Conheça a história do Volkswagen AP, o motor indestrutível com origens na Mercedes-Benz que se tornou um ícone no Brasil por sua robustez, confiabilidade e incrível potencial de preparação.
No universo automotivo brasileiro, poucos componentes alcançaram o status de lenda como o motor indestrutível Volkswagen AP. Mais do que um simples motor, o AP (sigla para Alta Performance) tornou-se um ícone cultural, um símbolo de durabilidade e o coração dos sonhos de muitos entusiastas. A alcunha de “trator” não é um exagero, mas um reflexo de sua trajetória.
Conheça a fascinante história deste motor indestrutível. Mergulharemos em suas origens surpreendentes, suas características técnicas, os carros que ele impulsionou e o fenômeno de sua adoção em massa pela comunidade de preparação automotiva no Brasil.
Da engenharia militar da Mercedes-Benz ao motor AP
A linhagem do que viria a ser o motor AP tem um início surpreendente. Suas raízes remontam a um projeto militar da Mercedes-Benz nos anos 1950. A Volkswagen adquiriu a Auto Union (que incluía a Audi) da Daimler em 1964 e, com ela, os projetos do que se tornaria a família de motores EA827.
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Essa família de motores estreou oficialmente no Audi 80 europeu em 1972. O primeiro contato do Brasil com o ancestral do AP foi em 1974, com o lançamento do Volkswagen Passat, equipado com o motor EA827 de 1.5 litro, batizado aqui de “motor BR”. A consagração veio em 1985, quando a engenharia brasileira da Volkswagen promoveu modificações cruciais, como o uso de bielas mais longas, para criar um motor mais suave e resistente. Nascia assim o motor AP (Alta Performance).
As características que fizeram do AP um motor indestrutível
A reputação de motor indestrutível do AP se baseia em um projeto sólido. Seu coração é um bloco de ferro fundido, que confere excepcional resistência a altas cargas térmicas e mecânicas, ideal para suportar os rigores da preparação.
Sua arquitetura, com quatro cilindros em linha e comando de válvulas simples no cabeçote (SOHC) com duas válvulas por cilindro, priorizava a durabilidade. O motor AP teve diversas variantes de cilindrada: 1.6, 1.8 e 2.0 litros. Sua evolução acompanhou a tecnologia, passando do carburador para a injeção eletrônica, sendo pioneiro no Brasil com o Gol GTI em 1988, e mais tarde, adotando a tecnologia Total Flex no Gol Power 1.6 em 2003.
O motor mais amado do Brasil: os carros que carregaram o legado do AP
O motor AP foi a força motriz predominante da Volkswagen no Brasil entre 1985 e 2012. Sua versatilidade permitiu que equipasse desde o popular Gol até o luxuoso Santana. A lista de carros da VW com o coração AP é extensa, incluindo Gol, Parati, Voyage, Saveiro e Santana.
Sua influência se estendeu durante a era da Autolatina (1987-1996), uma joint-venture entre Volkswagen e Ford. Nesse período, o motor AP também equipou diversos modelos da Ford, como o Escort (incluindo o esportivo XR3), Del Rey, Pampa e Versailles, consolidando ainda mais sua imagem como o motor “pau para toda obra” da indústria nacional.
Por que o AP se tornou o motor preferido dos preparadores?
Especialistas e mecânicos são unânimes em apontar os motivos que fizeram do AP o queridinho da preparação. A robustez do bloco de ferro fundido é o principal pilar, permitindo que o motor suporte aumentos significativos de potência e torque, especialmente com o uso de turbocompressores.
Sua simplicidade mecânica e a vasta disponibilidade de peças de reposição baratas tornam a manutenção e a modificação acessíveis. Segundo Eduardo Bernasconi, da revista Fullpower, preparadores experientes conseguem extrair mais de 1000 cv de blocos AP devidamente modificados. Esse ecossistema de peças e conhecimento, criado ao longo de décadas, é um fator crucial. Contudo, especialistas alertam que a durabilidade de um motor indestrutível como o AP, quando altamente preparado, é reduzida, e a quebra de componentes é comum nesse universo de alta performance.
A aposentadoria honrosa e o legado duradouro do motor AP
Após quase três décadas de serviço, a produção do motor AP foi encerrada em setembro de 2012. Sua descontinuação foi resultado, principalmente, das novas e mais rigorosas leis de emissões de poluentes (PROCONVE). A arquitetura antiga do AP, embora robusta, encontrava dificuldades para atender aos novos limites de forma eficiente.
A Volkswagen já vinha introduzindo motores mais modernos, como a família EA111. A aposentadoria do AP não foi um sinal de falha, mas o resultado natural da evolução tecnológica. Seu legado, no entanto, permanece vivo. Ele continua pulsando em carros clássicos, projetos de arrancada e, principalmente, na memória de uma legião de fãs que aprenderam a amar sua força, confiabilidade e o som inconfundível que se tornou a trilha sonora de uma geração de apaixonados por carros no Brasil.