O cruzamento entre javalis europeus e porcos domésticos, ocorrido no Brasil nas últimas décadas, originou o javaporco, uma espécie híbrida que vem causando impactos ambientais, sanitários e econômicos em diversas regiões do país, com prejuízos milionários ao agronegócio e riscos à saúde pública.
O javaporco é o resultado da união entre o javali europeu (Sus scrofa) e porcos domésticos. A espécie foi introduzida no Brasil entre os anos 1980 e 1990, a partir da Argentina e do Uruguai, com o objetivo de atender à caça esportiva e ao mercado de carnes exóticas. No entanto, muitos animais escaparam ou foram soltos, iniciando cruzamentos com porcos soltos no campo.
Esse híbrido carrega características preocupantes: além da agressividade e força dos javalis, herdou dos porcos domésticos a alta capacidade reprodutiva e adaptabilidade. Enquanto javalis selvagens se reproduzem uma vez ao ano, javaporcos podem gerar até três ninhadas anuais, com até 12 filhotes por gestação.
Essa rápida expansão populacional trouxe sérias consequências. Javaporcos já foram registrados em todas as regiões do Brasil, principalmente no Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Eles destroem plantações de milho, soja, batata, cana-de-açúcar e frutas, escavam o solo, geram erosão e invadem áreas naturais, deslocando espécies nativas como queixadas e catetos.
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Impacto ambiental e risco à biodiversidade
Além dos prejuízos agrícolas, javaporcos representam ameaça direta à fauna brasileira. Eles competem por alimento com espécies nativas e são onívoros, consumindo ovos, aves, répteis e até filhotes de mamíferos. Seu comportamento agressivo também oferece risco a humanos, principalmente quando estão em grupos com filhotes.
As presas afiadas dos machos já causaram ferimentos graves e há relatos de ataques fatais. Sua alta adaptabilidade permite ocupação de florestas, margens de rios, áreas de pasto e até zonas periurbanas, ampliando o risco de interação com humanos e rebanhos domésticos.
Outro ponto crítico é o risco sanitário. Os javaporcos podem transmitir doenças como brucelose, leptospirose, raiva e peste suína africana, afetando tanto rebanhos quanto pessoas. Em criatórios clandestinos, há registros de alimentação inadequada dos animais, o que aumenta o risco de surtos.
Ações de controle e desafios regulatórios
Diante da ameaça crescente, o Ibama autorizou, desde 2013, a caça controlada da espécie, reconhecendo oficialmente o javaporco como uma espécie exótica invasora. Para atuar no controle, caçadores precisam de autorização, porte de arma, armadilhas registradas e envio de relatórios às autoridades ambientais.
Apesar disso, especialistas apontam falhas na estratégia. A caça dispersa os bandos, acelerando a colonização de novas áreas. Além disso, há denúncias de criadouros clandestinos que continuam a reprodução ilegal dos animais, dificultando o controle populacional.
Segundo informações do canal “Fatos Rurais”, com base em reportagens e comunicados institucionais, ações de fiscalização já levaram ao abate de dezenas de animais em estados como Santa Catarina, São Paulo e Paraná. Mesmo com drones, cães farejadores e cercas elétricas, o avanço dos javaporcos continua desafiando produtores e autoridades.
Você acha que o cruzamento entre javalis e porcos deveria ter sido evitado a qualquer custo? Ou foi apenas mais um erro humano com consequências que ainda estamos aprendendo a lidar?