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O fim do sonho da casa própria? Por que comprar um imóvel se tornou impossível

Publicado em 15/07/2025 às 10:41
O fim do sonho da casa própria?
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A combinação de preços que disparam, salários que não acompanham e um mercado que favorece quem já tem um teto está decretando o fim do sonho da casa própria para uma geração inteira de brasileiros.

Comprar um imóvel, que por décadas foi o principal símbolo de estabilidade e conquista para as famílias brasileiras, hoje parece uma realidade distante, quase inalcançável. A escalada dos preços, que supera em muito a valorização da renda, criou um abismo entre o desejo de ter um lar e a capacidade de pagar por ele. Este cenário levanta uma questão alarmante: estamos vivendo o fim do sonho da casa própria como o conhecíamos?

Para os mais jovens, a situação é ainda mais crítica. Pesquisas mostram que, embora a grande maioria ainda almeje ter seu próprio imóvel, a percepção é de que a tarefa se tornou muito mais difícil do que foi para seus pais e avós. O resultado é uma geração que adia planos, repensa a ideia de ter filhos e se vê presa em um ciclo de aluguéis caros, sem perspectiva de construir um patrimônio.

A conta que não fecha: preços de luxo, salários estagnados

O fim do sonho da casa própria? Por que comprar um imóvel se tornou impossível
A economia gerou empregos de baixa remuneração

O problema começa com uma matemática simples e brutal. Segundo o índice FipeZAP, que monitora os preços de imóveis em 50 cidades brasileiras, a valorização imobiliária superou consistentemente a inflação e o crescimento da renda média na última década. Enquanto o preço do metro quadrado dispara, o poder de compra do brasileiro encolhe.

Essa disparidade é ainda mais cruel quando analisamos os dados de renda. Um estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV IBRE) revelou um fato chocante: entre 2012 e 2024, a renda média real dos trabalhadores com ensino superior no Brasil caiu 12%. Ou seja, mesmo os profissionais mais qualificados estão perdendo poder de compra. A economia gerou, em sua maioria, empregos de baixa remuneração, tornando o acesso ao crédito imobiliário e a capacidade de poupança um desafio para a classe média.

O resultado prático é que o tempo necessário para comprar um imóvel aumentou drasticamente. Se nos anos 90 eram necessários cerca de 8 anos de trabalho (poupando 100% do salário médio) para comprar um imóvel padrão, hoje esse número pode ultrapassar os 20 anos, sem contar os juros de um financiamento, que podem mais do que dobrar o valor final do bem.

Um mercado para poucos: onde estão os imóveis para a classe média?

Outro fator que agrava a crise e contribui para o fim do sonho da casa própria é um desequilíbrio na oferta. As construtoras e incorporadoras têm focado sua produção em dois extremos do mercado:

Imóveis populares: enquadrados em programas habitacionais como o Minha Casa, Minha Vida, destinados à população de baixa renda.

Imóveis de alto luxo: com altíssimo valor agregado, voltados para uma pequena parcela da população.

A classe média, que representa uma fatia enorme da demanda, ficou órfã de novos lançamentos. Com poucas opções disponíveis nesse segmento, os preços dos imóveis usados disparam, alimentando a espiral de valorização. Soma-se a isso o aumento nos custos da construção civil. O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) acumulou uma alta de mais de 40% nos últimos cinco anos, encarecendo ainda mais qualquer novo projeto.

O dono da casa não quer novos vizinhos

A solução mais óbvia para preços altos seria aumentar a oferta, ou seja, construir mais casas e apartamentos. No entanto, essa lógica esbarra em um poderoso obstáculo: o interesse de quem já é proprietário. Para quem já tem um imóvel, a construção de novos empreendimentos na vizinhança é vista como uma ameaça que pode desvalorizar seu patrimônio.

Esse fenômeno, conhecido como NIMBY (Not In My Back Yard, ou “Não no Meu Quintal”), influencia diretamente as políticas urbanas. Proprietários de imóveis em bairros bem localizados usam sua influência para manter leis de zoneamento restritivas, que impedem a construção de prédios e moradias mais densas. Em São Paulo, por exemplo, bairros nobres como Jardins e Pinheiros mantêm o caráter de “cidade do interior” em meio a uma megalópole, forçando a população de menor renda a morar cada vez mais longe do trabalho e da infraestrutura.

Além disso, a burocracia para aprovar um projeto de construção no Brasil é uma das mais lentas e caras do mundo. Segundo o Banco Mundial, o processo pode levar quase um ano e envolver dezenas de procedimentos, um custo que, inevitavelmente, é repassado ao comprador final, aumentando o valor do imóvel em até 12%.

Um sonho que precisa ser redesenhado

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A realidade é que o caminho para a casa própria, trilhado pelas gerações anteriores, está bloqueado. A combinação de preços inacessíveis, renda em queda, oferta limitada e barreiras burocráticas criou uma tempestade perfeita. Para a maioria dos brasileiros, especialmente os mais jovens, a conquista de um imóvel deixou de ser uma etapa natural da vida para se tornar um luxo para poucos.

Enquanto a mentalidade de que “imóvel é um ativo que só valoriza” persistir e não houver uma mudança radical nas políticas urbanas para incentivar a construção em massa, o conflito de interesses entre proprietários e não proprietários continuará se aprofundando. Talvez não seja o fim do sonho da casa própria, mas sim o fim do sonho como o conhecíamos, exigindo novas soluções, como o aluguel de longo prazo e outros modelos de moradia, para uma geração que precisa, antes de tudo, de um lugar para viver.

E você, como enxerga essa situação? O sonho da casa própria ainda faz parte dos seus planos ou você já busca outras alternativas? Conte sua experiência nos comentários!

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Maria Heloisa Barbosa Borges

Falo sobre construção, mineração, minas brasileiras, petróleo e grandes projetos ferroviários e de engenharia civil. Diariamente escrevo sobre curiosidades do mercado brasileiro.

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