Em um feito inédito na história da engenharia automotiva, o Thrust SSC se tornou o primeiro — e único — carro a romper a barreira do som em terra firme. Equipado com dois motores de avião de caça, ele alcançou uma velocidade tão absurda que só pôde ser pilotado uma única vez. Descubra como esse veículo a jato desafiou os limites do possível e se eternizou como o carro mais rápido do mundo.
A obsessão humana por quebrar recordes sempre alimentou a evolução das máquinas. No caso do Thrust SSC (SuperSonic Car), essa busca foi levada a um novo patamar: ultrapassar a velocidade do som usando quatro rodas. O projeto nasceu no Reino Unido, liderado pelo engenheiro Richard Noble, que já havia conquistado o recorde anterior com o Thrust 2 em 1983. Mas o Thrust SSC não era apenas uma atualização: era um monstro em forma de carro. Um veículo a jato com mais de 16 metros de comprimento, 3,7 metros de largura e pesando 10,5 toneladas. Ele foi projetado exclusivamente para bater o recorde mundial de velocidade terrestre — e, mais do que isso, ser o primeiro carro supersônico da história – carro que acelera mais rápido que um foguete!
Uma velocidade absurda: quebrando a barreira do som
O Thrust SSC não apenas quebrou recordes, mas também a própria física. Ao ultrapassar a velocidade do som (aproximadamente 1.235 km/h ao nível do mar), o veículo produziu um estrondo sônico, fenômeno até então exclusivo de aeronaves supersônicas. Para alcançar essa velocidade absurda, o carro foi projetado com uma aerodinâmica refinada e estabilidade excepcional, garantindo que permanecesse no solo mesmo em velocidades extremas.
O Thrust SSC foi construído com um único propósito: quebrar o recorde de velocidade terrestre. Sua estrutura e design não foram pensados para múltiplas utilizações ou para conforto do piloto. Além disso, os custos operacionais e os riscos envolvidos em cada corrida são extremamente altos. Após alcançar seu objetivo, o veículo foi aposentado e atualmente está em exibição no Coventry Transport Museum, no Reino Unido.
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As entranhas do monstro: carro mais rápido do mundo tinha dois motores de avião de guerra
Para atingir esse objetivo quase impossível, a equipe do projeto optou por utilizar dois motores Rolls-Royce Spey 202, os mesmos usados no caça F-4 Phantom II da Força Aérea Britânica. Cada motor gera 50 mil HP, totalizando mais de 110 mil cavalos de potência — o suficiente para mover não apenas um carro, mas um comboio de caminhões ou uma turbina de usina.
O empuxo combinado gerado era de 223 kN (cerca de 22.700 kgf). Isso fazia o Thrust SSC acelerar de 0 a 1600 km/h em menos de 55 segundos. Um foguete comum, como o Falcon 9, atinge essa velocidade após 60 segundos de decolagem. Ou seja, o carro mais rápido do mundo acelera mais rápido que um foguete.
Engenharia de guerra adaptada à terra
A construção do Thrust SSC envolveu aerodinâmica de mísseis, reforços estruturais dignos de tanques e sistemas de estabilidade inéditos para manter o carro no chão. Afinal, a velocidade absurda pretendida geraria ondas de choque que poderiam tirar o veículo do solo.
Um dos maiores desafios foi manter o Thrust SSC estável e seguro ao cruzar a barreira do som, pois nenhum outro carro havia enfrentado esse nível de turbulência atmosférica e resistência aerodinâmica. O deserto de Black Rock, em Nevada (EUA), foi escolhido como palco do feito por sua vasta área plana e seca.
15 de outubro de 1997: o dia em que o som foi deixado para trás
Às 10h da manhã daquele dia, o piloto Andy Green, ex-membro da Força Aérea Real, entrou para a história. Em duas passagens consecutivas (obrigatórias para validação do recorde), o Thrust SSC atingiu uma velocidade média de 1.227,985 km/h (763,035 mph). Isso foi Mach 1,02 — ou seja, superou a velocidade do som em terra pela primeira vez na história da humanidade.
O estrondo sônico, típico de aviões militares, foi ouvido por toda a região. Mas desta vez não vinha dos céus — vinha do solo. A façanha foi reconhecida pelo Guinness World Records e pela FIA, tornando o Thrust SSC o carro mais rápido do mundo e o único a entrar na categoria supersônica terrestre.
Por que o carro mais rápido do mundo só pode ser dirigido uma vez?
Ao contrário do que muitos pensam, o Thrust SSC não foi feito para corridas repetidas. Ele foi desenvolvido exclusivamente para quebrar o recorde de velocidade terrestre. Cada corrida demandava uma equipe de mais de 50 pessoas, uso intenso de combustível de aviação, cálculos meteorológicos, limpeza da pista de 21 km e alta precisão em todos os sistemas.
Além disso, o estresse estrutural sofrido em uma corrida a mais de 1.200 km/h é tão extremo que qualquer repetição colocaria em risco o piloto e a integridade da máquina. Por isso, após o recorde, o carro foi aposentado e hoje está em exibição permanente no Coventry Transport Museum, no Reino Unido.
Comparações para entender o feito
- Velocidade do Thrust SSC: 1.227 km/h
- Velocidade de um caça F-16 em voo de cruzeiro: 1.100 km/h
- Velocidade de um Boeing 747: 980 km/h
- Velocidade de um foguete Falcon 9 após 60s: ~1.600 km/h
- Velocidade de um Fórmula 1 na reta: 370 km/h
Ou seja, o Thrust SSC acelera mais que qualquer carro, avião comercial e rivaliza com foguetes nos primeiros minutos de voo.
O que acontece com o carro a jato quando atinge essa velocidade?
Ao ultrapassar Mach 1 (velocidade do som), um veículo terrestre enfrenta:
- Onda de choque frontal, que aumenta o arrasto;
- Dificuldade extrema de estabilidade, exigindo sistemas de controle e aerodinâmica impecável;
- Risco de decolagem, mesmo com seu peso, se o design não for perfeitamente equilibrado.
O Thrust SSC foi capaz de manter o contato com o solo graças a sistemas de suspensão adaptativa, design em formato de dardo e pneus feitos de alumínio sólido (borracha comum explodiria com o calor e atrito).
A corrida pelo próximo recorde: Bloodhound LSR
Desde 2008, Richard Noble e Andy Green estão envolvidos em um novo projeto: o Bloodhound LSR, um carro supersônico híbrido movido por um motor Rolls-Royce Eurojet EJ200 (do Eurofighter Typhoon) e um motor de foguete alimentado por peróxido de hidrogênio.
O objetivo do Bloodhound é superar a marca de 1.600 km/h, tornando-se o primeiro veículo a cruzar Mach 1.3 em terra firme. A pandemia e falta de financiamento atrasaram o projeto, mas testes recentes em pistas da África do Sul mostraram que o carro é capaz de ultrapassar 1.000 km/h com segurança.
Por que não há mais veículos como esse?
Criar um carro que acelera como um foguete e só pode ser dirigido uma vez envolve:
- Custos milionários;
- Segurança extrema;
- Autorização de governos e agências internacionais;
- Demanda por áreas gigantescas para teste;
- Retorno quase exclusivamente simbólico ou científico.
Esses projetos não têm aplicação comercial. Servem como marcos de engenharia, exploração dos limites físicos e inspiração tecnológica.
O legado do carro mais rápido do mundo
O Thrust SSC entrou para a história não apenas como o veículo mais rápido da Terra, mas como símbolo de inovação, coragem e superação de limites. Sua criação mostrou que, com planejamento, engenharia precisa e paixão, é possível alcançar o que parecia inalcançável.
Andy Green, o homem que pilotou o carro, também se tornou lenda viva. Até hoje, é o único ser humano a controlar uma máquina em solo terrestre acima da velocidade do som.
Curiosidades rápidas para engajar o leitor
- O consumo de combustível do Thrust SSC durante a corrida foi de cerca de 18 litros por segundo.
- Os pneus não tinham ar: eram blocos maciços de alumínio para suportar a velocidade.
- O carro foi testado por anos em simulações de computador e túneis de vento da NASA.
- O estrondo sônico foi captado por sensores militares, que pensaram se tratar de teste nuclear ou míssil.
O carro que acelera mais rápido que um foguete é real. Seu nome é Thrust SSC, e sua existência marca um capítulo único na história da mobilidade. Ao ultrapassar a velocidade do som e deixar para trás todos os recordes anteriores, ele provou que o impossível pode ser apenas uma meta ainda não alcançada.
Enquanto aguardamos os próximos passos do Bloodhound LSR, o mundo ainda reverencia o rugido do único veículo terrestre que ousou gritar mais alto que o próprio som.
Em resumo, muito desperdicio de recursos para uma broncadeira ****