Especialista da USP revela como o país, rico em minerais estratégicos, perde a chance de processar materiais de milhares de dólares por não produzir insumos que custam centavos.
A soberania nacional e a exploração de recursos estratégicos voltaram ao debate, mas o Brasil continua em uma posição vulnerável. Apesar do imenso potencial em terras raras, o país segue como um mero exportador de matéria-prima, sem agregar valor. O motivo, segundo o professor da USP Cláudio Schon, é surpreendente: deixamos de processar materiais de altíssimo valor por não conseguir produzir insumos básicos e baratos.
Riqueza mineral sem beneficiamento industrial
O grande desafio do Brasil no setor de minerais estratégicos foi apontado pelo professor da USP, Fernando Landgraaf: não basta apenas minerar. É crucial beneficiar, processar o minério e, finalmente, ter uma industria que transforme os metais em produtos. Sem essa cadeia completa, o país perde a parte mais lucrativa do negócio.
A dimensão dessa oportunidade perdida é chocante, conforme resume o professor Cláudio Schon: “A gente deixa de processar uma coisa que custa 5 mil dólares o grama porque a gente não consegue produzir um negócio que custa 50 centavos o litro“.
-
Haddad diz que ‘melhor sistema tributário do mundo’ no Brasil será 156 vezes mais ágil que o Pix
-
Nova regra do INSS elimina exigência presencial e corta burocracia que prejudicava milhares de beneficiários
-
O Brasil industrial de duas caras: Enquanto um estado despenca 21%, outro dispara 17%. Saiba quais.
-
Mina bilionária na África pode derrubar liderança no mercado de minério de ferro da Vale e cortar fatia global em 10 pontos
Como o Brasil perdeu a vanguarda no setor
Ironicamente, o Brasil já esteve na vanguarda tecnológica. Há décadas, o país não só pesquisava como também produzia materiais de alto valor, como superligas de níquel e ligas de alumínio aeronáutico.
No entanto, projetos estratégicos foram descontinuados, como o desenvolvimento de ímãs à base de terras raras no Instituto de Física durante os anos 1980, componentes vitais para tecnologias modernas. O retrocesso é tão grande que, hoje, um colaborador do professor Schon precisou importar uma liga especial de alumínio da Europa por não encontrá-la disponível no mercado nacional.
Onde estão os empreendedores para investir?
Na visão de Schon, a culpa pela estagnação não é da academia nem do governo. Ele é enfático ao afirmar: “A universidade faz seu trabalho, eu sinto que o governo faz seu trabalho. O que falta agora é o empresariado responder“. O professor lamenta a ausência de empreendedores com visão e capital dispostos a investir para resgatar essas tecnologias no país.
O fator que desestimula a inovação na industria
Complementando a análise, o jornalista Luís Nassif aponta outro grande vilão: o alto custo do capital no Brasil. Com uma taxa Selic elevada por tanto tempo, os empresários têm um incentivo maior para aplicar no mercado financeiro do que investir em inovação industrial, que é vista como uma atividade de maior risco e retorno mais lento.
Um caminho para o futuro tecnológico
Apesar do cenário, iniciativas como o projeto de hidrogênio verde do RCGI (USP/Shell) mostram um caminho possível. A pesquisa, focada em obter hidrogênio a partir do etanol, contorna riscos de transporte e aproveita um recurso abundante no Brasil.
Segundo Schon, essa deveria ser uma aposta central. O etanol é uma das formas mais seguras de transportar hidrogênio, e a tecnologia possui um enorme potencial de aplicação e exportação, representando uma nova chance para a inovação nacional.