Com um aumento de 25% na economia de combustível e 20% a mais de empuxo, o novo motor do caça de 6ª geração adaptativo da Força Aérea Americana é a maior revolução na propulsão de caças desde a invenção do turbofan.
O futuro da guerra aérea está sendo decidido dentro de um motor. O programa NGAD (Next Generation Air Dominance), que vai criar o caça de 6ª geração para substituir o F-22 Raptor, tem como peça central uma tecnologia revolucionária: um motor que “pensa sozinho”, capaz de adaptar seu desempenho em tempo real para priorizar a economia de combustível em um voo longo ou a potência máxima durante um combate. O motor do caça de 6ª geração é uma aposta de bilhões de dólares para garantir a superioridade aérea dos Estados Unidos nas próximas décadas.
Este avanço, no entanto, não é para amanhã. Ao contrário do que se especula, os protótipos só devem passar por testes em solo no final da década de 2020. A disputa para construir essa maravilha da engenharia está entre duas gigantes: a GE Aerospace e a Pratt & Whitney, em uma competição que definirá o futuro da aviação de combate.
Como funciona o motor de três fluxos que muda seu desempenho em tempo real
Os motores de caças atuais, como os do F-35, operam em um “ciclo fixo”, ou seja, são um meio-termo entre potência e economia. O motor do caça de 6ª geração quebra essa limitação com uma arquitetura de ciclo adaptativo (ACE), que possui um inovador terceiro fluxo de ar.
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Esse fluxo extra permite que o motor mude sua forma de operar durante o voo:
Modo de economia: para longas distâncias, o sistema direciona mais ar para esse terceiro fluxo, fazendo o motor funcionar de forma parecida com o de um avião comercial, o que resulta em uma drástica redução no consumo de combustível.
Modo de combate: quando o piloto precisa de potência máxima, o terceiro fluxo é fechado, e todo o ar é forçado para o núcleo do motor, transformando-o em uma turbina de altíssimo desempenho.
Essa adaptação é controlada por um computador de bordo chamado FADEC, que analisa os dados do voo 70 vezes por segundo e ajusta o motor automaticamente, sem que o piloto precise intervir.
O programa AETP: os testes que comprovaram um ganho de 25% em eficiência de combustível e 20% em empuxo
A tecnologia do motor adaptativo não é uma teoria; ela já foi provada. Em 2016, a Força Aérea dos EUA lançou o Programa de Transição de Motor Adaptativo (AETP). O objetivo era construir e testar protótipos que pudessem, no futuro, equipar o caça F-35.
Os resultados, validados em testes extensivos no Arnold Engineering Development Complex (AEDC) no Tennessee, foram impressionantes. Os protótipos da GE (XA100) e da Pratt & Whitney (XA101) alcançaram as metas estabelecidas:
- 25% de melhoria na eficiência de combustível.
- 10% a 20% de aumento no empuxo.
- 30% de aumento no alcance da aeronave.
Esses testes bem-sucedidos foram a base que deu confiança para a Força Aérea lançar o programa seguinte, focado especificamente no caça de 6ª geração.
A disputa entre a GE Aerospace (XA102) e a Pratt & Whitney (XA103) pelo contrato da Força Aérea dos EUA
A corrida para construir o motor do caça de 6ª geração está agora no programa NGAP (Next Generation Adaptive Propulsion). Em agosto de 2022, a Força Aérea concedeu os contratos iniciais para os dois maiores fabricantes de motores militares do mundo.
GE Aerospace: está desenvolvendo o protótipo XA102, um descendente direto de seu motor testado no programa AETP. Em fevereiro de 2025, a empresa concluiu a Revisão de Projeto Detalhado (DDR), um passo crucial antes de iniciar a fabricação.
Pratt & Whitney (RTX): está desenvolvendo o protótipo XA103, baseado na experiência de seu motor do AETP e em seu longo histórico com os caças F-22 e F-35. A empresa também completou sua DDR em fevereiro de 2025.
Em janeiro de 2025, a Força Aérea elevou o teto dos contratos, que agora podem chegar a US$ 3,5 bilhões para cada empresa, com o trabalho se estendendo até 2032.
Por que os protótipos do motor do caça de 6ª geração só serão testados no final da década de 2020?
Apesar do avanço no projeto, a fase de testes em solo dos protótipos do NGAP só deve acontecer no final da década de 2020. A estratégia da Força Aérea dos EUA é de “testar antes de comprar”. Ambos os motores, XA102 e XA103, serão fabricados e testados exaustivamente. Apenas depois dessa “disputa no solo” é que um único vencedor será escolhido para a produção em série.
Essa abordagem metódica visa evitar os problemas de programas anteriores, garantindo que a tecnologia esteja madura e funcional antes de ser integrada ao novo caça, que já está sendo chamado de F-47.
Como o novo motor foi projetado para operar em longas distâncias e reduzir a dependência de aviões-tanque
O desempenho do motor do caça de 6ª geração é uma resposta direta aos desafios do cenário geopolítico do Indo-Pacífico. A região é marcada por distâncias imensas e pela vulnerabilidade de bases aéreas e aviões de reabastecimento.
O aumento de 30% no alcance que o motor adaptativo proporciona é uma mudança de jogo. Ele permite que os caças operem a partir de bases mais distantes e seguras, fora do alcance da maioria dos mísseis inimigos. A maior eficiência reduz a dependência crítica dos aviões-tanque, que são alvos valiosos em um conflito. O novo motor não é apenas sobre velocidade, mas sobre persistência e autonomia, qualidades essenciais para manter a domínio aéreo no futuro.