O que já foi um dos mais famosos hotéis de selva do mundo, frequentado por bilionários e celebridades, hoje é um esqueleto de madeira sendo devorado pela natureza no coração do Amazonas.
No meio da imensidão do Rio Negro, no Amazonas, as ruínas de um gigante de madeira contam uma história de ascensão e queda espetaculares. Este é o Ariaú Towers, um hotel de luxo construído sobre palafitas que já foi um ícone mundial, um destino obrigatório para a elite global que buscava uma aventura na selva.
Hoje, em 2025, o cenário é de abandono. O hotel, que já recebeu de reis a astros de Hollywood, está fechado desde 2016, e suas estruturas estão sendo lentamente “engolidas” pela floresta. A história do Ariaú Towers é uma lição sobre como a visão, a crise e a força da natureza podem transformar um império em um monumento à decadência.
A inspiração de Jacques Cousteau em 1982
A ideia para o hotel surgiu de um encontro profético. Em 1982, o lendário explorador francês Jacques Cousteau estava na Amazônia e se hospedou em um hotel do empresário Dr. Francisco Ritta Bernardino. Cousteau previu que a floresta se tornaria o centro de uma batalha global pela preservação, atraindo a atenção do mundo.
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Essa visão foi o catalisador. Entre 1984 e 1987, utilizando técnicas de construção dos povos locais, Bernardino ergueu o Ariaú Towers sobre palafitas de madeira, no meio de uma área de floresta inundada. A primeira torre foi inaugurada em 1986, e o hotel completo, em 1987, nascendo como um projeto único no mundo.
O refúgio de bilionários e estrelas de Hollywood
No seu apogeu, o Ariaú Towers era uma atração por si só. O complexo tinha de seis a oito torres, conectadas por 8 quilômetros de passarelas de madeira suspensas na altura da copa das árvores. Sua suíte mais famosa, a “Casa do Tarzan”, foi construída a 22 metros de altura no topo de um mogno.
Sua fama atraiu uma lista impressionante de hóspedes. O ex-presidente dos EUA Jimmy Carter, o fundador da Microsoft Bill Gates, a realeza da Suécia e da Espanha, e celebridades como Jennifer Lopez e o elenco do filme Anaconda (1997), que foi parcialmente filmado no local, se hospedaram ali. O hotel também foi o cenário para a aclamada temporada do reality show Survivor: The Amazon, em 2003.
A dívida com a Petrobras e o fim do turismo americano
O declínio do hotel foi causado por uma “tempestade perfeita”. O problema central foi uma dívida de R$ 1,5 milhão com a Petrobras Distribuidora, que se arrastava em uma ação judicial desde 2006. O que poderia ser uma dívida gerenciável se tornou uma bomba-relógio.
O gatilho para a crise foi externo. O Ariaú Towers dependia do mercado internacional, e até 90% dos seus hóspedes eram americanos. Após os ataques de 11 de setembro de 2001, o turismo americano sofreu uma retração global, e o hotel viu sua principal fonte de receita evaporar. Com custos operacionais altíssimos e uma receita em queda livre, a dívida com a Petrobras se tornou impagável.
O colapso final do Ariaú Towers (2016-2022)
O hotel encerrou oficialmente suas operações no início de 2016. A consequência da dívida foi a tentativa de venda forçada. Em janeiro de 2016, a propriedade foi a leilão pela primeira vez, avaliada em R$ 26 milhões. Ninguém apareceu. Em uma segunda tentativa, com o preço cortado pela metade para R$ 13 milhões, o resultado foi o mesmo: nenhum interessado.
O mercado havia dado seu veredito: era mais caro tentar salvar o hotel do que construir um novo do zero. O golpe final veio em 31 de junho de 2022, quando a Justiça do Amazonas decretou a falência oficial da empresa, selando o fim de uma era.
As ruínas do Ariaú em 2025 e sua nova fama
Hoje, o que resta do Ariaú Towers é um esqueleto em decomposição. Passarelas desabaram, torres apodrecem e a vegetação amazônica avança, cobrindo piscinas e apartamentos. O local, alvo de saques e vandalismo, virou uma ruína moderna.
Ironicamente, o abandono deu ao hotel uma nova vida. Suas ruínas se tornaram um ponto de interesse para fotógrafos e exploradores de lugares abandonados, ganhando fama em fóruns online. Operadores de barcos em Manaus agora oferecem passeios para que turistas vejam o gigante de madeira sendo lentamente devorado pela selva, um testemunho silencioso da força da natureza sobre a ambição humana.