A escalada dos preços dos carros no Brasil revela mudanças estruturais na indústria, combinando exigências de segurança, encarecimento do aço e novas regras tributárias que afetam diretamente o consumidor.
Em vídeo publicado nesta terça-feira (9), o investidor Thiago Nigro, do canal Primo Rico, afirmou que “existe uma grande chance de, nos próximos meses, os preços dos carros começarem a disparar”.
Para sustentar o alerta, ele comparou a trajetória do Fiat Mobi desde o lançamento, em abril de 2016, até hoje, e relacionou três vetores de pressão: carros mais pesados por causa de equipamentos de segurança, encarecimento do aço e novas regras tributárias.
Segundo ele, a combinação desses fatores tende a manter os valores em alta.
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Fiat Mobi exemplifica a escalada de preços
Nigro usou o Mobi como termômetro.
Quando chegou às lojas, em 13 de abril de 2016, o subcompacto partia de R$ 31.900.
No site oficial da marca, o preço de entrada hoje aparece “a partir de R$ 80.060”, valor que tem sido repetido em comunicações e ofertas de concessionárias.
Na prática, trata-se de um avanço de cerca de 151% desde o lançamento.
Em seu vídeo, o criador compara esse salto com a inflação oficial do período e diz que o IPCA acumulado de abril de 2016 até agora ficou na casa de pouco mais de 60%, ou seja, bem abaixo do avanço do Mobi.
Ainda que cada modelo tenha dinâmica própria de preço, a defasagem reforça a percepção de que o mercado automotivo encareceu acima da média da economia, avaliação recorrente entre especialistas.
“Os preços subiram e não voltaram ao normal”, resume Nigro, ao defender que a alta é estrutural, não apenas conjuntural.
Para ele, três motores explicam o movimento, sendo o primeiro o aumento de massa dos veículos por conta das exigências de segurança.
Carros mais pesados e exigências de segurança
O argumento do aumento de peso aparece vinculado a marcos regulatórios.
Airbags frontais duplos e freios ABS passaram a ser obrigatórios em todos os carros novos em 2014, por decisão do Contran.
Anos depois, o controle eletrônico de estabilidade (ESC) e as luzes de rodagem diurna (DRL) também se tornaram itens compulsórios: a implantação plena para todos os modelos vendidos no Brasil ocorreu em janeiro de 2024, após um cronograma iniciado em 2020 para novos projetos.
Nigro sustenta que, para acomodar sistemas ativos e passivos de segurança, as montadoras reforçam carrocerias e estruturas, o que acrescenta quilos e amplia o uso de materiais como o aço.
A evolução do Fiat Uno ilustra a tendência: o Uno Mille 2000 tinha peso de catálogo em torno de 765 kg.
Em 2010, a versão Mille Fire chegava perto de 830 kg.
Já o Uno 2020 (linhas Attractive/Drive 1.0) supera 950 kg e pode alcançar 1.010 kg, a depender da configuração.
Na Europa, o pacote de segurança conhecido como GSR2 elevou a barra a partir de julho de 2022, com a inclusão de tecnologias como frenagem autônoma de emergência e assistentes de permanência em faixa.
Custo do aço pressiona a indústria automotiva
O segundo vetor apontado por Nigro é o custo do aço, insumo central na fabricação de veículos.
No mercado internacional, a commodity passou por forte volatilidade desde a pandemia, com picos em 2021 e oscilações recentes.
No Brasil, indicadores de construção mostram o quilo do aço comum próximo a R$ 9 em 2024/2025, com variações por estado e por tipo de produto.
O setor automotivo, no entanto, utiliza ligas específicas e de maior valor agregado.
De acordo com o analista, quando o aço sobe, as montadoras tendem a repassar parte do aumento ao preço final, sobretudo em segmentos de margem estreita.
Essa pressão se soma ao encarecimento de sistemas eletrônicos e sensores embarcados, que ampliaram a participação de componentes de maior valor tecnológico no custo total dos veículos.
Novas regras do IPI e impacto no consumidor
O terceiro eixo citado por Nigro envolve regras tributárias.
Em 10 de julho de 2025, o governo federal regulamentou no âmbito do programa MOVER um novo modelo de IPI para o setor automotivo.
O decreto zerou o IPI para a categoria de “Carro Sustentável”, isto é, compactos fabricados no Brasil que atendam requisitos como baixa emissão de CO₂, nível mínimo de reciclabilidade e padrões de segurança.
Para os demais, foi definida uma alíquota-base de 6,3%, ajustada por critérios de eficiência, tipo de propulsão, potência, segurança e reciclabilidade, com validade até dezembro de 2026.
“Alguns modelos podem ficar mais baratos; outros, mais caros”, diz Nigro, avaliando que o efeito líquido para o consumidor não é automático e depende de repasses pelas montadoras.
O governo estima que cerca de 60% dos veículos vendidos em 2024 tendam a obter redução de IPI com as novas regras.
O benefício pleno, no entanto, se concentra nos compactos altamente eficientes e produzidos localmente.
Tarifas dos EUA e reflexos no mercado brasileiro
Nigro também menciona o “tarifaço do Trump” como um elemento adicional de incerteza.
Em fevereiro de 2025, os Estados Unidos voltaram a impor 25% de tarifa sobre importações de aço e alumínio, medida que atingiu parceiros como o Brasil.
Meses depois, o MDIC registrou que uma tarifa adicional de 50% foi aplicada a uma lista ampla de produtos, com algumas exceções.
Além disso, a Suprema Corte americana decidiu revisar a legalidade do pacote tarifário em julgamento marcado para novembro de 2025.
O impacto não se limita ao comércio de veículos.
Os EUA absorvem parcela relevante do aço brasileiro — em 2022, foram cerca de 49% das exportações do setor — e o Brasil é grande fornecedor de semiacabados para a indústria siderúrgica norte-americana.
Alterações tarifárias tendem a redirecionar fluxos e mexer nos preços internos de insumos, o que pode refletir no custo dos carros vendidos no país.
O que esperar do mercado automotivo
Na avaliação de Nigro, mesmo com eventuais descontos tributários em nichos específicos, a soma de exigências de segurança, maior conteúdo de aço e volatilidade externa mantém a pressão de alta sobre os carros 0 km.
Ele acrescenta que, quando o novo tende a encarecer, o mercado de usados fica mais demandado — e os preços de seminovos sobem na esteira.
“Se o custo de produção aumenta, o valor final ao consumidor também sobe”, resumiu.
O vídeo foi publicado no dia 9 de setembro de 2025, no canal Primo Rico, e alterna dados históricos, marcos regulatórios e efeitos esperados das medidas tarifárias sobre a cadeia automotiva.
Para o público que já possui veículo ou planeja comprar, a recomendação do influenciador é acompanhar promoções pontuais e condições de fábrica, que podem atenuar parte da alta, mas não mudam a tendência de fundo.
Diante desse cenário, como o consumidor deve se planejar para lidar com um carro novo cada vez mais caro?