Segundo o NeoFeed, o plano das ferrovias inteligentes pretende transformar trechos abandonados da malha federal em ativos logísticos estratégicos, com modelo inédito que mistura concessão e autorização ferroviária, R$ 500 milhões já garantidos na Fiol 2 e sete leilões marcados para 2026.
O plano das ferrovias inteligentes é a nova aposta do governo federal para destravar o setor logístico e aproveitar 10 mil km de trilhos hoje ociosos da malha federal. A proposta, apresentada pelo secretário nacional de Ferrovias, Leonardo Ribeiro, ao NeoFeed, traz uma inovação regulatória: o uso de PPPs híbridas, modelo que combina características de concessão tradicional com autorizações simplificadas.
Na prática, esse formato permite atrair empresas privadas com menos burocracia e menor custo regulatório, sem abrir mão de segurança jurídica. A ideia é dar utilidade a trechos devolvidos ou abandonados, ampliando a capacidade de transporte de cargas e até de passageiros. O governo prevê publicar o primeiro chamamento público em março de 2026, com expectativa de sete leilões no mesmo ano — um movimento ousado e decisivo, já que será o último ano do atual mandato.
O desafio de recuperar 10 mil km parados
Segundo o Ministério dos Transportes, o Brasil convive com milhares de quilômetros de ferrovias inutilizados ou subaproveitados por concessionárias privadas.
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Entre os exemplos está o corredor Minas-Rio, com cerca de 500 km entre Arcos (MG) e Barra Mansa (RJ), devolvido pela VLI Logística.
Esse será o primeiro trecho a ser testado no novo modelo, abrindo espaço para transformar passivo em ativo estratégico.
A lógica é clara: sem recuperar os trilhos já existentes, não há como avançar em eficiência logística.
O objetivo central é reduzir a dependência do transporte rodoviário, que responde por mais de 60% da matriz nacional, encarece fretes e aumenta a emissão de gases de efeito estufa.
Sete leilões em 2026: da Ferrogrão às linhas urbanas
O cronograma do plano das ferrovias inteligentes já lista sete projetos estratégicos para 2026.
Entre eles, a Ferrogrão, de 933 km entre Sinop (MT) e Miritituba (PA), engavetada por mais de uma década por impasses ambientais. Também aparecem no pacote:
Linha Brasília–Luziânia (70 km), voltada ao transporte de passageiros;
Linha Salvador–Feira de Santana (115 km), outra aposta em mobilidade urbana;
Estrada de Ferro Vitória–Rio (EF-118), com potencial para cargas e passageiros;
Malha Oeste, atualmente em relicitação após devolução da Rumo Logística;
Corredor Minas-Rio, citado como projeto-piloto das PPPs híbridas;
Fiol 2, trecho essencial do corredor Fico-Fiol, em fase final de obras.
Esse conjunto cobre desde o agronegócio no Centro-Oeste até a mobilidade urbana no Nordeste, além de conectar o Sudeste industrial e preparar o caminho para a rota bioceânica até o Peru.
Fiol 2: a vitrine do novo modelo
Entre os leilões previstos, o da Fiol 2 é considerado prioritário.
O trecho de 500 km na Bahia tem 70% das obras concluídas e exige R$ 500 milhões em investimentos privados para a finalização de apenas 35 km entre Guanambi e Caetité.
A Fiol 2 integra o corredor Fico-Fiol, que terá 2.700 km ligando Lucas do Rio Verde (MT) ao porto de Ilhéus (BA), cruzando o Brasil de leste a oeste.
O projeto está conectado à rota bioceânica até o porto de Chancay, no Peru, controlado pela chinesa Cosco, com potencial de movimentar até 50 milhões de toneladas de grãos e minério por ano.
A conclusão desse trecho é vital para o escoamento do agronegócio e para a estratégia de integração logística do país.
Financiamento: contas vinculadas e investimento cruzado
Um dos maiores entraves ao setor ferroviário sempre foi o financiamento de longo prazo.
Para viabilizar o plano das ferrovias inteligentes, o Ministério dos Transportes aposta em dois mecanismos novos:
Contas vinculadas, que permitem reinvestir receitas de concessões e autorizações diretamente em novos projetos ferroviários;
Investimento cruzado, em que concessionárias repactuam contratos e aportam recursos em obras prioritárias, em vez de repassar valores diretamente ao Tesouro.
Essas soluções buscam reduzir a dependência do orçamento público, aumentando a liquidez e dando previsibilidade ao setor privado.
Impactos esperados e riscos do projeto
Se executado, o plano pode gerar milhares de empregos regionais, melhorar a competitividade logística do agronegócio e reduzir custos de transporte no médio prazo.
Projetos de passageiros podem trazer impactos positivos em mobilidade urbana, desenvolvimento imobiliário e qualidade de vida em regiões metropolitanas.
Mas os riscos são claros.
O retorno financeiro lento pode afastar investidores, e a execução de sete leilões em um único ano eleitoral levanta dúvidas sobre prazos e capacidade de entrega.
Outro desafio é a infraestrutura de apoio: o porto de Ilhéus, por exemplo, ainda precisa de investimentos robustos após o fracasso da concessão anterior.
O plano das ferrovias inteligentes simboliza a tentativa de transformar 10 mil km de trilhos parados em novos corredores de carga e passageiros, ao mesmo tempo em que resgata megaprojetos como a Ferrogrão e a Fiol 2.
Se dará certo ou não, dependerá da adesão do setor privado e da execução em um calendário apertado.
E você, acredita que esse modelo híbrido pode finalmente destravar a malha ferroviária brasileira? Ou considera que os riscos e a lentidão do setor podem comprometer o plano? Deixe sua opinião nos comentários — queremos ouvir quem acompanha de perto o impacto da logística no Brasil.