros de altura, tornando-se o primeiro arranha-céu do Brasil e da América Latina. Sua construção foi cercada de polêmicas, dúvidas e críticas, mas também de fascínio e curiosidade.

Mais do que uma obra de engenharia, o Martinelli se tornou símbolo da audácia de um imigrante que acreditou tanto em sua visão que chegou a viver na cobertura com a família para provar que o prédio era seguro.

Giuseppe Martinelli: o imigrante que sonhou com o impossível

O protagonista dessa história foi Giuseppe Martinelli, um imigrante italiano que chegou ao Brasil em 1892. Vindo da Toscana, desembarcou em Santos com apenas 13 anos de idade e começou sua vida como trabalhador no comércio.

Com muito esforço e talento para os negócios, prosperou no setor de navegação e exportação de café, acumulando uma fortuna. Com o tempo, decidiu investir em algo que deixasse sua marca em São Paulo: um prédio monumental, inspirado nos arranha-céus que já despontavam em Nova York e Chicago.

Para Martinelli, a obra seria mais do que um investimento imobiliário. Seria um símbolo do progresso paulista e uma prova de que o Brasil poderia rivalizar com as grandes potências urbanas do mundo.

Doze andares? Não bastavam para Martinelli

O projeto inicial previa um edifício de 12 andares — que já seria ousado para os padrões da época. Mas Martinelli não se contentou. Ordenou que o prédio fosse ampliado para 20 pavimentos, depois novamente modificado até alcançar os 30 andares.

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Essa insistência gerou polêmica. Engenheiros diziam que a construção era perigosa, autoridades municipais tentaram embargar a obra e jornais noticiavam que o prédio poderia desabar.

Mesmo assim, Martinelli bancou do próprio bolso a ampliação, gastando valores milionários para os padrões da época. Estima-se que o custo total da obra tenha ultrapassado o equivalente a US$ 5 milhões da década de 1920.

O escândalo e o gesto que fez história

Com 130 metros de altura, o Martinelli era considerado por muitos uma “loucura arquitetônica”. A desconfiança era tanta que boatos diziam que o prédio já apresentava rachaduras e poderia ruir a qualquer momento.

Para calar os críticos, Giuseppe Martinelli tomou uma decisão radical: mudou-se para a cobertura do edifício junto com a família.

O gesto foi um desafio público. Se o prédio caísse, ele cairia junto. Durante anos, Martinelli viveu no topo do arranha-céu, transformando sua casa em um manifesto de confiança. A cobertura ficou conhecida como o “palácio suspenso” do empresário, e virou símbolo da ousadia por trás da construção.

O Martinelli e o Edifício A Noite: quem foi o primeiro?

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Um ponto de confusão comum é a comparação entre o Martinelli e o Edifício A Noite, no Rio de Janeiro.

  • Edifício Martinelli (São Paulo, 1929): primeiro arranha-céu do Brasil e da América Latina, com 30 andares e uso misto (hotel, residências e escritórios).
  • Edifício A Noite (Rio de Janeiro, 1930): primeiro arranha-céu comercial de concreto armado, com 22 andares e 102 metros de altura, sede de jornais e da famosa Rádio Nacional.

Ou seja, ambos foram pioneiros em categorias diferentes: o Martinelli como primeiro arranha-céu brasileiro, e o A Noite como primeiro arranha-céu comercial de concreto armado.

Uma cidade vertical no coração de São Paulo

O Martinelli era mais do que um prédio alto: era praticamente uma cidade vertical.

  • Hotel São Bento: luxuoso, hospedou empresários, políticos e artistas.
  • Apartamentos residenciais: ocupados por famílias de elite.
  • Comércios internos: restaurantes, barbearias, consultórios, escritórios de advocacia.
  • Espaços de lazer: cassino e cinema, que reforçavam o glamour do prédio.

Nos anos 1930, morar ou trabalhar no Martinelli era sinal de status e modernidade.

O auge, a decadência e a recuperação

Por décadas, o Martinelli foi sinônimo de sofisticação. Mas, a partir dos anos 1950, com o crescimento desordenado da cidade e o deslocamento do centro econômico de São Paulo, o prédio entrou em decadência.

Nos anos 1960 e 1970, chegou a ser ocupado irregularmente e sofreu com falta de manutenção. Houve até quem dissesse que sua era havia acabado.

Foi apenas a partir de 1975, quando a Prefeitura de São Paulo assumiu o edifício, que começou a restauração. Hoje, o Martinelli é patrimônio histórico, abriga repartições públicas e está aberto para visitas turísticas, oferecendo uma das vistas mais emblemáticas da capital paulista.

Estilo arquitetônico e curiosidades

O edifício foi projetado pelo arquiteto William Fillinger, com estilo eclético, misturando elementos do renascimento italiano com linhas modernas. Alguns detalhes curiosos marcam sua história:

  • Martinelli mandou construir uma mansão luxuosa na cobertura, com salões, quartos e jardins suspensos.
  • O prédio foi chamado de “bolo de noiva” por alguns críticos, devido à sua ornamentação.
  • Durante décadas, era o primeiro ponto visível da cidade para quem chegava de trem à Estação da Luz.

Comparações internacionais

Na época, o Martinelli rivalizava com arranha-céus icônicos como o Woolworth Building (Nova York, 241 metros) e antecipava a era do Empire State Building (1931, 381 metros).

Embora hoje esteja distante dos gigantes como o Burj Khalifa (828 metros, Dubai), o Martinelli continua sendo lembrado como o marco fundador da verticalização brasileira.

Mais do que um edifício, o Martinelli simboliza a coragem e a ambição de um imigrante que acreditou no Brasil. Sua história resume a ousadia de São Paulo em se tornar uma metrópole moderna.

O gesto de Martinelli, mudando-se para a cobertura para provar a segurança, ecoa até hoje como um exemplo de confiança absoluta em sua visão.

Quase um século depois, o prédio segue de pé, desafiando o tempo, a crítica e a incredulidade de quem um dia o chamou de loucura.

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Valdemar Medeiros

Formado em Jornalismo e Marketing, é autor de mais de 20 mil artigos que já alcançaram milhões de leitores no Brasil e no exterior. Já escreveu para marcas e veículos como 99, Natura, O Boticário, CPG – Click Petróleo e Gás, Agência Raccon e outros. Especialista em Indústria Automotiva, Tecnologia, Carreiras (empregabilidade e cursos), Economia e outros temas. Contato e sugestões de pauta: valdemarmedeiros4@gmail.com. Não aceitamos currículos!

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