Governo anuncia o plano nacional de ferrovias, a licitação do Anel Ferroviário do Sudeste, FIOL+FICO e Ferrogrão, mas apenas o primeiro deve ocorrer ainda em 2025.
O governo federal deu a largada para o seu novo plano nacional de ferrovias, um ambicioso programa que visa modernizar a infraestrutura logística do Brasil. Em um anúncio realizado em 26 de maio de 2025, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) confirmou que os três primeiros grandes trechos do plano irão a leilão, somando um investimento previsto de R$ 53,2 bilhões.
Os projetos prioritários são o Anel Ferroviário do Sudeste (ligando Vitória a Itaboraí), a combinação das ferrovias FIOL e FICO no Centro-Oeste, e a aguardada Ferrogrão. No entanto, ao contrário do que se esperava, apenas um desses leilões deve ocorrer ainda este ano. A complexidade dos projetos e uma batalha jurídica no Supremo Tribunal Federal (STF) adiaram os outros dois para 2026.
O que é o novo plano nacional de ferrovias?
O novo plano nacional de ferrovias é uma iniciativa de R$ 100 bilhões para reequilibrar a matriz de transportes do Brasil, hoje excessivamente dependente de rodovias. A estratégia do governo é “fatiar” o plano, leiloando os projetos em fases para atrair investidores privados e demonstrar progresso de forma mais ágil.
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O modelo de negócio é o de parceria público-privada. O governo pretende entrar com até 20% do capital necessário para os projetos, cobrindo o chamado “gap de viabilidade”. O critério para vencer o leilão será o de quem exigir o menor aporte de dinheiro público, uma mudança para tornar os projetos mais atrativos para a iniciativa privada.
O Anel Ferroviário do Sudeste (Vitória-Itaboraí)
O primeiro projeto a ir a leilão será o Anel Ferroviário do Sudeste (EF-118). Este é o trecho mais maduro do ponto de vista regulatório e o único com leilão confirmado para dezembro de 2025. O edital deve ser publicado em setembro.
Sua função é estratégica: conectar as duas principais malhas ferroviárias do Sudeste, a da MRS Logística e a Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM), operada pela Vale. Com um investimento inicial de R$ 4,56 bilhões, a ferrovia criará um corredor logístico vital entre os portos e os polos industriais do Rio de Janeiro e do Espírito Santo.
O Corredor Leste-Oeste (FIOL+FICO) e a Ferrogrão
Os outros dois grandes projetos do plano nacional de ferrovias, ambos focados no escoamento de grãos do Centro-Oeste, tiveram seus cronogramas ajustados para meados de 2026.
O Corredor Leste-Oeste, que une a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL) e a Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (FICO), é um quebra-cabeça complexo. O vencedor do leilão terá que construir um trecho do zero e integrar sua operação com outros segmentos que estão sendo construídos pelo governo e pela Vale.
Já a Ferrogrão (EF-170) é o projeto mais polêmico e arriscado. Com 933 km, ela ligaria o Mato Grosso aos portos do Pará, mas seu traçado corta uma área de preservação ambiental. O projeto está atualmente paralisado por uma decisão liminar do ministro Alexandre de Moraes, do STF, e seu leilão depende de uma resolução final do tribunal.
O futuro sobre trilhos
O interesse nos novos projetos é grande. Pelo menos 19 empresas e fundos de investimento, incluindo gigantes nacionais como Rumo e VLI, e internacionais, como grupos chineses e árabes, já se reuniram com o governo.
O sucesso do plano nacional de ferrovias dependerá da capacidade do Brasil de garantir segurança jurídica e política para atrair o capital privado necessário. Enquanto o Anel do Sudeste surge como uma aposta mais segura e de curto prazo, os projetos do agronegócio, embora vitais para o país, ainda precisam superar seus imensos desafios legais e ambientais para sair do papel.