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O peixe que vale mais que ouro: vendido a até US$ 80 mil o quilo, a totoaba mexicana alimenta um mercado secreto na Ásia e coloca a espécie mais rara do planeta à beira da extinção

Escrito por Valdemar Medeiros
Publicado em 22/09/2025 às 10:03
O peixe que vale mais que ouro e leva a espécie mais rara do planeta à beira da extinção: como o contrabando da totoaba no México alimenta um mercado secreto na Ásia
Foto: O peixe que vale mais que ouro e leva a espécie mais rara do planeta à beira da extinção: como o contrabando da totoaba no México alimenta um mercado secreto na Ásia
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O tráfico da totoaba, peixe do México cuja bexiga vale até US$ 80 mil o quilo, ameaça extinguir a vaquita marinha, o mamífero marinho mais raro do planeta.

Nas águas turquesa do Golfo da Califórnia, também conhecido como Mar de Cortez, um animal pouco conhecido fora do México se tornou peça central de uma das maiores crises ambientais da atualidade. É a totoaba (Totoaba macdonaldi), um peixe de grande porte que pode chegar a dois metros de comprimento e pesar mais de 100 quilos. Endêmica da região, ela foi pescada por séculos para consumo local, mas, nas últimas décadas, passou a ser alvo de um contrabando bilionário.

A razão? Sua bexiga natatória, chamada de buche pelos pescadores, é considerada uma iguaria rara e um suposto ingrediente medicinal na China. No mercado clandestino asiático, essa parte do peixe pode ser vendida por valores que variam de US$ 20 mil a US$ 80 mil o quilo, superando em valor o ouro, a cocaína e até alguns diamantes.

Como a vaquita entrou na história

O problema é que a caça ilegal da totoaba não afeta apenas a espécie. Ela trouxe consequências fatais para um dos animais mais raros do planeta: a vaquita marinha (Phocoena sinus). Essa pequena toninha, parente dos golfinhos, mede pouco mais de 1,5 metro e só existe em uma área restrita do norte do Golfo da Califórnia.

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Segundo o Comitê Internacional para a Recuperação da Vaquita (CIRVA), restam menos de 20 indivíduos vivos em liberdade. A espécie é hoje considerada o mamífero marinho mais ameaçado de extinção no mundo.

A vaquita não é caçada diretamente. Seu destino está ligado ao uso de redes de emalhe ilegais, colocadas para capturar totoabas.

Essas redes gigantescas funcionam como armadilhas invisíveis: além das totoabas, prendem vaquitas, tartarugas e outras espécies. Uma vez presas, as vaquitas se afogam em minutos, já que precisam subir à superfície para respirar.

Um mercado clandestino global

A cadeia de contrabando da totoaba funciona como um esquema de tráfico internacional:

  • Pesca ilegal: pescadores locais, muitas vezes pressionados pela pobreza, arriscam a vida colocando redes proibidas.
  • Intermediários: atravessadores compram as bexigas por preços relativamente baixos, algo em torno de US$ 1.000 a US$ 2.000.
  • Exportação clandestina: as peças seguem em rotas ilegais por terra até os Estados Unidos e depois atravessam o Pacífico, principalmente por meio de Hong Kong.
  • Mercado asiático: na China, a mesma bexiga pode ser revendida por valores astronômicos, chegando a US$ 80 mil por quilo em leilões clandestinos.
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Relatórios da Interpol e da CITES (Convenção sobre Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas) confirmam que o tráfico de totoaba já movimenta cifras comparáveis ao comércio ilegal de marfim e barbatanas de tubarão.

Impactos locais no México

O comércio ilegal da totoaba não ameaça apenas a biodiversidade, mas também as comunidades costeiras do Golfo da Califórnia.

O setor pesqueiro legal, que depende de espécies como camarões e peixes comerciais, sofre diretamente com a concorrência das redes clandestinas, que devastam o ecossistema marinho.

Além disso, há relatos de que cartéis de drogas mexicanos passaram a controlar parte desse comércio, enxergando na totoaba uma rota alternativa de lucro com risco jurídico menor do que o narcotráfico. Para as comunidades locais, isso significa viver entre dois mundos: o da necessidade econômica e o da ameaça da criminalidade organizada.

Tentativas de proteção e resistência

O governo do México implementou diversas medidas para tentar frear o desastre:

  • Criação da Reserva da Biosfera do Alto Golfo da Califórnia e Delta do Rio Colorado, em 1993.
  • Proibição total da pesca da totoaba, listada como espécie ameaçada pela IUCN.
  • Banimento das redes de emalhe, responsáveis pelas mortes acidentais de vaquitas.
  • Fiscalização conjunta com a Marinha mexicana, com apreensão de embarcações ilegais.

Mesmo assim, a eficácia tem sido limitada. O alto valor da bexiga natatória faz com que muitos pescadores continuem arriscando. Relatórios recentes mostram que, mesmo após operações de retirada de redes ilegais pela ONG Sea Shepherd Conservation Society, centenas delas continuam sendo reinstaladas dias depois.

A pressão internacional

A crise da vaquita e da totoaba não é apenas mexicana — virou um caso internacional. Em 2018, os Estados Unidos chegaram a suspender a importação de frutos do mar de certas regiões do México, alegando descumprimento de normas ambientais.

A União Europeia e a ONU também já pressionaram o governo mexicano a reforçar as medidas de proteção.

ONGs como o WWF e a Sea Shepherd alertam que a extinção da vaquita pode acontecer em poucos anos caso nada seja feito. Em 2023, o CIRVA emitiu um relatório urgente: “o tempo acabou; ou eliminamos completamente a pesca ilegal de totoaba ou perderemos a vaquita para sempre”.

Um símbolo do conflito global entre tradição e conservação

A crise da totoaba expõe um dilema maior: até que ponto práticas culturais ou tradições culinárias podem justificar a destruição de espécies inteiras? Na China, defensores do uso da bexiga natatória argumentam que ela tem valor medicinal e cultural, transmitido há gerações. Para ambientalistas, esse costume é insustentável e cruel.

A vaquita, por sua vez, virou símbolo de uma luta desigual: um animal discreto, que viveu por milhões de anos sem contato humano, agora depende da ação coordenada de governos e organizações internacionais para sobreviver.

Os cientistas tentaram medidas extremas, como capturar vaquitas para mantê-las em cativeiro e evitar a extinção, mas a espécie mostrou-se extremamente sensível ao estresse. A única alternativa viável continua sendo eliminar completamente a pesca ilegal na região.

Com menos de 20 indivíduos vivos, cada nova morte representa uma perda gigantesca. Não se trata apenas de salvar uma espécie rara, mas de preservar um ecossistema inteiro ameaçado pelo crime organizado e pela demanda insaciável de um mercado clandestino do outro lado do mundo.

Um alerta para o planeta

O caso da totoaba e da vaquita é mais do que um drama mexicano. Ele mostra como o comércio ilegal de fauna pode atravessar continentes, unir cartéis criminosos a mercados de luxo e colocar espécies inteiras na beira da extinção.

Se a vaquita desaparecer, será o primeiro mamífero marinho extinto pelas mãos humanas em pleno século XXI — um lembrete cruel de que não basta apenas criar leis: é preciso fazer cumpri-las em escala global.

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Valdemar Medeiros

Formado em Jornalismo e Marketing, é autor de mais de 20 mil artigos que já alcançaram milhões de leitores no Brasil e no exterior. Já escreveu para marcas e veículos como 99, Natura, O Boticário, CPG – Click Petróleo e Gás, Agência Raccon e outros. Especialista em Indústria Automotiva, Tecnologia, Carreiras (empregabilidade e cursos), Economia e outros temas. Contato e sugestões de pauta: valdemarmedeiros4@gmail.com. Não aceitamos currículos!

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