Reconhecido pelo Guinness, o veículo mais pesado do planeta carrega foguetes da NASA e pesa incríveis 2.700 toneladas sobre esteiras gigantes.
Quando pensamos nos grandes feitos da NASA, normalmente vêm à mente foguetes cortando os céus e astronautas flutuando no espaço. Pouca gente imagina, porém, que antes de decolar, cada foguete precisa ser lentamente levado até a plataforma de lançamento.
É aí que entram os lendários Crawler-Transporters, dois veículos gigantescos construídos nos anos 1960 para transportar naves espaciais e seus suportes de montagem.
Apesar de pouco conhecidos pelo público, esses veículos desempenharam um papel crucial em quase todas as missões tripuladas dos Estados Unidos desde a era Apollo.
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Sua tarefa é hercúlea: carregar estruturas que podem pesar mais de 8 milhões de quilos e levá-las por quilômetros até o ponto de lançamento, sem tremer ou inclinar demais.
Essa façanha, porém, cobra um preço altíssimo em combustível e energia — o que torna os crawlers algumas das máquinas sobre rodas mais sedentas do planeta.
O que são os Crawler-Transporters da NASA
A NASA possui dois Crawler-Transporters idênticos, conhecidos simplesmente como CT-1 e CT-2. Eles foram construídos entre 1963 e 1965 pela Marion Power Shovel Company, originalmente para apoiar o Programa Apollo, que levaria o homem à Lua.
Cada um mede cerca de 40 metros de comprimento por 35 metros de largura, com altura ajustável entre 6 e 8 metros.
Reconhecido pelo Guinness World Records, o Crawler-Transporter da NASA é o veículo autopropelido mais pesado do planeta.
Seu peso vazio chega a impressionantes 2.700 toneladas, e sua capacidade máxima de carga alcança 8.200 toneladas. Para se ter uma ideia, é como transportar o peso de mais de 100 locomotivas ao mesmo tempo.
Com seus 2.700.000 quilos, o Crawler-Transporter da NASA carrega um peso que impressiona até os mais experientes engenheiros: ele equivale a cerca de 450 elefantes africanos adultos alinhados lado a lado.
Essa comparação ajuda a dimensionar o desafio colossal de mover uma estrutura tão pesada com precisão milimétrica — e explica por que seu consumo de combustível é tão descomunal.
Os crawlers não têm rodas comuns. Eles se deslocam sobre oito esteiras gigantescas, semelhantes às de tanques de guerra, mas muito maiores: cada esteira possui 57 sapatas metálicas, e cada sapata pesa cerca de uma tonelada. Isso distribui o peso colossal e impede que o solo debaixo deles afunde.
A lenta jornada: velocidades e desempenho
Apesar do tamanho colossal, os crawlers se movem com uma lentidão calculada. A velocidade máxima sem carga é de aproximadamente 3,2 km/h. Quando estão carregados com um foguete e toda a estrutura de suporte, a velocidade cai para cerca de 1,6 km/h (1 mph).
Essa lentidão é proposital: a carga precisa permanecer absolutamente estável, pois qualquer vibração pode causar danos estruturais ou desalinhamento.
O caminho até a plataforma de lançamento no Kennedy Space Center, na Flórida, tem cerca de 5,6 quilômetros de extensão e exige um trabalho minucioso de nivelamento, monitoramento e controle de inclinação a cada metro percorrido.
Ao longo de décadas, cada crawler já percorreu milhares de quilômetros. O CT-2, por exemplo, acumula mais de 3.800 km de operação desde sua construção, um feito notável considerando a curta distância de cada trajeto.
Motores e sistemas de energia: um complexo coração de aço
Para mover essa massa colossal, os crawlers contam com uma intrincada combinação de motores a diesel, geradores e motores elétricos. O sistema é dividido em dois subsistemas principais: tração e energia auxiliar.
Sistema de tração
- Cada crawler possui 16 motores de tração estilo locomotiva, com 375 cavalos de potência cada, alimentados por energia elétrica.
- A eletricidade que os aciona vem de quatro geradores de corrente contínua (DC), cada um com 1.000 quilowatts de potência.
Sistema de energia auxiliar
- Dois geradores de corrente alternada (AC) de 1.500 quilowatts cada alimentam os sistemas auxiliares, como direção, elevação da plataforma, sistemas hidráulicos e eletrônicos.
- Esses geradores AC são movidos por dois motores diesel Cummins de 16 cilindros e 2.200 cavalos de potência cada um.
Essa combinação garante potência bruta suficiente para mover a carga gigantesca e ao mesmo tempo fornecer energia para os sistemas de suporte e controle.
Consumo de combustível: os devoradores de diesel da NASA
O consumo de combustível dos crawlers é, sem exagero, astronômico. Cada veículo possui um tanque com capacidade para cerca de 19.000 litros de diesel.
Quando está carregado, o crawler consome aproximadamente 2,94 litros de diesel a cada 10 metros percorridos — o que equivale a cerca de 390 litros por quilômetro.
Essa taxa de consumo é milhares de vezes maior do que a de um carro comum e muito superior até mesmo à de caminhões pesados.
Em termos simples, enquanto um automóvel consegue percorrer dezenas de quilômetros com um único litro de combustível, um crawler queima quase 3 litros para avançar apenas 10 metros.
Para se ter uma ideia da escala desse gasto, os 390 litros que ele consome para andar 1 quilômetro seriam suficientes para que cerca de 4.680 carros comuns percorressem a mesma distância.
Com o tanque cheio, o alcance teórico é de aproximadamente 48 quilômetros carregado, mas na prática nunca chegam a tanto.
Isso ocorre porque os crawlers raramente operam por longos períodos contínuos. Além disso, parte do combustível precisa ser reservada para manobras e imprevistos, e há consumo adicional dos sistemas auxiliares mesmo quando o veículo não está se deslocando.
Por que tanta energia é necessária
O motivo do consumo gigantesco está diretamente ligado à física: mover massas colossais exige força colossais.
Os crawlers carregam estruturas que podem ultrapassar os 8 milhões de quilos sobre um terreno inclinado e de brita compactada.
Para evitar vibrações, o deslocamento é extremamente lento, mas isso não significa que o esforço seja pequeno — pelo contrário.
É preciso vencer o atrito das esteiras contra o solo, manter a plataforma nivelada com precisão milimétrica, e compensar qualquer inclinação ou afundamento do terreno em tempo real.
Além disso, o sistema de propulsão elétrica alimentado por geradores diesel não é muito eficiente: grande parte da energia térmica dos motores a combustão se perde em forma de calor antes de virar movimento útil.
Isso tudo somado explica por que cada metro percorrido consome quantidades tão enormes de combustível.
Impactos operacionais e ambientais
Cada movimentação de um crawler representa um custo considerável para a NASA, tanto financeiro quanto ambiental.
Com esse consumo elevado, tudo implicam em emissões significativas de gases de efeito estufa. Por esse motivo, cada transporte é cuidadosamente planejado para minimizar repetições ou trajetos desnecessários.
Nos últimos anos, a NASA passou por um processo de modernização dos crawlers, substituindo motores antigos por modelos mais eficientes e menos poluentes.
Essas atualizações aumentaram a capacidade de carga para suportar os novos foguetes do programa Artemis, mas também buscaram reduzir o consumo específico de combustível e as emissões associadas.
Ainda assim, por mais modernos que fiquem, os crawlers continuarão sendo máquinas de altíssimo consumo — simplesmente porque não existe outro meio de transportar cargas tão pesadas com segurança e precisão milimétrica.
Uma façanha de engenharia que atravessa gerações
Mesmo com todas as limitações, os Crawler-Transporters continuam sendo peças fundamentais da infraestrutura espacial americana.
Desde 1965, eles já levaram ao ponto de lançamento os foguetes Saturn V do Programa Apollo, todos os ônibus espaciais do programa Space Shuttle e, mais recentemente, o gigantesco Space Launch System (SLS) que impulsionará a nova corrida à Lua.
A longevidade dessas máquinas impressiona: após mais de meio século de uso, continuam plenamente operacionais, agora com sistemas atualizados.
Essa durabilidade demonstra a robustez do projeto original e o cuidado extremo com manutenção ao longo das décadas.
Além disso, os crawlers se tornaram ícones culturais e turísticos. Muitos visitantes do Kennedy Space Center ficam fascinados ao ver os gigantes se movendo lentamente pelas trilhas de brita, como se fossem prédios ambulantes deslizando pelo solo.