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O método surpreendente que multiplicou o dinheiro da China em 5.300% e financiou 41,8 mil km de trens rápidos, megaprojetos e obras em 140 países

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 10/08/2025 às 13:03
China multiplicou sua moeda em 5.300% e financiou megaprojetos globais com emissão monetária, mantendo inflação controlada.
China multiplicou sua moeda em 5.300% e financiou megaprojetos globais com emissão monetária, mantendo inflação controlada.
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Em pouco mais de 40 anos, a China multiplicou sua moeda em 5.300% e ergueu obras gigantescas em escala global, utilizando um método econômico pouco explorado por outros países, que financiou infraestrutura interna e projetos em 140 nações.

A China, que há pouco mais de quatro décadas estava entre as nações de menor renda per capita do mundo, consolidou-se como uma das maiores economias globais.

O país construiu, segundo dados oficiais, 41,8 mil quilômetros de ferrovias de alta velocidade, a maior usina hidrelétrica em operação, 161 mil quilômetros de rodovias expressas, a maior rede de metrô e sete dos dez portos mais movimentados do planeta.

Também atingiu mais de 35% da capacidade mundial instalada de energia solar e eólica.

Flexibilização quantitativa e expansão monetária

Uma matéria do site Outras Palavras mostra que esse conjunto de obras foi financiado por diversos mecanismos, incluindo um método pouco abordado fora do país: uma política própria de flexibilização quantitativa.

De 1996 a 2024, a quantidade de yuans em circulação aumentou cerca de 5.300%, passando de 5,84 bilhões para 314 bilhões de CNY, conforme dados do Banco do Povo da China (PBOC).

O funcionamento desse processo envolvia exportadores que recebiam pagamentos em moedas estrangeiras, principalmente dólares norte-americanos, e os trocavam por yuans em bancos locais.

O PBOC emitia a moeda nacional e mantinha as divisas como reservas cambiais.

A plataforma Investopedia descreve que “uma das principais tarefas do PBOC é absorver as grandes entradas de capital estrangeiro provenientes do superávit comercial da China, comprando moeda estrangeira dos exportadores e emitindo yuan local”.

Inflação sob controle e política de preços

Apesar do aumento expressivo de liquidez, os índices de inflação permaneceram sob controle.

Após atingir 24% em 1994, a inflação anual média entre 1996 e 2023 foi de aproximadamente 2,5%, de acordo com registros oficiais.

Para conter pressões de preços, foram utilizadas operações de mercado aberto e políticas de controle de preços em produtos estratégicos como minério de ferro, cobre, grãos, carne, ovos e vegetais, conforme estabelecido no 14º Plano Quinquenal (2021-2025).

Além disso, segundo economistas, o direcionamento do capital para setores produtivos como infraestrutura e indústria ajudou a equilibrar oferta e demanda.

Com a expansão da produção acompanhando o crescimento do consumo, o risco de inflação elevada foi reduzido.

Reformas econômicas e entrada na OMC

A mudança no cenário econômico começou em 1978, com as reformas de Deng Xiaoping, que incluíram a liberalização parcial da agricultura, estímulo a investimentos externos e incentivo à criação de empresas privadas.

Na década de 1990, o país consolidou-se como exportador de produtos de baixo custo, apoiado por mão de obra numerosa, investimentos em transporte público e programas de capacitação profissional.

A entrada na Organização Mundial do Comércio (OMC) em 2001 acelerou o crescimento das exportações e resultou na formação de grandes reservas cambiais.

Em 2010, dados comerciais indicaram que a China ultrapassou os Estados Unidos como maior exportador do mundo.

A partir de 2013, foi lançada a Iniciativa Cinturão e Rota, que financia portos, rodovias, ferrovias e obras de energia em 140 países.

Rede bancária e crédito interno

A expansão também contou com uma ampla rede bancária, composta atualmente por mais de 4.500 instituições, entre bancos regionais, cooperativas de crédito e comunitários.

O economista Richard Werner afirma que essa estrutura facilitou o crédito a empresas locais, fortalecendo a economia sem depender de capital estrangeiro em grande escala.

Durante a crise financeira asiática de 1997, o país manteve a estabilidade cambial e o controle de fluxos de capital.

No final da década de 1990, enfrentou altos índices de inadimplência bancária, resolvendo parte do problema por meio da transferência de ativos problemáticos para empresas especializadas e da recapitalização de bancos estratégicos.

Bancos de fomento e investimentos estratégicos

Nos anos recentes, o PBOC continuou a apoiar financeiramente os três principais bancos de fomento — Banco de Desenvolvimento da China, Banco de Exportação e Importação e Banco de Desenvolvimento Agrícola.

Segundo reportagem da Bloomberg de janeiro de 2024, a autoridade monetária aportou US$ 50 bilhões nessas instituições, que financiam projetos definidos nos planos quinquenais.

Para o professor Li Wei, do Centro de Economia Chinesa e Desenvolvimento Sustentável, “a flexibilização quantitativa pode gerar rapidamente liquidez suficiente para resolver questões de dívida e criar um ambiente estável para o crescimento econômico”.

Comparação com outras economias

Em outras economias, a flexibilização quantitativa já foi aplicada em situações de crise, mas com foco no setor financeiro privado.

Especialistas afirmam que a experiência chinesa mostra que a emissão monetária, quando direcionada a investimentos produtivos, pode ocorrer sem causar alta de preços, desde que acompanhada de controle fiscal e regras de transparência.

Registros históricos dos Estados Unidos indicam que, em períodos como o do New Deal e da reconstrução pós-guerra, modelos semelhantes de bancos públicos e financiamento estatal foram usados para impulsionar a infraestrutura e o crescimento econômico.

Diante desse panorama, permanece a questão: se o método foi capaz de sustentar investimentos de grande escala na China sem provocar inflação elevada, que fatores impedem outras economias de adotar estratégia semelhante para financiar seus próprios programas de desenvolvimento?

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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