Ameaçadas por uma praga que devasta os laranjais em São Paulo, as duas maiores produtoras de suco de laranja do mundo travam uma disputa estratégica para criar uma nova e gigantesca fronteira agrícola em Mato Grosso do Sul.
Uma silenciosa, mas bilionária “guerra da laranja” está redesenhando o mapa do agronegócio no Brasil. De um lado, a Citrosuco, dos grupos Fischer e Votorantim. Do outro, sua eterna rival, a Cutrale. As duas gigantes, que juntas dominam o mercado mundial de suco de laranja, estão em uma corrida para ver quem terá o maior pomar de laranjas do Brasil, e o campo de batalha se mudou de São Paulo para o Centro-Oeste.
Ameaçadas por uma praga devastadora, as empresas buscam em novas terras a sobrevivência de seus impérios. A disputa definirá não apenas o futuro das companhias, mas também o novo epicentro da citricultura nacional.
O inimigo em comum: a praga do “greening” que ameaça os pomares de São Paulo
O principal motivo para essa migração estratégica é uma doença chamada Huanglongbing (HLB), ou “greening”. Transmitida por um pequeno inseto, a praga não tem cura e é fatal para os laranjais. Ela torna os frutos amargos, derruba a produtividade e, por fim, mata a planta.
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A doença se espalhou de forma agressiva pelo tradicional “Cinturão Citrícola” de São Paulo e Minas Gerais, tornando o replantio na região uma aposta de alto risco. A busca por terras “limpas” e livres da praga virou uma questão de sobrevivência para a indústria.
A Citrosuco e seus números: a líder em área plantada
A Citrosuco, resultado da fusão da empresa do Grupo Fischer com a Citrovita, da Votorantim, é hoje a líder em termos de área consolidada. A empresa possui 29 fazendas e cerca de 40.000 hectares de laranjais próprios, espalhados por São Paulo e Minas Gerais.
Além de seus pomares, a Citrosuco complementa sua produção com uma rede de mais de mil produtores parceiros. No total, a área que fornece laranjas para a empresa chega a impressionantes 130.000 hectares, o que a torna a maior produtora de suco de laranja do mundo, respondendo por 25% do mercado global.
A ofensiva da Cutrale: o megaprojeto de R$ 500 milhões em Mato Grosso do Sul
Embora com uma área própria tradicionalmente menor, com cerca de 35.000 hectares em 22 fazendas, a Cutrale executou o movimento mais agressivo e ousado da última década. A empresa iniciou um megaprojeto para criar um novo polo citrícola em Mato Grosso do Sul.
Anunciado em 2024, o investimento inicial é de R$ 500 milhões para plantar 5.000 hectares de laranja na Fazenda Aracoara, em Sidrolândia (MS). O projeto prevê o plantio de 1,73 milhão de novos pés de laranja irrigados, com a implantação sendo concluída até abril de 2026.
A disputa pela nova fronteira: quem terá o maior pomar de laranjas do Brasil?
O plano da Cutrale, no entanto, vai muito além. A meta de longo prazo é usar esse investimento inicial como âncora para criar um polo de 30.000 hectares de laranja na região, incluindo terras próprias e de parceiros. Se concretizado, este se tornará o maior pomar de laranjas do Brasil em uma única região concentrada.
O movimento pioneiro da Cutrale forçou uma reação de sua rival. A Citrosuco, para não perder espaço na nova fronteira, já iniciou negociações com o governo de Mato Grosso do Sul para também se instalar no estado, provavelmente na costa leste. A corrida pela nova “capital da laranja” está oficialmente aberta.
O futuro da laranja no Brasil: a migração do Sudeste para o Centro-Oeste
A “guerra da laranja” entre Citrosuco e Cutrale está mudando a geografia da citricultura no Brasil. A crise do “greening” acelerou um movimento de migração que deve consolidar o Mato Grosso do Sul como a nova “terra prometida” para a produção de laranja.
O sucesso desses megaprojetos dependerá de grandes investimentos em logística e infraestrutura, mas o movimento já parece irreversível. A disputa para ver quem terá o maior pomar de laranjas do Brasil não é apenas uma batalha entre duas empresas, mas o nascimento de um novo polo para o agronegócio nacional.