Na terça-feira, o governo Trump assinou um acordo preliminar com o Brasil que poderia um dia levar ao lançamento de foguetes dos EUA a partir do espaçoporto costeiro do país sul-americano. O presidente Trump elogiou a ideia de usar o a base, argumentando que “por causa da localização, quantidades enormes de dinheiro seriam economizados”. Mas, embora o local de lançamento ofereça alguns benefícios importantes para os fornecedores de lançamento nos EUA, é possível que essas vantagens não sejam suficientes para atrair todas as grandes empresas de foguetes para a área.
O maior trunfo do espaçoporto do Brasil é sua proximidade com o equador. O local, conhecido como Centro Espacial de Alcântara, está localizado a uma latitude de apenas 2,3 graus ao sul. Para qualquer um que esteja lançando um foguete, esse é um ponto atrativo. Não há muitas opções na Terra para lançá-las perto do equador, e esta base tornaria muito mais fácil para as operadoras de satélite enviar cargas úteis para uma órbita equatorial. Além disso, os foguetes no equador recebem um aumento extra na velocidade, graças à rotação da Terra, que ajuda os foguetes a economizar combustível.
No entanto, a logística de instalação de uma nova base de lançamento no Brasil pode ser um problema para alguns. As maiores empresas norte-americanas de foguetes, como a SpaceX, a United Launch Alliance e a Blue Origin, já têm várias opções de lançamento fora dos EUA que estão relativamente próximas do equador. Uma nova base precisaria de muito investimento inicial para criar a infra-estrutura terrestre no Brasil para suportar o design único de foguete de cada empresa. É muito dinheiro e trabalho para uma pequena quantia de benefícios em vôos. Além disso, o envio para o exterior para o Brasil pode adicionar uma camada extra de tempo e dinheiro que não seria um problema ao ser lançado nos EUA.
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Existem alguns provedores de lançamento na extremidade menor da escala de foguetes que vêem grandes oportunidades no Brasil. Empresas como a startup Vector, que se dedicam exclusivamente ao lançamento de pequenos satélites, defenderam abertamente a possibilidade de lançar-se fora de Alcântara. Isso lhes permitiria lançar missões que eles simplesmente não podem fazer nos Estados Unidos por causa de seu tamanho menor. Como o hardware da empresa não é tão grande quanto o de um foguete Falcon 9 ou Atlas V, muito pouco investimento é necessário para tornar a infraestrutura da barra de lançamento. “Acho que realmente será o domínio dos futuros pequenos foguetes que vão para lá”, diz Jim Cantrell, CEO e co-fundador da Vector, ao The Verge.
Por que o Brasil?
Os foguetes lançados novamente de Alcântara revigorariam o que já foi um grande recurso nacional para o Brasil. Numerosos foguetes soaram na área durante os anos 90. Mas em 2003, um foguete projetado para órbita explodiu na plataforma de lançamento do plataforma durante alguns testes terrestres, matando 21 pessoas próximas e nivelando a torre de lançamento do pad. O acidente interrompeu os esforços do Brasil para lançar dois satélites planejados, e os esforços espaciais do país tiveram dificuldade em se recuperar.
Desde então, o Brasil tem procurado parcerias internacionais para levar os veículos de outros países para Alcântara. O país até cortejou o governo Bush em 2000 para trazer lançamentos comerciais para o local, mas esses esforços foram recebidos com oposição de legisladores brasileiros. Agora, o Brasil está tentando novamente. Em 2018, o governo convidou dois grandes players dos EUA na indústria aeroespacial, Boeing e Lockheed Martin, para visitarem Alcântara, segundo um relatório da Reuters. O objetivo é oferecer um local mais barato do que o vizinho Centro Espacial da Guiana, na Guiana Francesa da América do Sul, onde todos os foguetes da Europa voam.
Alcântara possui alguns benefícios geográficos impressionantes que são necessários para um espaçoporto. É na costa do Brasil, com o Oceano Atlântico a leste. Isso é fundamental para um local de lançamento, já que muitos foguetes se lançam na direção leste para coincidir com a direção da órbita da Terra. Lançar-se sobre uma grande massa de água é importante para a segurança, pois reduz o risco de uma parte do foguete cair sobre alguém ou danificar a propriedade de alguém. É a razão pela qual os lançamentos dos EUA ocorrem em áreas costeiras, como Cape Canaveral, na Flórida, ou na Base Aérea de Vandenberg, na Califórnia.
O Brasil tem uma ligeira vantagem sobre o Cabo Canaveral, localizado a cerca de 28,5 graus norte. Estar perto do equador é ótimo para enviar satélites para um tipo de órbita conhecida como órbita geoestacionária. Este é um caminho 22.000 milhas acima do equador da Terra, onde os satélites estão viajando na mesma velocidade da rotação da Terra. O resultado é que os satélites pairam basicamente sobre o mesmo trecho da Terra em todos os momentos. É um local perfeito para depositar um satélite de comunicações ou uma sonda de vigilância que precisa olhar para a mesma região do planeta em todos os momentos.
Chegar à órbita geoestacionária da Flórida exige um pouco de trabalho extra. Os foguetes devem depositar um satélite em um caminho ligeiramente inclinado do equador (com uma inclinação de 28,5 graus), e os satélites precisam mudar sua direção em órbita queimando um motor de bordo. Isso requer combustível, que ocupa espaço em um satélite e influencia o design do veículo. Em um ponto como Alcântara ou o Centro Espacial da Guiana, tal mudança de avião seria minúscula, exigindo menos combustível.
Além disso, a Terra está realmente se movendo mais rápido no equador do que outros pontos do planeta, o que é uma boa notícia para os foguetes. O equador da Terra é a sua seção mais ampla, por isso tem um longo caminho para percorrer cada vez que o planeta faz uma rotação completa de 24 horas. Um ponto no equador tem que percorrer uma distância muito maior do que um ponto próximo aos pólos, por exemplo. Assim, um lançamento de foguete no equador recebe um aumento extra de velocidade, tornando mais fácil para o veículo alcançar as altas velocidades necessárias para alcançar a órbita. O foguete não precisa de muito combustível, tornando os lançamentos mais eficientes e, potencialmente, permitindo que as empresas carreguem mais carga em um voo.
“Você pode usar um foguete menos potente para lançar o mesmo satélite, ou pode lançar um satélite maior usando o mesmo veículo de lançamento”, conta Lakshmi Kantha, professor de engenharia aeroespacial da Universidade do Colorado em Boulder.
QUEM QUER REALMENTE LANÇAR NO BRASIL?
Todos esses benefícios são suficientes para atrair grandes empresas dos EUA para o Brasil? Não é um enorme inconveniente enviar foguetes sobre a água. Na verdade, a Arianespace envia seus foguetes de barco da Europa e da Rússia para a Guiana Francesa. O ULA também envia partes de seu Delta IV Heavy de barco, e a NASA costumava enviar o tanque externo do Ônibus Espacial de Nova Orleans para a Flórida. “Grandes navios são usados para acomodar equipamentos de grandes dimensões”, diz Dennis Jenkins, engenheiro aeroespacial do Centro de Ciências da Califórnia, que costumava trabalhar no Ônibus Espacial, ao The Verge. “A maioria dos grandes foguetes ao longo da história foram enviados pelo menos parcialmente pelo mar.”
No entanto, mover-se de barco é demorado e um pouco caro, especialmente quando se viaja para o Brasil através do Canal do Panamá. “Isso, é claro, é um dos problemas com os navios – eles são muito lentos”, diz Jenkins. Ter um local de lançamento mais próximo de onde um foguete é construído torna as coisas mais eficientes. Recentemente, o CEO da SpaceX, Elon Musk, observou que o foguete de última geração da empresa, o Starship, seria construído no Texas e na Flórida, ao lado de dois dos locais de lançamento da SpaceX. Além disso, locais como o Texas e a Flórida ainda estão muito distantes do sul, de modo que o benefício de desempenho de se deslocar ainda mais para o sul não será tão importante para as empresas dos EUA, como seria para a Rússia ou países europeus.
Depois, há o custo de equipar Alcântara para atender às necessidades de um provedor de lançamento. Para foguetes maiores, as empresas terão de adicionar blocos de concreto, torres e tanques de armazenamento de combustível à área circundante para apoiar vôos de seus veículos. Criar tudo isso na selva brasileira, onde já existe infraestrutura mínima, exigirá muito trabalho e investimento. Além disso, tudo isso estaria em serviço para reservar mais missões à órbita geoestacionária, que é um tipo de voo que passou por uma recente desaceleração no mercado.
A SpaceX já disse à Reuters que não estava interessada em construir em Alcântara e se recusou a comentar com o The Verge. A Boeing e a Lockheed Martin, que supervisionam a United Launch Alliance, confirmaram que analisaram o local, mas ainda não fizeram grandes planos para investir lá. “Embora não tenhamos feito planos concretos neste momento, o potencial para um novo local de lançamento é um desenvolvimento encorajador, dado o interesse global em oportunidades de lançamento rápidas e eficientes”, disse um representante da Lockheed Martin em uma declaração à The Verge. A Boeing se recusou a comentar.
Em última análise, Alcântara pode ser um investimento melhor para empresas de foguetes que não se parecem com SpaceX ou ULA, que estão perseguindo completamente outro mercado. Empresas como a Vector só são capazes de lançar satélites menores para a órbita baixa da Terra, e esses tipos de sondas são incapazes de alterar significativamente suas direções no espaço. Então, se um pequeno operador de satélite quiser entrar em uma órbita mais baixa sobre o equador, eles basicamente terão que lançar no equador. “Praticamente ninguém está lançando foguetes para órbitas equatoriais da órbita baixa”, diz Cantrell. “Virtualmente ninguém.” A Vector espera ser uma das primeiras empresas a oferecer essa opção, alegando que cerca de 10 clientes pediram por ela.
Um aumento extra na velocidade de um pequeno lançador como o Vector significa muito mais do que para o SpaceX ou o ULA. Poderia ser a diferença entre o lançamento de 200 libras e 300 libras, abrindo a empresa para diferentes tipos de missões. Além disso, os custos de infraestrutura e transporte para os foguetes menores da Vector são menos inconvenientes. “Tudo o que realmente precisamos é de uma plataforma de concreto como a que já construímos no Alasca, e precisamos de permissão para lançar”, diz Cantrell, acrescentando que o foguete da empresa pode caber dentro de um avião.
Alcântara está longe de estar aberta para o negócio de foguetes dos EUA ainda. Os EUA assinaram o que é conhecido como um acordo de salvaguardas tecnológicas com a empresa, que é o mesmo tipo de acordo assinado por Bush em 2000. O acordo precisa ser aprovado pelo Congresso brasileiro, e se isso acontecer, ainda há muito obstáculos regulamentares a percorrer. Mas se for permitido algum dia, a base parece muito mais adequada para foguetes menores do que para os maiores.