Com 382 metros de comprimento e mais de 124 metros de largura, o Pioneering Spirit é o maior navio de construção pesada já construído. Projetado para içar plataformas inteiras do fundo do mar, ele redefine os limites da engenharia naval e das operações offshore.
O Pioneering Spirit não é apenas um gigante dos mares — é um navio maior que um porta-aviões que transformou completamente a forma como plataformas offshore são instaladas e desmontadas. Construído pela Allseas, o navio foi concebido para ser capaz de remover estruturas inteiras do fundo do mar em um único içamento, algo até então considerado logisticamente inviável. Antes do surgimento do Pioneering Spirit, a desmontagem de uma plataforma offshore envolvia semanas de trabalho, diversos guindastes flutuantes e um alto risco ambiental. Agora, com a tecnologia incorporada a este colosso, é possível fazer isso com precisão, segurança e economia de tempo e recursos. Descubra também: O navio que virou ponte: conheça Blue Marlin, colosso dos mares que carrega plataformas de petróleo, submarinos e cargueiros inteiros desfilando pelos oceanos com até 75 mil toneladas
Navio maior que um porta-aviões — literalmente
Com um comprimento total de 382 metros e 124 metros de largura, o Pioneering Spirit é significativamente maior que um porta-aviões convencional. Para efeito de comparação, o maior porta-aviões em operação na Marinha dos EUA, o USS Gerald R. Ford, tem cerca de 333 metros de comprimento.
A área de içamento do convés dianteiro é equivalente a sete quadras de tênis lado a lado, e a capacidade de içar até 48 mil toneladas faz dele o único navio do mundo capaz de realizar certos tipos de operações offshore sozinho.
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O nascimento de um titã: de Pieter Schelte a Pioneering Spirit
A construção do Pioneering Spirit começou com um contrato de € 454,5 milhões firmado em 2010 entre a Allseas e o estaleiro sul-coreano Daewoo Shipbuilding & Marine Engineering (DSME). A embarcação foi entregue no fim de 2014 e chegou a Roterdã, na Holanda, em janeiro de 2015 para a montagem final.
Inicialmente batizado como Pieter Schelte, em homenagem ao pai do fundador da Allseas, o navio foi renomeado em fevereiro de 2015 após polêmica envolvendo o nome original. Desde então, passou a ser conhecido como Pioneering Spirit, refletindo seu papel pioneiro na indústria.
Estreia operacional e feitos históricos
O navio entrou oficialmente em serviço em 2016, com sua primeira missão: a remoção da plataforma Yme, da Talisman, no Mar do Norte. Mas o feito mais notável veio em abril de 2017, quando a embarcação removeu os conveses da plataforma Brent Delta, da Shell UK, com um içamento único de 24 mil toneladas — um recorde mundial na época.
Em 2022, o Pioneering Spirit atingiu a marca impressionante de 330 mil toneladas de plataformas removidas, consolidando-se como a referência absoluta em descomissionamento de infraestrutura offshore.
O segredo da força: design, tecnologia e inovação
O Pioneering Spirit é um catamarã de casco duplo, com uma ranhura entre os cascos na proa, que permite que estruturas enormes sejam “encaixadas” por baixo para posterior içamento.
Especificações principais:
Característica | Valor |
---|---|
Comprimento total | 382 metros |
Largura | 124 metros |
Profundidade do casco | 30 metros |
Capacidade de içamento (topside) | 48.000 toneladas |
Capacidade de içamento (jaqueta) | 25.000 toneladas |
Acomodação | Até 571 pessoas |
Propulsão | 13 propulsores azimutais |
Potência total | 95.000 kW |
Velocidade máxima | 14 nós (26 km/h) |
Além disso, o navio conta com um sistema de posicionamento dinâmico Kongsberg DP-22, que garante precisão milimétrica mesmo em alto-mar, essencial para operações delicadas em plataformas instáveis ou em condições climáticas adversas.
Equipamentos de convés e sistema de içamento inteligente
Na proa, o navio dispõe de uma área de 122 x 59 metros dedicada ao içamento de plataformas. O sistema é composto por oito vigas de elevação horizontais, que distribuem o peso uniformemente durante as operações. Na popa, há vigas basculantes que podem levantar estruturas tipo jaqueta, que servem de base submersa para plataformas.
Entre os equipamentos adicionais, estão:
- Três guindastes de 50 toneladas com alcance de 33 metros
- Um guindaste especial de 600 toneladas
- Sistemas de soldagem e revestimento de tubos para instalação de dutos submarinos
- Um heliponto para suporte aéreo
A revolução do Jacket Lift System (JLS)
Em 2021, a Allseas adicionou ao navio uma das tecnologias mais avançadas em engenharia offshore: o Jacket Lift System (JLS). Essa inovação permite içar estruturas do tipo “jaqueta” — aquelas fundações metálicas que sustentam plataformas em alto-mar — de forma rápida, segura e sem desmontagem.
Composto por duas vigas de 170 metros, pesando 6.500 toneladas cada, o JLS usa um sistema push-pull instalado na popa que levanta estruturas com até 20 mil toneladas de uma só vez.
Além de reduzir o tempo e o custo das operações, o sistema minimiza riscos ambientais e elimina a necessidade de barcaças auxiliares.
Operações notáveis com o JLS
Em agosto de 2020, o Pioneering Spirit removeu o convés da plataforma Ninian Northern, da CNR International. Em abril de 2022, concluiu o içamento da jaqueta de 8.100 toneladas da mesma estrutura — a primeira operação oficial com o novo sistema.
Essas ações provaram que o navio não só é capaz de remover uma plataforma inteira, mas também de realizar o descomissionamento completo, do topo até a base.
Sistema de navegação: visão total e manobra precisa
O Pioneering Spirit conta com dois sistemas Kongsberg K-Bridge na proa e na popa. Eles oferecem visão 360º ao redor do navio, utilizando uma rede de oito transceptores de radar interligados.
Essa tecnologia evita pontos cegos e permite compor imagens combinadas dos arredores da embarcação. A bordo, todos os sistemas de navegação, propulsão e controle de máquinas estão integrados por uma única rede, garantindo desempenho e confiabilidade em missões complexas.
Propulsão de precisão com tecnologia Rolls-Royce
Para movimentar uma embarcação desse porte com segurança, foi necessário desenvolver um sistema de propulsão sob medida. A Rolls-Royce forneceu 13 propulsores azimutais de alta potência, capazes de girar 360 graus e direcionar o navio com precisão sem o uso de leme tradicional.
Esses propulsores, junto aos nove motores MAN, fornecem um total de 95.000 kW de potência, o equivalente a cerca de 128 mil cavalos, permitindo manobras estáveis mesmo com cargas imensas a bordo.
Engenharia colaborativa: os bastidores do projeto
O Pioneering Spirit é resultado de uma colaboração global de especialistas em engenharia, automação e estruturas metálicas. Empresas envolvidas:
- Deltamarin: arquitetura naval e engenharia estrutural
- Swan Hunter: desenvolvimento conceitual
- Huisman: sistema de içamento JLS
- CIMOLAI: fabricação das vigas de 170 m
- Delta Plus Systems e IN-SAFETY: sistemas de proteção contra quedas
- Trelleborg Sealing Solutions: vedação industrial
- Avient: fornecimento de eslingas de elevação em fibra Dyneema
Com o avanço da transição para energias renováveis, cresce também a necessidade de descomissionar estruturas antigas de petróleo e gás, muitas delas com mais de 30 anos em operação. O Pioneering Spirit surge como solução estratégica para acelerar esse processo com segurança e menor impacto ambiental.
Além disso, seu potencial para instalar grandes turbinas offshore para energia eólica o torna peça-chave em projetos da nova economia energética.
O Pioneering Spirit, o navio que era maior que um porta-aviões, é mais do que uma obra de engenharia naval: é uma ferramenta essencial para o futuro da energia e da infraestrutura offshore.
Sua capacidade única de remover plataformas inteiras do fundo do mar, aliada à precisão de seus sistemas de navegação e ao poder de seu sistema de içamento, fazem dele um símbolo da inovação técnica do século XXI.
A embarcação que parecia utópica no papel hoje opera com excelência nos mares do norte da Europa e pode, em breve, ser fundamental também em outras regiões estratégicas do planeta.
Fantástico…
Senhores administradores do site, está se tornando irritante tentar ler qualquer coisa que o site publica devido a quantidade de propagandas que saltam na frente da tela.
Os anúncios cobrem as matérias, atrapalham a leitura ou simplesmente não somem e não permitem que se aproveite o conteúdo veiculado.
Se atentem a isso pois suas matérias são bastante interessantes mas estou quase desistindo de abrir qualquer uma que me seja oferecida para visualização.
Creio que não somem eu tenha percebido isso…
Fica a dica.
Ótima matéria!
Só peço para os tradutores cuidarem do TEMPO verbal… No título e no corpo da matéria aparece que ERA maior que um Porta-aviões… Isso faz muita diferença, direcionando o interesse para fatos passados, históricos, quando deveria direcionar para um fato presente, moderno.