Modelos elétricos com baixa autonomia e SUVs de luxo ficaram defasados rapidamente no Brasil. Com estoques parados desde 2022 e 2023, montadoras oferecem descontos expressivos para liberar pátios e dar espaço às novas gerações de veículos.
Nos portais de montadoras e nas vitrines de concessionárias, ainda há zero-km de anos anteriores tentando encontrar comprador em 2025.
A maior parte é formada por elétricos de 2022 e 2023, alguns com autonomia de apenas 192 km, mas há também SUVs potentes, com mais de 500 cv e freios Brembo, oferecidos com cortes de até R$ 100 mil para zerar estoques.
O avanço veloz da tecnologia, a expansão de marcas chinesas e ajustes de portfólio explicam por que tantos modelos ficaram deslocados antes da hora.
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Estoques antigos e pouca vitrine real
Quem visita os sites das fabricantes pode imaginar uma ampla oferta. Na prática, muitos desses veículos quase não aparecem nas lojas físicas.
De acordo com o portal UOL, em matéria publicada nesta segunda-feira (25), restam lotes finais, às vezes pulverizados pelo país, e descontos generosos para escoar unidades produzidas em 2023 ou até antes.
A obsolescência chegou cedo para elétricos de primeira leva. Alguns à combustão também acabaram arrastados por decisões estratégicas e baixa demanda.
Subaru Forester resiste fora do universo elétrico
Entre os encalhados que não dependem de bateria surge o Subaru Forester. Em 2025, o SUV médio acumulou 70 unidades emplacadas.
É o único modelo da marca no Brasil, importado pelo grupo Caoa, e tem público fiel que valoriza soluções tradicionais da Subaru, mesmo sem renovação recente.
É essa clientela que paga R$ 253.900 pelo Forester 2023, com motor Boxer 2.0 de 150 cv e tração integral.
Segundo o UOL, o futuro da operação local permanece indefinido, mas o carro segue como opção para quem prioriza o conjunto mecânico clássico e a tração nas quatro rodas.
Nissan Leaf sai de cena, mas ainda dá as caras
Lançado em 2018 por R$ 178.400, o Nissan Leaf chegou a ser o único elétrico à venda no país. Os anos, porém, cobraram preço.
A autonomia de 192 km e o interior envelhecido reduziram o apelo, ao mesmo tempo em que a inflação do pós-pandemia empurrou a tabela para quase R$ 300 mil.
Houve um facelift em 2022, seguido por campanhas que derrubaram o valor para R$ 159.990.
Hoje, o pioneiro não aparece mais no catálogo oficial da montadora, que concentra esforços na linha Kicks.
Mesmo assim, ainda é possível achar unidades zero-km 2022/23 por R$ 199.990 em algumas praças, resquício de lotes remanescentes.
iCar da Caoa Chery virou rara aparição
O iCar foi a aposta da Caoa Chery para disputar o posto de elétrico mais barato ao estrear em 2022 por R$ 139.990.
As dimensões compactas e a proposta de dois lugares limitaram o alcance comercial. O cenário ficou pior com a chegada de rivais mais modernos, como o BYD Dolphin Mini.
Até 2025, o subcompacto somou 215 unidades comercializadas. Apesar de ainda figurar no site da marca, encontrá-lo é tarefa difícil.
Nos showrooms online sobram versões 2022/23 ou 2023/23, em geral próximas de R$ 119.990.
A falta de giro contrasta com a boa performance da família Tiggo, que concentra a atenção das concessionárias.
BYD Han e Tan perdem protagonismo e encaram descontos
A BYD iniciou sua ofensiva no Brasil em 2022 com dois modelos de luxo: o SUV Tan e o sedã Han.
Ambos oferecem mais de 500 cv, componentes como freios Brembo e acabamento caprichado, com preços de estreia entre R$ 487.590 e R$ 539.990.
Três anos depois, a dupla ficou em segundo plano diante de linhas de maior volume, como Dolphin e Song. Até julho, Han e Tan somavam 70 unidades vendidas no ano.
Para dar vazão ao estoque, a marca partiu para uma política agressiva: R$ 100 mil de desconto por veículo, válida para unidades 2024 e aquisições via CNPJ.
Conforme o UOL, é o tipo de ação que revela como certos produtos “envelheceram” rápido num portfólio que se renova de forma acelerada.
Jaguar I-Pace tenta virar a página
Ícone do início da era elétrica premium no país, o Jaguar I-Pace desembarcou em 2019. De lá para cá, recebeu apenas mudanças pontuais a cada virada de linha.
Com desempenho discreto, restaram unidades 2022/23 ofertadas a partir de R$ 380 mil. Outros zero-km da marca seguiram a mesma trilha. Dependem de estoque remanescente, reabastecido pela última vez no ano passado.
O movimento tem explicação. A Jaguar prepara uma renovação profunda de estilo, tecnologia e posicionamento. Por isso, não deverá lançar novidades até 2026 ou 2027.
Nesse intervalo, as concessionárias focam em seminovos e pós-venda.
Fiat 500e quase só no papel
Também da primeira onda de elétricos, o Fiat 500e marcou a estreia da marca italiana nesse segmento em 2021, por R$ 239.990 em agosto daquele ano.
A etiqueta ainda subiu para R$ 255.990 antes de recuar recentemente para R$ 214.990. O modelo continua visível no site da Fiat, porém apenas com unidades 2022 listadas. Na rede, é raro encontrá-las.
Concessionárias consultadas relatam que não têm o 500e em estoque há bastante tempo. O lote 2024 que a fabricante cogitava trazer no ano passado não veio e, ao que tudo indica, não deve vir.
O que sustenta o “cemitério” de modelos
O encalhe tem múltiplas causas. A evolução tecnológica dos elétricos — sobretudo em bateria, autonomia e eletrônica de bordo — encurtou o ciclo de vida de projetos lançados poucos anos atrás.
Ao mesmo tempo, novas marcas, em especial chinesas, ampliaram a competição com preços agressivos e pacotes de equipamentos mais atraentes, reduzindo o interesse por versões antigas.
Há ainda os movimentos de portfólio das próprias montadoras, que priorizam linhas de maior volume e deixam para trás carros de nicho, mesmo que tecnicamente competentes.
O resultado é um mercado com estoques residuais, descontos altos e modelos que, embora ainda estejam nos catálogos, quase não existem nas lojas.
Enquanto consumidores aguardam produtos recém-lançados e mais eficientes, as marcas aproveitam para limpar pátios.
Há oportunidades de preço, sobretudo para quem aceita abrir mão de conectividade atualizada ou de uma autonomia maior.
Por outro lado, a percepção de que certos carros ficaram defasados em pouco tempo reforça a sensação de que a decisão de compra precisa ponderar depreciação, rede de assistência e evolução do software ao longo do uso.