O maior projeto de transmissão de energia do Brasil com investimento de R$ 23 bilhões da State Grid, a linha de 1.468 km vai conectar a energia renovável do Nordeste ao resto do país, mas enfrenta um prazo recorde de 72 meses e desafios gigantescos.
Em junho de 2025, tiveram início as obras do maior projeto de transmissão de energia do Brasil, uma empreitada de escala continental que promete reconfigurar a matriz energética nacional. Conhecido como Bipolo Graça Aranha-Silvânia, o projeto é liderado pela empresa State Grid Brazil Holding (SGBH) e representa um pilar estratégico para a transição energética do país, conectando o potencial de geração renovável do Nordeste aos grandes centros consumidores.
O empreendimento, vencido em um leilão histórico, é a resposta do governo a um gargalo crítico no Sistema Interligado Nacional (SIN). Sua construção é vista como essencial para viabilizar a expansão de fontes eólicas e solares e garantir a segurança energética do Brasil nas próximas décadas.
O leilão histórico de 2023 e a vitória da State Grid
O projeto foi o Lote 1 do Leilão de Transmissão nº 2/2023, promovido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) em 15 de dezembro de 2023, na sede da B3 em São Paulo. O certame foi o maior da história do Brasil em volume de investimentos, contratando um total de R$ 21,7 bilhões.
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A State Grid, subsidiária da estatal chinesa, arrematou o lote com uma oferta de Receita Anual Permitida (RAP) de R$ 1,936 bilhão, o que representou um desconto de 39,9% sobre o valor máximo. A proposta foi considerada sólida, refletindo a expertise técnica e a capacidade financeira da empresa, que já tem experiência com projetos semelhantes no Brasil, como as linhas de Belo Monte.
Por que este é o maior projeto de transmissão de energia do Brasil?
A escala do Bipolo Graça Aranha-Silvânia é superlativa em todas as métricas. O investimento oficial estimado pela ANEEL no leilão foi de R$ 18,1 bilhões. No entanto, em junho de 2025, no início das obras, o valor do investimento total já era reportado em R$ 23 bilhões, uma variação que reflete custos de financiamento, inflação e o detalhamento do projeto.
A infraestrutura consiste em uma linha de transmissão de aproximadamente 1.468 km de extensão. Ela utilizará a tecnologia de Corrente Contínua de Ultra-Alta Tensão (UHVDC) de ±800 kV, ideal para transportar grandes blocos de energia por longas distâncias com perdas mínimas.
Acabar com o desperdício de energia limpa no Nordeste
A principal justificativa para o maior projeto de transmissão de energia do Brasil é resolver um problema crescente: o curtailment, ou corte de geração. O boom de energia eólica e solar no Nordeste superou a capacidade da rede de escoar toda a eletricidade produzida. Com isso, usinas limpas são forçadas a desligar, gerando desperdício.
O bipolo funcionará como uma “supervia” elétrica, com capacidade para transportar 5.000 MW de energia, o suficiente para atender cerca de 12 milhões de pessoas. Ele garantirá que a energia limpa e de baixo custo do Nordeste seja efetivamente integrada ao sistema nacional, fortalecendo a segurança energética do país.
Um gigante em construção, o desafio de cruzar 3 estados e 41 cidades
A execução do projeto é uma maratona regulatória e ambiental. O prazo de conclusão de 72 meses (6 anos), concedido pela ANEEL, é o mais longo da história da agência, um reflexo da complexidade da obra.
O licenciamento ambiental é conduzido pelo IBAMA e envolve diversas outras agências, como o IPHAN e o INCRA. A linha atravessará 41 municípios nos estados do Maranhão, Tocantins e Goiás. Para isso, a State Grid precisará instituir servidão administrativa sobre uma área de mais de 15.000 hectares, negociando o direito de passagem com milhares de proprietários.
O cronograma até 2030 e o financiamento do Banco dos BRICS
As obras do maior projeto de transmissão de energia do Brasil começaram oficialmente no final de junho de 2025, com a cerimônia de lançamento da pedra fundamental da estação conversora de Silvânia (GO). A previsão é que o sistema entre em operação em 2030.
Para financiar uma obra dessa magnitude, a State Grid contará com o apoio do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), conhecido como o Banco dos BRICS. A participação da instituição multilateral reforça a cooperação econômica e tecnológica entre Brasil e China para a execução de um projeto de infraestrutura vital para o futuro do país.