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O polêmico ‘Mar de Plástico’ no deserto da Espanha: 32 mil hectares de estufas que transformaram Almeria na horta da Europa e podem ser vistos até do espaço, segundo a NASA

Escrito por Débora Araújo
Publicado em 18/08/2025 às 10:38
O polêmico ‘Mar de Plástico’ no deserto da Espanha
O polêmico ‘Mar de Plástico’ no deserto da Espanha
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Descubra o “Mar de Plástico” no deserto da Espanha: a horta da Europa visível do espaço, que gera bilhões em exportações, mas enfrenta críticas ambientais e sociais.

O chamado “Mar de Plástico”, no sul da Espanha, é um fenômeno agrícola e econômico que ganhou destaque mundial. Localizado entre as cidades de El Ejido e Almeria, esse gigantesco complexo de estufas ocupa 32 mil hectares de terra, o equivalente a 44 mil campos de futebol, e é a única construção humana visível a olho nu do espaço, segundo a Nasa.

Sob os telhados brancos de plástico, são produzidas anualmente quatro milhões de toneladas de alimentos, como tomates, pimentões, pepinos, melancias e melões. Mais da metade dessa produção é destinada à exportação, consolidando o local como a horta da Europa.

Agricultura em uma das regiões mais áridas da Europa

A singularidade do “Mar de Plástico” é ainda mais evidente quando se considera a geografia da região. A província de Almeria está entre as áreas mais secas do continente europeu, com média de apenas 54 dias de chuva por ano.

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Nos anos 1950, diante da dificuldade de transformar o deserto em fonte de renda, o governo espanhol investiu em soluções inovadoras. A chave foi o uso de aquíferos subterrâneos e a adaptação de modelos de estufas holandesas, substituindo o vidro por plástico, material mais resistente aos fortes ventos locais.

O resultado foi a transformação de uma terra árida em um polo agrícola que, atualmente, responde por cerca de 18% das exportações agrícolas da Espanha.

Motor econômico e geração de empregos

Hoje, o “Mar de Plástico” é um dos pilares da economia de Almeria. A atividade agrícola movimenta cerca de US$ 5,1 bilhões por ano, representando 40% do Produto Interno Bruto (PIB) da região. Além disso, gera aproximadamente 100 mil empregos diretos e indiretos, tornando-se tão importante quanto o turismo local.

Os principais mercados consumidores dos produtos cultivados nas estufas espanholas estão na Alemanha, Reino Unido, França, Itália e até nos Estados Unidos.

Tradição agrícola e exportadora

O sucesso da região não surgiu de forma repentina. Já no século 19, Almeria exportava uvas e outros produtos para o Reino Unido, conhecidos pela qualidade artesanal. Essa vocação agrícola, somada ao investimento em tecnologias de irrigação e cultivo protegido, consolidou o caminho para a produção intensiva que se vê hoje.

Atualmente, existem cerca de 12 mil propriedades agrícolas na região, muitas delas de pequeno e médio porte, mas integradas a um sistema de exportação globalizado.

Tecnologias de irrigação e cultivo

Um dos segredos da alta produtividade está no uso da irrigação por gotejamento, técnica que permite economia significativa de água. Segundo associações de produtores locais, Almeria utiliza cerca de 60% menos água em comparação com outros polos agrícolas do mundo.

Além disso, o uso da areia para melhorar a retenção de água no solo ajudou a superar a aridez. Essa combinação de técnicas transformou o deserto em uma das áreas agrícolas mais férteis da Europa.

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Críticas ambientais: água e plástico em excesso

Apesar dos avanços, especialistas e ambientalistas levantam preocupações sobre o futuro do “Mar de Plástico”. Um dos pontos críticos é a superexploração dos aquíferos, que já apresentam sinais de esgotamento.

Somente as estufas consomem cerca de 1,3 bilhão de litros de água por ano. O aquífero de Níjar, por exemplo, é explorado além da sua capacidade de regeneração há mais de duas décadas.

Outro problema crescente é a produção de resíduos plásticos. Estima-se que as estufas gerem 30 mil toneladas de plástico por ano, das quais apenas 85% são recicladas. O acúmulo de microplásticos já foi detectado em ecossistemas marinhos próximos, como no Mar de Alboran e no Cabo de Gata.

Questões sociais e condições de trabalho

Além dos impactos ambientais, há críticas relacionadas às condições sociais e trabalhistas. Cerca de 60% da mão de obra é formada por migrantes, principalmente do norte da África. Relatórios de organizações de direitos humanos apontam que parte desses trabalhadores enfrenta exploração, moradias precárias e salários baixos.

Estima-se que aproximadamente 25 mil pessoas trabalhem sem contrato formal. Mesmo aqueles que possuem vínculo empregatício muitas vezes vivem em casas improvisadas, sem acesso adequado a água e eletricidade.

Essas condições alimentam tensões sociais em cidades como El Ejido, onde quase um terço da população é composta por estrangeiros. Paradoxalmente, apesar de apresentar um dos menores índices de desemprego da Andaluzia, a região está entre as mais pobres da Espanha em termos de distribuição de renda.

O desafio da sustentabilidade

Diante desse cenário, especialistas e acadêmicos locais defendem que o modelo de produção precisa passar por ajustes para se tornar sustentável. Isso inclui:

  • Uso mais racional da água
  • Redução da produção intensiva
  • Melhoria das condições de trabalho
  • Gestão eficiente dos resíduos plásticos

Associações de produtores afirmam que já estão ampliando o uso de fontes alternativas de água, como usinas de dessalinização e reaproveitamento da chuva. Também destacam que as condições laborais têm melhorado nos últimos anos, com maior número de contratos regulares para estrangeiros.

Entre o milagre e a contradição

O “Mar de Plástico” simboliza um milagre agrícola, capaz de transformar uma das regiões mais áridas da Europa em fornecedora de alimentos para milhões de pessoas.

Por outro lado, também expõe contradições: riqueza econômica que não se reflete totalmente no bem-estar da população local, riscos ambientais ligados ao uso da água e acúmulo de resíduos plásticos, além das tensões sociais decorrentes da presença maciça de trabalhadores migrantes.

O futuro do “Mar de Plástico” dependerá da capacidade da Espanha de equilibrar produtividade, sustentabilidade ambiental e justiça social.

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Débora Araújo

Débora Araújo é redatora no Click Petróleo e Gás, com mais de dois anos de experiência em produção de conteúdo e mais de mil matérias publicadas sobre tecnologia, mercado de trabalho, geopolítica, indústria, construção, curiosidades e outros temas. Seu foco é produzir conteúdos acessíveis, bem apurados e de interesse coletivo. Para sugestões de pauta, correções ou contato direto: deborasthefanecruz@gmail.com

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