Filho da elite cafeeira, Luiz de Queiroz transformou fortuna em legado ao criar a escola agrícola que moldou o agronegócio brasileiro moderno
A história do agronegócio no Brasil não pode ser contada sem mencionar Luiz Vicente de Souza Queiroz. Filho da elite cafeeira paulista, ele se tornou muito mais que um fazendeiro próspero. No final do século XIX, dedicou fortuna e esforços para fundar a escola que mudaria a agricultura nacional: a atual Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP), em Piracicaba (SP).
Infância de privilégios e formação europeia
Nascido em Limeira, em 1849, Luiz era neto de grandes fazendeiros e filho de senador do Império. Esse berço garantiu acesso a uma vida confortável e a oportunidades raras na época. Como era comum entre famílias ricas, foi enviado cedo à Europa para estudar.
Na França, frequentou a prestigiada Escola de Agricultura de Grignon. Depois, seguiu para Zurique, na Suíça, onde ampliou seus conhecimentos.
-
De pastagem africana a inimigo invisível: capim-colonião já ocupa milhões de hectares no Cerrado e ameaça a recuperação de áreas nativas
-
Brasil caminha para recorde em 2025 com 62 bilhões de ovos, 15,4 milhões de toneladas de carne de frango e 5,420 milhões de toneladas de carne suína
-
Novo acordo: carne bovina do Brasil será comprada por país que nunca tinha importado o produto brasileiro
-
De invasor europeu a praga nacional: javaporco já devasta lavouras, domina áreas de cinco estados no Brasil, causa perdas de mais de R$ 60 milhões por ano e é tratado como uma das piores espécies invasoras do mundo
Essa experiência no Velho Mundo moldou sua visão sobre ciência, tecnologia e o papel da educação no avanço da agricultura.
O herdeiro que virou empreendedor
Em 1872, após a morte do pai, herdou a Fazenda Engenho d’Água, em Piracicaba. Ali demonstrou sua veia empreendedora.
Instalou uma fábrica de tecidos aproveitando a força do rio Piracicaba e integrou agricultura com indústria.
Sua fazenda produzia algodão, que era transformado em tecido pela fábrica. Esse modelo inovador fez crescer sua fortuna e deu condições para ações sociais importantes.
Luiz construiu uma vila operária, arborizou a cidade e até ajudou escravos fugidos em um Brasil que ainda vivia sob o regime da escravidão.
O sonho de uma escola agrícola
Apesar do sucesso nos negócios, Luiz tinha um objetivo ainda maior. Inspirado pelas escolas europeias, queria fundar uma instituição de ensino agrícola no Brasil. Acreditava que o futuro da agricultura nacional dependia da ciência e da formação técnica.
Em 1889, comprou a Fazenda São João da Montanha, com 319 hectares, considerada ideal para o projeto.
Encomendou o projeto arquitetônico na Europa, trouxe professores e arquitetos dos Estados Unidos e passou a morar na fazenda para acompanhar as obras.
Obstáculos e a decisão de doar a fazenda
O projeto, ambicioso, exigia altos recursos. Luiz buscou apoio do governo paulista, mas recebeu negativas.
As recusas não o abalaram. Determinado, decidiu doar a fazenda com todas as benfeitorias, impondo apenas uma condição: que a escola fosse concluída em até dez anos.
Mesmo assim, o governo não deu a prioridade esperada. Os trabalhos caminharam devagar e foram interrompidos sob justificativa de cortes orçamentários. Luiz faleceu em 1898, sem ver o sonho realizado.
A criação da escola e a consolidação da ESALQ
Três anos após sua morte, em 1901, foi inaugurada a Escola Prática Luiz de Queiroz. O nome era uma homenagem póstuma ao homem que dedicou vida e fortuna ao projeto.
Décadas depois, em 1934, a instituição se transformou na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ).
Nesse mesmo ano, tornou-se uma das sete escolas fundadoras da Universidade de São Paulo (USP). Desde então, cresceu e se consolidou como centro de excelência mundial em ciências agrárias.
Referência mundial no setor agrícola
Ao longo das décadas, a ESALQ formou líderes, pesquisadores e profissionais que ajudaram a moldar o agronegócio brasileiro.
A escola foi decisiva para transformar Piracicaba em um polo de conhecimento e inovação reconhecido internacionalmente.
Graças a esse legado, o Brasil consolidou sua posição como potência agropecuária. A instituição continua influenciando a produção agrícola, a pesquisa científica e o desenvolvimento de novas tecnologias para o campo.
O legado de Luiz Vicente de Souza Queiroz
A trajetória de Luiz mostra que grandes mudanças exigem visão de futuro e sacrifícios pessoais. Ele não se limitou a ser um fazendeiro rico.
Foi pioneiro ao enxergar que conhecimento e ciência eram motores para o progresso social e econômico.
Sua dedicação permanece viva. Hoje, a ESALQ é uma das principais referências em ciências agrárias no mundo.
O trabalho iniciado no século XIX continua impactando o agronegócio brasileiro, mostrando que o legado de Luiz de Queiroz ainda move gerações.
Com informações de Compre Rural.