Entre o aumento do uso de aço automotivo, as novas regras de IPI e o impacto do tarifaço global, o preço dos carros no Brasil segue em trajetória de alta e pressiona cada vez mais o bolso da população
Nos últimos anos, o brasileiro que pensa em trocar de carro tem enfrentado uma realidade dura: os preços dispararam e não dão sinais de recuo. Em 2016, por exemplo, o Fiat Mobi custava R$ 31.900. Hoje, o mesmo modelo zero quilômetro sai a partir de R$ 79.060 — uma alta de 148%, enquanto a inflação oficial, medida pelo IPCA, foi de 63% no período. Essa diferença expõe um fenômeno que afeta o bolso diretamente: o preço dos carros cresce bem acima da média da economia.
O movimento não é obra do acaso. Três fatores se combinam para empurrar os valores para cima: mais equipamentos de segurança (que aumentam peso e exigem mais aço automotivo), alterações no IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e as tarifas internacionais conhecidas como “tarifaço”.
Segurança e aço automotivo: proteção que custa caro
O carro popular de duas décadas atrás era mais simples, leve e barato de produzir. Em 2000, um Fiat Uno Mille pesava 765 kg; em 2010, esse número subiu para 830 kg. Já os modelos atuais ultrapassam facilmente a barreira de 1.000 kg. Esse ganho de peso está ligado à incorporação de equipamentos obrigatórios de segurança.
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Desde 2014, os carros novos vendidos no Brasil precisam trazer airbags duplos e freios ABS. A partir de 2020, o controle eletrônico de estabilidade passou a ser exigido, e em 2021 chegaram os faróis de rodagem diurna. A União Europeia também adotou pacotes robustos de tecnologias de proteção, influenciando padrões mundiais.
Essas exigências tornam os veículos mais seguros, mas também mais caros. Reforçar a estrutura significa adicionar aço automotivo, um material que pode variar entre R$ 9 e R$ 35 por quilo. Se um carro ganhou 265 kg em relação ao modelo de duas décadas atrás, esse acréscimo representa R$ 6.625 apenas em custo de aço, considerando um preço médio de R$ 25/kg.
Além disso, o preço do insumo triplicou de 2000 a 2020: a tonelada do vergalhão passou de R$ 200 para R$ 600. O resultado é claro: o consumidor paga pela soma de mais equipamentos, mais aço e pelo aumento do valor do aço em si.
IPI: promessa de alívio que pode não chegar ao consumidor
Outro componente dessa equação é o IPI. O governo federal anunciou que até 2026 alguns carros terão alíquota zerada, mas com critérios rigorosos. Entre eles estão tipo de propulsão, eficiência energética, potência, nível de segurança e reciclabilidade.
Na prática:
- veículos 100% elétricos recebem redução de 2% no IPI;
- modelos a gasolina terão aumento para 6,5%;
- os a diesel passam de 12% para 18%;
- os flex, que representam 76,2% da frota, não sofrem mudanças;
- os híbridos, que correspondem a 0,6%, podem ter aumento ou redução dependendo da configuração.
Carros abaixo de 115,5 cavalos de potência podem obter descontos, desde que cumpram outros requisitos. A alíquota-base mencionada para os automóveis é de 6,3%.
Apesar disso, especialistas lembram que as montadoras nem sempre repassam o benefício ao comprador. Muitas vezes, a redução tributária é incorporada como margem de lucro. Isso significa que, mesmo com o incentivo, o preço dos carros pode continuar subindo para a maioria dos modelos.
Tarifaço internacional: efeito global que chega à concessionária
O terceiro fator é externo. A adoção de tarifas comerciais, em especial nos Estados Unidos, provocou mudanças na indústria automotiva mundial. O chamado “tarifaço” encarece veículos importados e força montadoras a redirecionarem sua produção para outros mercados.
O Brasil surge como destino provável para parte desse excedente. Em tese, maior oferta poderia reduzir preços. Mas a realidade é mais complexa: esses carros chegam com tarifas embutidas, o que pressiona o valor final. Além disso, o Brasil exporta 48% do seu aço para os EUA, também com tarifa e depois reimporta veículos que utilizam esse mesmo aço. O ciclo tarifário eleva custos em cada etapa.
Recentemente houve um alívio parcial, com a redução da alíquota sobre manufaturados de aço e alumínio brasileiros de 50% para 25%. Mesmo assim, a carga continua maior do que no passado. Isso mantém a tendência de preços elevados, tanto para veículos novos quanto usados.
E agora: qual a saída para o consumidor?
Com esses três fatores combinados, mais segurança, aço automotivo caro, mudanças no IPI e tarifaço, o cenário aponta para a continuidade da escalada de preços. Se os novos encarecem, os usados também acompanham, já que a demanda cresce nesse segmento.
Para quem planeja comprar, a recomendação é atenção redobrada. Comparar versões, observar ficha técnica, potência e equipamentos pode fazer diferença na tributação e, consequentemente, no valor final. Além disso, acompanhar o mercado de aço e políticas comerciais ajuda a entender por que os preços não cedem.
O brasileiro está pagando mais por carros que, sim, são mais seguros e tecnológicos, mas que também refletem uma cadeia global de custos e tarifas. O preço dos carros dificilmente voltará aos patamares de anos atrás.