Concluída em julho de 2020, a transação marcou a nova estratégia da Petrobras e a chegada de uma operadora britânica especialista em campos maduros na principal bacia petrolífera do país.
Em uma das maiores transações do setor de óleo e gás no Brasil, a Petrobras concluiu, em 16 de julho de 2020, a venda de dez campos de petróleo em produção na Bacia de Campos para a operadora britânica Trident Energy. O negócio, com um valor total que pode ultrapassar US$ 1 bilhão, foi um passo fundamental na estratégia da estatal de focar em ativos de maior rentabilidade e abriu espaço para uma nova dinâmica de investimentos na região.
A venda dos Polos Pampo e Enchova, um conjunto de campos maduros em águas rasas, permitiu que uma empresa especialista em revitalização de ativos, como a Trident, assumisse a operação com o objetivo de estender a vida útil e otimizar a produção de uma área histórica para a indústria petrolífera nacional.
Como foi estruturado o acordo de quase US$ 1 bilhão?
A negociação, que começou a ser desenhada em 2017, foi estruturada de forma a equilibrar os riscos e as expectativas de ambas as empresas. O valor total do negócio foi dividido em duas partes:
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Parcela Firme de US$ 418,6 milhões: este foi o valor garantido recebido pela Petrobras. Um sinal de US$ 53,2 milhões foi pago na assinatura do contrato, em julho de 2019, e o restante, US$ 365,4 milhões, foi pago na conclusão da transação, em julho de 2020.
Parcela Contingente de até US$ 650 milhões: este valor adicional, conhecido como earn-out, será pago à Petrobras no futuro, condicionado ao desempenho dos campos e, principalmente, à variação do preço do petróleo no mercado internacional.
Essa estrutura permitiu que a Petrobras garantisse um valor base pelos ativos, ao mesmo tempo em que participa dos ganhos futuros caso a Trident seja bem-sucedida em seus planos.
Por que vender ativos na Bacia de Campos?
A venda dos campos na Bacia de Campos fez parte de uma profunda reorientação estratégica da Petrobras. A empresa decidiu concentrar seus recursos financeiros e humanos em ativos de maior competitividade e retorno, especialmente nos campos do pré-sal, em águas profundas e ultraprofundas.
Além disso, a transação se inseriu em um amplo programa de desinvestimentos para reduzir o alto endividamento da companhia. Os campos vendidos, descobertos nas décadas de 1970 e 1980, já estavam em uma fase de declínio produtivo, com a produção caindo de cerca de 39 mil barris por dia em 2018 para aproximadamente 22 mil barris por dia em meados de 2020, tornando a operação menos rentável para a estrutura da estatal.
Quem é a Trident Energy, a nova operadora da Bacia de Campos?
A Trident Energy é uma operadora internacional focada na aquisição e revitalização de campos de petróleo e gás que já passaram do pico de produção, conhecidos como ativos maduros. Apoiada pelo fundo de private equity Warburg Pincus, a empresa já possuía operações na África antes de entrar no mercado brasileiro.
A aquisição dos ativos na Bacia de Campos marcou a entrada estratégica da companhia na América do Sul. O objetivo da Trident foi aplicar sua expertise para aumentar a produção, estender a vida útil dos campos e maximizar a recuperação das reservas remanescentes.
Conheça os Polos Pampo e Enchova
A transação envolveu 100% da participação da Petrobras em dez concessões, agrupadas em dois polos operacionais na Bacia de Campos:
Polo Pampo: inclui os campos de Pampo, Badejo, Linguado e Trilha.
Polo Enchova: inclui os campos de Enchova, Enchova Oeste, Marimbá, Piraúna, Bicudo e Bonito.
A infraestrutura herdada pela Trident é vasta e inclui quatro plataformas de produção centrais (PPM-I, PCE-1, P-8 e P-65), além de todos os sistemas submarinos associados.
A produção dos campos após a venda de 2020
Desde que assumiu a operação, a Trident Energy implementou um ambicioso plano de investimentos. A produção, que era de 22 mil barris por dia no momento da venda, mostrou uma trajetória de crescimento, atingindo um pico de 30 mil barris por dia em dezembro de 2023.
No entanto, a gestão de ativos maduros apresenta desafios. Relatórios da agência de classificação de risco S&P Global Ratings, de meados de 2024, apontaram que a empresa enfrentou “problemas operacionais”, como falhas em compressores, que levaram a quedas na produção em alguns meses. Essa volatilidade evidencia a complexidade de operar uma infraestrutura envelhecida, mesmo com novos investimentos.