Uma série de descobertas de Pré-Sal da África desde 2022, feitas pela Shell e TotalEnergies, criou um novo eldorado para a indústria mundial
De ‘cemitério’ de poços secos a eldorado do petróleo. Em um piscar de olhos, a costa da Namíbia tornou-se o lugar mais quente do planeta para a indústria. Uma sequência de descobertas de classe mundial, iniciada em 2022, revelou um potencial que já está sendo chamado de Pré-Sal da África. O volume estimado de 11 bilhões de barris na Bacia de Orange atraiu as maiores empresas do mundo, incluindo a Petrobras, que já entrou na corrida.
Lideradas pelas gigantes europeias Shell e TotalEnergies, e mais tarde confirmadas pela portuguesa Galp, as descobertas são tão significativas que rivalizam com as da Guiana e do próprio pré-sal brasileiro. A corrida agora não é mais para encontrar petróleo, mas para ver quem consegue extraí-lo primeiro e de forma economicamente viável.
A virada de 2022, as descobertas da Shell e TotalEnergies que mudaram o jogo
Por mais de 50 anos, a busca por petróleo na Namíbia foi uma história de fracassos. Tudo mudou em fevereiro de 2022. No dia 4, a Shell anunciou a descoberta de petróleo leve no poço Graff-1X. Vinte dias depois, em 24 de fevereiro, foi a vez da TotalEnergies anunciar uma “descoberta significativa” no poço Venus-1X, descrita como a maior da África Subsaariana.
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Esses dois anúncios, feitos em um intervalo de menos de um mês por duas das maiores empresas do setor, confirmaram que havia um sistema petrolífero gigante e funcional sob as águas da Namíbia. A notícia eletrificou a indústria global e deu início a uma verdadeira corrida do ouro na região.
Mopane, o gigante da Galp que confirmou a escala mundial da bacia
Se as descobertas de 2022 abriram a porta, foi a empresa portuguesa Galp que a escancarou. Ao longo de 2024, a Galp perfurou com sucesso o poço Mopane, cuja estimativa de recursos é de pelo menos 10 bilhões de barris de óleo equivalente.
Esta descoberta, por si só, tem o potencial de triplicar o tamanho da economia da Namíbia, colocando a Bacia de Orange em um novo patamar. O volume total de recursos já descobertos na Namíbia se aproxima dos 20 bilhões de barris, um número que compete diretamente com as reservas que transformaram a Guiana em uma nova potência petrolífera.
Por que a Petrobras entrou na corrida do novo Pré-Sal da África?
O sucesso na Namíbia soou como um ‘déjà vu’ para os geólogos da Petrobras. Com sua experiência inigualável no pré-sal brasileiro, a estatal viu na costa africana um espelho geológico e agiu rápido. No final de 2024, a estatal brasileira anunciou a aquisição de participação em blocos de exploração na região, bem ao lado das grandes descobertas.
A estratégia da Petrobras é baseada na teoria da “margem conjugada”. Esta teoria afirma que a costa da Namíbia e a do Brasil já estiveram conectadas no supercontinente Gondwana. Portanto, a geologia que deu origem ao pré-sal brasileiro tem uma grande chance de se repetir do outro lado do Atlântico, no chamado “Pré-Sal” da África.
Geologia semelhante, mas não igual, o que diferencia a Namíbia do Brasil
Apesar da analogia com o pré-sal, existem diferenças técnicas cruciais. A rocha que gerou o petróleo em ambas as regiões é muito parecida, formada na mesma época geológica. No entanto, o tipo de rocha onde o óleo ficou armazenado (o reservatório) é diferente.
No Brasil, os famosos reservatórios do pré-sal são de rochas carbonáticas (calcário). Já na Namíbia, as descobertas até agora foram em arenitos, formados por um processo chamado de turbiditos. Essa diferença, embora técnica, muda completamente a estratégia de perfuração e produção, exigindo tecnologias e abordagens distintas.
Bilhões em petróleo, mas e o lucro? O risco agora é comercial
Com uma taxa de sucesso de perfuração superior a 80%, encontrar petróleo na Namíbia deixou de ser o principal desafio. A grande questão agora é comercial: é possível extrair esse óleo de forma lucrativa? Uma prova disso veio em janeiro de 2025, quando a Shell anunciou uma baixa contábil de 400 milhões de dólares em suas descobertas, citando-as como “comercialmente inviáveis” no momento.
Os principais obstáculos são as condições extremas. O petróleo está em águas ultraprofundas, a mais de 3.000 metros de profundidade, e os reservatórios estão a mais de 6.000 metros abaixo do leito do mar. Além disso, as rochas têm baixa permeabilidade em alguns locais e o petróleo tem um alto teor de gás, o que torna a extração mais complexa e cara. Para a Namíbia, a chave para transformar o potencial do ‘Pré-Sal’ da África em realidade não está apenas em dominar a engenharia do fundo do mar, mas em evitar em terra firme a ‘maldição do petróleo’ que já acometeu outras nações.