Iniciativas industriais em Poços de Caldas aceleram investimentos bilionários e avanços tecnológicos, enquanto joint ventures e políticas públicas posicionam o Brasil como protagonista global na cadeia de minerais estratégicos até 2027.
O Brasil tem avançado na missão de assumir papel estratégico no cenário global dos minerais críticos com o avanço de megaprojetos de terras raras em Poços de Caldas, no sul de Minas Gerais.
De um lado, a australiana Meteoric Resources lidera o Projeto Caldeira, voltado à extração inicial dos minerais raros.
O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) foi protocolado em maio do ano passado e a expectativa é obter licença de construção até maio de 2026.
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Paralelamente, Viridis Mining e Ionic Rare Earths formaram uma joint venture recentemente para a instalação da primeira refinaria industrial de grande porte para separação avançada de terras raras na América Latina.
O investimento global nesses empreendimentos ultrapassa R$ 1,18 bilhão, com fontes oficiais atualizando o valor entre R$ 1,1 bilhão e R$ 1,18 bilhão, conforme dados de 2025.
Na mesma região, já opera desde 25 de abril de 2025 uma planta-piloto semiindustrial da Aclara Resources, inaugurada em Aparecida de Goiânia, Goiás, com capacidade para processar 250 toneladas de argilas, produzir concentrado com mais de 95% de pureza e gerar cerca de 80 empregos diretos e indiretos.
Domínio chinês e inovação no refino brasileiro
Hoje, a China responde por 85% a 90% da capacidade mundial de refino de terras raras, dominando a fase de separação individual desses elementos.
Esses elementos são essenciais para superímãs usados em turbinas eólicas, veículos elétricos, smartphones, equipamentos médicos e sistemas de defesa.
Embora países como Estados Unidos, Austrália, Canadá e o próprio Brasil tenham reservas, a maior parte da produção continua sendo exportada na forma de concentrado mineral, sem valor agregado.
O diferencial das iniciativas mineiras reside na meta de verticalizar a cadeia produtiva, unindo tecnologia de extração e refino em escala industrial, o que pode reduzir a dependência chinesa.
Depósitos estratégicos e sustentabilidade ambiental em Poços de Caldas
Poços de Caldas abriga depósitos de argilas iônicas, encontrados em abundância, com presença confirmada de neodímio, praseodímio, térbio e disprósio.
O método de extração é não explosivo e utiliza lixiviação direta, minimizando impactos ambientais em conformidade com padrões internacionais.
Cronograma da refinaria de terras raras e desafios regulatórios
A joint venture Viridis/Ionic planeja erguer a primeira refinaria industrial na América Latina dedicada à separação individual de terras raras em larga escala.
Somente a China atualmente realiza esse estágio em grande porte.
A expectativa é iniciar as operações no segundo semestre de 2027, após conclusão de licenças, contratos de offtake e financiamentos.
Políticas públicas e industrialização do setor de minerais críticos
Em 2025, o governo federal lança novas linhas de crédito para minerais críticos, com o BNDES e Finep disponibilizando cerca de R$ 5 bilhões no setor.
Em termos de reservas, o Brasil ocupa o 2º lugar mundial, com cerca de 21 milhões de toneladas de terras raras.
Os projetos de Poços de Caldas preveem a geração de cerca de 700 empregos diretos, além de milhares de vagas indiretas em serviços, transporte e energia.
Sustentabilidade, capacitação e controle ambiental
O processo de separação química envolve reagentes tóxicos, exigindo protocolos rigorosos de neutralização e controle de resíduos.
As empresas se comprometem com circuito fechado e métodos de neutralização de rejeitos, embora ainda não exista auditoria externa completa.
Para atender às demandas técnicas, foi lançado o programa de capacitação “Fortalece Caldas” em parceria com universidades mineiras e centros de pesquisa federais.
Crescimento da demanda global e impactos estratégicos
Segundo a Agência Internacional de Energia, o consumo mundial de terras raras deve crescer entre 50% e 60% até 2040.
Estudos de mercado projetam crescimento de 4 a 7 vezes em segmentos específicos até 2040, especialmente para aplicações de ímãs.
A instalação da refinaria no Brasil pode atrair fábricas de motores elétricos, turbinas eólicas e equipamentos de alta tecnologia, posicionando o país como um novo polo estratégico em minerais críticos.
Com infraestrutura completa, tecnologia avançada e apoio financeiro robusto, o Brasil busca superar seu histórico de exportação de matéria-prima e conquistar protagonismo global.
Diante desse cenário, uma questão permanece: o Brasil conseguirá consolidar sua posição como referência mundial em terras raras e avançar na cadeia tecnológica, superando a dependência do mercado chinês?