O N1 foi o foguete titânico da União Soviética, com mais de 2.700 toneladas, que tentou rivalizar com a NASA e explodiu em fracassos históricos.
Nos anos 1960, a corrida espacial estava no auge. A União Soviética havia dado os primeiros passos mais ousados, colocando o primeiro satélite em órbita (Sputnik, em 1957) e o primeiro ser humano no espaço (Yuri Gagarin, em 1961). Mas, quando o presidente americano John F. Kennedy anunciou o objetivo de levar astronautas à Lua até o fim da década, o jogo mudou.
Moscou não podia ficar para trás. Foi nesse contexto que nasceu o projeto N1, um foguete superpesado que deveria colocar a União Soviética em pé de igualdade com a NASA e garantir o triunfo comunista na corrida lunar.
O titã soviético de 2.700 toneladas
O N1 era um colosso. Com 105 metros de altura, 17 metros de diâmetro e 2.735 toneladas de massa total, era um dos maiores foguetes já construídos.
-
O canhão atômico dos EUA que disparou uma bomba nuclear de 15 quilotons em 1953, tinha 84 toneladas, viajava em ferrovia e poderia arrasar cidades inteiras – o ‘insano’ M65 Atomic Annie da Guerra Fria que assustou Moscou
-
15 alimentos populares feitos com sobras moídas, corantes, conservantes e gases: gelatina, salsicha, nuggets, mortadela, sorvete, suco de caixinha e mais
-
Rodovia Oswaldo Cruz será totalmente interditada para obras na serra de Ubatuba, uma das mais íngremes do Brasil; evitem passar neste horário
-
Justiça brasileira define 7 situações graves que levam à perda da guarda do filho: falta de dinheiro não é motivo, diz especialista Cíntia Brunelli
Para efeito de comparação, o Saturn V, que levou os astronautas americanos à Lua, tinha 110 metros e 2.900 toneladas.
O diferencial do N1 estava no primeiro estágio: um conjunto de 30 motores NK-15 funcionando em sincronia.
Era uma solução arriscada, escolhida porque a União Soviética não tinha, na época, motores de alta potência equivalentes ao F-1 americano. A estratégia parecia engenhosa, mas aumentava exponencialmente as chances de falha.
O segredo por trás do projeto
Ao contrário do programa Apollo, o desenvolvimento do N1 foi envolto em segredo absoluto. O projeto estava sob responsabilidade do lendário engenheiro Sergei Korolev, considerado o “pai do programa espacial soviético”.
Depois da morte de Korolev em 1966, o projeto passou a ser tocado em meio a disputas internas, pressões políticas e falta de recursos.
Enquanto a NASA investia bilhões em tecnologia, testes e infraestrutura, os soviéticos enfrentavam dificuldades orçamentárias e não tinham como bancar uma campanha de testes extensiva. Isso resultou em um foguete que praticamente nunca foi testado em solo em configuração completa antes dos voos oficiais.
Os lançamentos e as explosões
Entre 1969 e 1972, a União Soviética tentou lançar o N1 quatro vezes. Todas resultaram em falha:
- 21 de fevereiro de 1969 (N1-3L): o foguete perdeu potência segundos após a decolagem e caiu de volta, destruindo a plataforma de lançamento.
- 3 de julho de 1969 (N1-5L): apenas 17 segundos após a decolagem, o N1 explodiu em uma bola de fogo que liberou energia equivalente a uma pequena bomba nuclear. Foi um dos maiores desastres aeroespaciais já registrados.
- 27 de junho de 1971 (N1-6L): o foguete chegou a 50 km de altitude antes de falhar e ser destruído.
- 23 de novembro de 1972 (N1-7L): o último voo também terminou em explosão, sepultando de vez as esperanças soviéticas de alcançar a Lua.
Nenhum dos quatro lançamentos foi bem-sucedido, e o programa consumiu bilhões de rublos em recursos da época.
O fracasso diante do sucesso americano
Enquanto a União Soviética acumulava falhas, os Estados Unidos atingiram seu objetivo. Em 20 de julho de 1969, Neil Armstrong e Buzz Aldrin caminharam na Lua, consolidando a supremacia da NASA na corrida espacial.
O contraste foi devastador para Moscou: poucos dias antes, o N1 havia explodido em uma das maiores tragédias aeroespaciais já vistas.
O fracasso do N1 selou a derrota soviética na disputa lunar. Em 1976, o programa foi oficialmente encerrado, e as estruturas remanescentes do foguete foram desmanteladas.
O legado do N1 e o renascimento dos motores soviéticos
Apesar do fracasso, o N1 deixou lições importantes. Seus motores NK-15 evoluíram para versões mais confiáveis, como o NK-33, que décadas depois seriam usados em programas espaciais da Rússia e até exportados para os Estados Unidos, adaptados em foguetes como o Antares.
Além disso, o gigantismo do N1 inspirou projetos futuros de foguetes superpesados, mostrando que a escala e a potência eram possíveis — ainda que com desafios técnicos imensos.
Um desastre escondido por décadas
Durante anos, a União Soviética negou ou escondeu as falhas do N1. Só na década de 1980, após a abertura política da glasnost, é que os detalhes das explosões vieram à tona. Até então, o mundo sabia muito pouco sobre a dimensão das tentativas soviéticas de chegar à Lua.
Hoje, o N1 é lembrado como um dos maiores fracassos da engenharia aeroespacial, mas também como um símbolo da ousadia tecnológica em tempos de rivalidade geopolítica extrema.
O N1 foi a maior aposta da União Soviética para vencer os Estados Unidos na corrida lunar. Pesando mais de 2.700 toneladas e com potência colossal, poderia ter mudado o rumo da história. Mas sem testes adequados, pressionado por disputas internas e lançado às pressas, tornou-se protagonista de um dos maiores desastres espaciais da história.
No fim, o titã soviético nunca cumpriu sua missão. Sua imagem, contudo, continua viva como o foguete que quase levou a bandeira vermelha à Lua — mas acabou explodindo antes de alcançar o espaço.