1. Início
  2. / Petróleo e Gás
  3. / O plano audacioso que salvou o país do colapso, o programa que desafiou a crise mundial do petróleo e hoje move a maior frota de carros flex
Tempo de leitura 5 min de leitura Comentários 0 comentários

O plano audacioso que salvou o país do colapso, o programa que desafiou a crise mundial do petróleo e hoje move a maior frota de carros flex

Escrito por Carla Teles
Publicado em 02/07/2025 às 14:23
O plano audacioso que salvou o país do colapso, o programa que desafiou a crise mundial do petróleo e hoje move a maior frota de carros flex
Conheça a arma secreta do Brasil contra a crise mundial do petróleo. Veja como o Proálcool transformou a cana em combustível, salvou o país e criou a maior frota flex do mundo.
Seja o primeiro a reagir!
Reagir ao artigo

Conheça a história do Proálcool, o programa que nasceu da necessidade na crise mundial do petróleo e hoje move a maior frota de carros flex do planeta.

No início da década de 1970, o Brasil estava à beira de um colapso econômico. O “Milagre Econômico” foi construído sobre uma perigosa dependência do petróleo importado. A crise mundial do petróleo de 1973 expôs essa fragilidade de forma brutal. Em resposta, o país lançou um dos planos mais audaciosos de sua história: o Programa Nacional do Álcool (Proálcool). Não nasceu de uma consciência ambiental, mas de uma necessidade desesperada de sobrevivência econômica e soberania.

Como a crise mundial do petróleo ameaçou a economia brasileira

O Brasil vivia o fim de seu “Milagre Econômico” (1968-1973). A rápida industrialização dependia massivamente de petróleo importado, que representava cerca de 80% do consumo nacional. Essa dependência era o calcanhar de Aquiles da economia.

Em 1973, o primeiro choque do petróleo atingiu o mundo. O preço do barril quadruplicou em poucos meses. Para o Brasil, o impacto foi catastrófico. O custo com a importação de petróleo saltou de US$ 600 milhões em 1973 para US$ 2,5 bilhões em 1974. Isso gerou um déficit gigantesco na balança comercial e disparou a inflação de 15,5% para 34,5% em apenas um ano.

Pai e filho sorrindo ao fundo de arte promocional da Shopee para o Dia dos Pais, com produtos e caixas flutuantes em cenário laranja vibrante.
Celebre o Dia dos Pais com ofertas incríveis na Shopee!
Ícone de link VEJA AS OFERTAS!

A crise mundial do petróleo foi um ato geopolítico deliberado. A Organização dos Países Árabes Exportadores de Petróleo (OPAEP) usou o petróleo como uma arma política. Um segundo choque, em 1979, com a Revolução Iraniana, elevou os preços novamente. Em 1981, o Brasil gastava US$ 10,6 bilhões com a importação de petróleo, uma situação insustentável. O Proálcool surgiu como uma contramedida geopolítica para retomar o controle do destino econômico do país.

O lançamento e a era de ouro do Proálcool

Em 1975, como resposta à crise mundial do petróleo, o Brasil lançou o Proálcool, um plano audacioso para transformar cana-de-açúcar em combustível. Imagem: Anfavea
Em 1975, como resposta à crise mundial do petróleo, o Brasil lançou o Proálcool, um plano audacioso para transformar cana-de-açúcar em combustível. Imagem: Anfavea

O Programa Nacional do Álcool foi oficializado em 14 de novembro de 1975. A solução era genuinamente brasileira: usar a cana-de-açúcar para enfrentar o desafio energético com a crise mundial de petróleo.

A primeira fase (1975-1979) focou na produção de etanol anidro para ser misturado em até 20% na gasolina. Essa estratégia inteligente não exigia a troca da frota de veículos. O governo ofereceu financiamentos e garantiu a compra de toda a produção, eliminando o risco para os usineiros.

O segundo choque em 1979, que intensificou a crise mundial do petróleo, acelerou o programa. A estratégia mudou para a produção em massa de carros movidos exclusivamente a etanol hidratado. O Fiat 147, lançado em 1979, foi o primeiro carro a álcool do mundo produzido em série. O governo criou um pacote de incentivos poderosos: o preço do álcool foi fixado em um patamar máximo de 59% a 65% do preço da gasolina, impostos para carros a álcool foram reduzidos e postos foram proibidos de vender gasolina nos fins de semana.

O resultado foi espetacular. A produção de álcool disparou e, em 1986, os carros a álcool representavam 76,1% da produção de veículos novos, chegando a dominar 90% das vendas.

O declínio do álcool e a escassez nos postos

O sucesso do Proálcool dependia de subsídios e do cenário de petróleo caro, sustentado pela crise mundial do petróleo, e de um açúcar barato. A partir de 1986, essa lógica se inverteu. O preço do petróleo despencou no mercado internacional, enquanto o preço do açúcar subiu. Para os usineiros, tornou-se mais lucrativo exportar açúcar do que produzir etanol para um mercado de preços controlados.

Ao mesmo tempo, o Brasil enfrentava uma grave crise fiscal e o governo cortou os subsídios que sustentavam o programa. A produção de etanol foi desestimulada, mas a demanda continuava alta. A bomba-relógio explodiu em 1989.

Durante a entressafra da cana, o etanol simplesmente desapareceu dos postos. Milhões de motoristas ficaram com seus carros inúteis. A crise de abastecimento de 1989 foi o golpe fatal na credibilidade do programa e destruiu a confiança do consumidor no álcool. As vendas de carros a álcool despencaram para menos de 1% no final da década de 1990. O programa era visto como um fracasso.

Após a crise mundial do petróleo, o renascimento com o carro flex

A solução para a crise mundial do petróleo não veio da política, mas da tecnologia. A lição aprendida foi que o consumidor não deveria mais depender de um único combustível volátil. A resposta foi a flexibilidade.

Engenheiros brasileiros, aproveitando o conhecimento acumulado, desenvolveram e aperfeiçoaram o motor flex-fuel. Em março de 2003, a Volkswagen lançou o Gol 1.6 Total Flex, o primeiro carro flex do Brasil. O sucesso foi imediato e avassalador.

A tecnologia deu ao motorista o poder de escolher o combustível mais barato na bomba, eliminando o risco que havia destruído o programa original. Em poucos anos, os modelos flex passaram a dominar o mercado, superando 90% das vendas. Hoje, o Brasil possui a maior frota de veículos flex-fuel do mundo. Essa inovação, orientada pelo consumidor, revitalizou toda a cadeia do etanol e salvou o legado do Proálcool.

Legado do Proálcool: impactos econômicos, sociais e ambientais

O legado de quase meio século do Proálcool é profundo e complexo. Do ponto de vista econômico, o programa reduziu a dependência do petróleo importado, gerando uma economia de centenas de bilhões de dólares ao país após a crise mundial do petróleo.

Também sustentou a indústria automobilística e criou um sofisticado complexo agroindustrial. Contudo, esses ganhos vieram com o custo de subsídios que contribuíram para a dívida pública e criaram distorções de mercado.

Socialmente, o programa incentivou a concentração de terras em grandes monoculturas de cana, deslocando a produção de alimentos em algumas regiões. Por outro lado, a indústria da cana é uma grande geradora de empregos formais no campo.

Ambientalmente, o programa apresenta um paradoxo. Nos centros urbanos, a substituição da gasolina com chumbo pelo etanol melhorou drasticamente a qualidade do ar. No campo, porém, os custos foram altos. A expansão da cana foi associada ao desmatamento indireto, e práticas como a queima da palha e o descarte inadequado de vinhoto (resíduo da produção) causaram poluição do ar e dos rios por décadas, embora hoje existam práticas mais sustentáveis.

YouTube Video

Inscreva-se
Notificar de
guest
0 Comentários
Mais recente
Mais antigos Mais votado
Feedbacks
Visualizar todos comentários
Carla Teles

Produzo conteúdos diários sobre tecnologia, inovação, construção e setor de petróleo e gás, com foco no que realmente importa para o mercado brasileiro. Aqui, você encontra oportunidades de trabalho atualizadas e as principais movimentações da indústria. Tem uma sugestão de pauta ou quer divulgar sua vaga? Fale comigo: carlatdl016@gmail.com

Compartilhar em aplicativos
0
Adoraríamos sua opnião sobre esse assunto, comente!x