O AIRPod, carro movido a ar comprimido criado pela MDI, promete autonomia de 120 km e velocidade de 80 km/h sem usar gasolina nem eletricidade, mas ainda não chegou à produção comercial.
O sonho de um carro que não depende nem de combustível fóssil nem de baterias elétricas pesadas ganhou força no início dos anos 2000, quando o engenheiro francês Guy Nègre apresentou ao mundo o AIRPod, um pequeno veículo urbano movido exclusivamente a ar comprimido. Desenvolvido pela Motor Development International (MDI), o protótipo prometia um futuro limpo e acessível, com autonomia de até 120 quilômetros e velocidade máxima de 80 km/h, sem emitir um grama de CO₂.
A ideia parecia revolucionária: usar o ar que respiramos como fonte de energia. O conceito do AIRPod despertou o interesse de montadoras, ambientalistas e até de governos, que viam na tecnologia uma alternativa viável ao petróleo e à eletrificação em massa. Mas, mesmo após duas décadas de anúncios e testes, o modelo nunca chegou à produção comercial, tornando-se um dos projetos mais curiosos e promissores que o mercado automotivo já viu.
Um motor movido a ar comprimido
O funcionamento do AIRPod é simples e engenhoso. Em vez de queimar combustível ou depender de células de íons de lítio, o veículo utiliza tanques de ar comprimido a 350 bar (aproximadamente 5.000 psi). Quando o ar é liberado, ele movimenta os pistões de um pequeno motor pneumático que converte a pressão em energia mecânica.
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O sistema é completamente limpo: o único “gás de escape” é o próprio ar, que sai frio e seco. Essa simplicidade torna o veículo leve, barato de manter e extremamente eficiente em trajetos curtos.

De acordo com a MDI, um tanque de ar pode ser recarregado em apenas 3 a 4 minutos em uma estação de compressão ou em cerca de 3 horas usando um pequeno compressor doméstico ligado à tomada.
A autonomia declarada pela empresa é de 100 a 120 quilômetros, o suficiente para deslocamentos urbanos. E com velocidade limitada a 80 km/h, o AIRPod se enquadraria na categoria dos veículos urbanos compactos, ideais para cidades congestionadas e trajetos curtos.
Um design compacto para o trânsito urbano
O AIRPod foi concebido como um veículo ultraleve de três rodas, com estrutura de fibra de vidro e design futurista, lembrando uma cápsula. Mede apenas 2,1 metros de comprimento e 1,6 metro de largura, e seu interior acomoda até três pessoas, incluindo o motorista.
O volante tradicional foi substituído por joysticks laterais, o que reforça o apelo de modernidade e reduz o número de componentes mecânicos. A cabine é totalmente fechada, e o painel digital exibe informações como pressão do ar, autonomia e velocidade.
O peso total do veículo é de menos de 300 kg, o que contribui para sua eficiência energética e facilidade de movimentação.
Parceria com a Tata Motors e as promessas não cumpridas
O projeto ganhou destaque mundial em 2007, quando a gigante Tata Motors, da Índia, firmou uma parceria com a MDI para desenvolver a tecnologia e adaptá-la à produção em larga escala.
A expectativa era lançar o AIRPod comercialmente na Índia e na Europa entre 2012 e 2015, como parte de uma linha de veículos urbanos ecológicos.
A ideia empolgou o mercado: um carro que poderia ser abastecido com ar comprimido, custando uma fração de um veículo elétrico e sem necessidade de baterias caras. No entanto, as dificuldades técnicas logo se tornaram evidentes.
Problemas relacionados à eficiência energética, durabilidade dos tanques e custos de compressão adiaram o lançamento repetidas vezes.
Em 2018, relatórios da IEEE Spectrum e da Wikipedia confirmaram que nenhum AIRPod havia sido entregue ao público, e que o projeto permanecia em desenvolvimento experimental. Mesmo com novos protótipos apresentados pela MDI, a produção comercial nunca começou.
Um conceito ainda vivo
Apesar das decepções, a tecnologia de ar comprimido ainda é estudada por empresas e universidades. O próprio fundador da MDI, Guy Nègre falecido em 2016, acreditava que o maior obstáculo era econômico, não técnico. Produzir tanques capazes de armazenar ar a alta pressão de forma segura e acessível ainda é um desafio, mas a ideia continua viva.
Nos últimos anos, a MDI retomou o projeto em parceria com a Air Future Group, que busca adaptar o conceito a novos materiais e sistemas híbridos, combinando ar comprimido e motores elétricos. A meta é lançar uma nova geração do AIRPod, mais eficiente e com autonomia ampliada, até o fim da década.
Se esse plano finalmente sair do papel, o carro movido a ar poderá se tornar uma alternativa real à mobilidade elétrica — especialmente em países em desenvolvimento, onde o custo da infraestrutura de recarga é um obstáculo.
Uma promessa que ainda fascina
Mesmo sem chegar às ruas, o AIRPod permanece como um símbolo da busca por soluções criativas e sustentáveis no setor automotivo. Seu apelo está justamente na simplicidade: um veículo leve, barato e que literalmente usa o ar como combustível.
Embora nunca tenha sido lançado comercialmente, ele representa um capítulo importante na história da inovação automotiva — uma lembrança de que o futuro pode ser escrito de muitas formas, e que até o ar que respiramos pode, um dia, mover o mundo.