Com apenas 1,98 metro de envergadura e 180 kg, o Bumble Bee II é o menor avião tripulado do mundo — e ainda conseguiu voar com um piloto a bordo.
Imagine um avião tão pequeno que sua envergadura é menor que a largura de um carro popular. Um avião que cabe dentro de uma garagem comum, pesa menos que uma moto, mas é capaz de levantar voo com um ser humano a bordo. Parece brincadeira? Pois esse avião não só existe, como voou com sucesso em 1988 e entrou para o Guinness Book como o menor avião tripulado do mundo. O nome dele é Bumble Bee II, uma verdadeira joia da engenharia artesanal e da aviação extrema — tão pequeno que desafia nossa noção do que é, de fato, um avião.
Quando a engenharia encontra a obsessão
O responsável por essa criação surreal foi Robert H. Starr, um piloto e engenheiro aeronáutico norte-americano, apaixonado por desafios absurdos. Depois de anos testando aviões experimentais, Starr decidiu construir o avião tripulado mais compacto já feito, uma espécie de “prova de conceito” — e, ao mesmo tempo, uma provocação ao que se acreditava possível.
O Bumble Bee II foi a evolução do Bumble Bee I, uma aeronave já extremamente pequena, mas que ele considerava “grande demais”. O segundo modelo seria ainda menor, mais leve e com fuselagem reduzida ao mínimo para manter o piloto vivo e a estrutura voando.
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E deu certo. A aeronave voou oficialmente em 8 de maio de 1988, nos céus do Arizona (EUA), com o próprio Robert Starr aos comandos. O voo durou pouco, mas foi o suficiente para garantir o recorde mundial.
O tamanho impressiona – pela pequenez
As dimensões do Bumble Bee II são quase cômicas:
- Envergadura: apenas 1,98 metro — menor do que muitos braços estendidos.
- Comprimento: cerca de 2,7 metros — similar a uma motocicleta média.
- Altura: pouco mais de 1 metro — caberia sob um toldo de garagem.
- Peso vazio: cerca de 180 kg — mais leve que muitas motos de alta cilindrada.
Mesmo com esse tamanho ínfimo, o avião era funcional: possuía trem de pouso retrátil, comando de profundor e ailerons, um motor de 85 hp e um cockpit que acomodava, ainda que espremido, o corpo de um piloto adulto.
Como é possível um avião tão pequeno voar?
O segredo do Bumble Bee II estava em sua combinação milimétrica de aerodinâmica, leveza e potência. O avião usava um motor Continental C85 modificado, que oferecia potência suficiente para levantá-lo do chão mesmo com uma envergadura minúscula.
O voo, no entanto, era um exercício extremo de controle e coragem. Com asas tão pequenas, o avião tinha baixa sustentação e pouca estabilidade. Era sensível a qualquer rajada de vento, e o piloto precisava de reflexos rápidos e nervos de aço para mantê-lo no ar.
Além disso, a visibilidade era limitada, o espaço interno era claustrofóbico, e o conforto simplesmente inexistia. Mas o objetivo não era voar longe — era provar que era possível voar com algo tão pequeno.
Um feito reconhecido mundialmente
Após o voo histórico de 1988, o Bumble Bee II foi imediatamente reconhecido pelo Guinness World Records como o menor avião tripulado do mundo — e o título permanece até hoje.
A aeronave tornou-se ícone cult no mundo da aviação experimental, sendo exibida em museus e constantemente citada em listas de “aviões mais absurdos já construídos”. É estudada por engenheiros, aeromodelistas e entusiastas como uma referência de miniaturização funcional.
Infelizmente, após o voo bem-sucedido, a aeronave sofreu danos em testes posteriores e nunca mais voou. No entanto, foi restaurada e hoje pode ser vista como peça histórica.
Muito além da curiosidade: o impacto do Bumble Bee II
Você pode pensar que o Bumble Bee II foi apenas uma excentricidade. Mas ele representou um ponto de inflexão importante na engenharia experimental. Ele mostrou que:
- É possível construir aeronaves funcionais em escalas extremamente reduzidas;
- A miniaturização extrema também desafia os limites dos materiais e da aerodinâmica;
- A coragem e o conhecimento individual ainda podem criar avanços — mesmo sem corporações por trás.
Esse espírito artesanal e ousado é o mesmo que impulsionou os irmãos Wright, os pioneiros da aviação, e que segue presente em construtores independentes até hoje.
Além disso, o Bumble Bee II serviu como um alerta para limites reais da aviação tripulada. Com envergaduras muito pequenas, o controle torna-se instável, o conforto desaparece e o risco aumenta exponencialmente.
Ou seja, o Bumble Bee II está na fronteira exata entre o voo tripulado e o absurdo técnico — e é exatamente por isso que ele é tão fascinante.
Na era de drones autônomos, caças hipersônicos e jatos comerciais de última geração, é quase poético lembrar que o menor avião do mundo foi construído na garagem de um homem com ferramentas simples e muita coragem.
O Bumble Bee II continua sendo insuperado em sua proposta — um avião tão pequeno que parece saído de um desenho animado, mas que cumpriu seu propósito: tirar o homem do chão com o mínimo de estrutura possível.
E embora não tenha ido longe, ele voou — o suficiente para marcar seu nome na história da aviação como o menor avião tripulado já feito pelo ser humano.