Câmbio AL4 da Peugeot, Citroën e Renault acumula falhas, trancos e patinagem. Entenda por que é um dos mais criticados do Brasil.
Entre os motoristas brasileiros, poucas peças automotivas acumulam tanta má fama quanto o câmbio automático AL4. Produzido para equipar modelos de montadoras francesas como Peugeot, Citroën e Renault, ele se tornou alvo de críticas recorrentes desde os anos 2000. A pergunta que se repete em fóruns, oficinas e até petições públicas é direta: o AL4 é o pior câmbio automático vendido no Brasil?
A resposta passa por entender sua origem, os sintomas mais relatados, as falhas técnicas conhecidas e os esforços de manutenção que, em alguns casos, ainda garantem sobrevida a essa transmissão.
Origem do câmbio AL4 e entrada no mercado brasileiro
O câmbio AL4 nasceu no fim da década de 1990, na Europa, como uma solução de quatro marchas automáticas voltada para motores compactos de até 2.0 litros. No Brasil, ele estreou em modelos como o Citroën Xsara e rapidamente se espalhou pela linha Peugeot 206, 307, 408, além de Renault Mégane, Scenic e outros veículos da aliança PSA-Renault.
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Na teoria, era uma alternativa acessível para popularizar os automáticos em um mercado dominado por transmissões manuais. Na prática, porém, sua trajetória foi marcada por altos índices de falhas, gerando desconfiança nos consumidores.
Principais problemas relatados com o câmbio AL4
As queixas mais comuns de donos de veículos com o AL4 se repetem ao longo dos anos e envolvem falhas tanto mecânicas quanto eletrônicas. Os sintomas mais conhecidos são:
- Trancos nas trocas de marcha, especialmente entre a 1ª e a 2ª, provocando solavancos desconfortáveis.
- Patinagem, quando o carro acelera mas não entrega potência proporcional às rodas.
- Modo de emergência, que trava o câmbio em 3ª marcha após o sistema identificar falhas.
- Vazamentos de fluido, causados por problemas de vedação, prejudicando a lubrificação.
- Desgaste precoce, com relatos de falhas graves já a partir de 35 mil km rodados.
Oficinas especializadas afirmam que essas ocorrências são tão frequentes que, em muitos casos, basta identificar o modelo do carro para prever o histórico de problemas.
A polêmica da manutenção e do fluido “vitalício”
Uma das maiores controvérsias em torno do AL4 está relacionada ao óleo da transmissão. Manuais de época falavam em “fluido vitalício”, sugerindo que não havia necessidade de troca. Na prática, a degradação do óleo em altas temperaturas fazia com que componentes internos sofressem desgaste acelerado.
Oficinas independentes e especialistas recomendam a substituição do fluido a cada 40 a 60 mil km, contrariando a promessa original de “manutenção zero”. Muitos motoristas que seguiram as instruções do manual acabaram enfrentando falhas prematuras, o que ampliou a fama negativa do câmbio.
Reclamações, petições e custos de reparo
A insatisfação com o AL4 chegou a tal ponto que consumidores organizaram petições públicas pedindo recall da transmissão, alegando defeitos recorrentes mesmo em veículos com baixa quilometragem. Em fóruns automotivos, há registros de motoristas que relataram orçamentos de reparo que ultrapassavam R$ 8 mil — um valor alto para veículos usados de menor valor de mercado.
Casos mais extremos, como o de um Peugeot 2008 com falha grave no câmbio e orçamento de reparo na casa dos R$ 80 mil, reforçam a imagem de que o AL4 não apenas é frágil, mas também pode gerar custos desproporcionais ao veículo em que está instalado.
Por que o AL4 quebra tanto?
As causas mais apontadas para a alta taxa de falhas incluem:
- Sensores e eletroválvulas defeituosas, que provocam trocas irregulares e acionam o modo de emergência.
- Sistema de arrefecimento ineficiente, incapaz de manter a temperatura do fluido em condições severas.
- Projeto limitado, já que se trata de uma transmissão de quatro marchas em um mercado que evoluiu para caixas mais modernas e resistentes.
- Falta de manutenção preventiva, agravada pela recomendação inicial de óleo vitalício.
Essa combinação fez do AL4 um dos câmbios mais criticados do país, mesmo em comparação com rivais de outras marcas que também tiveram lotes problemáticos.
Ainda há quem defenda o AL4?
Apesar da péssima reputação, há motoristas e mecânicos que defendem que o câmbio AL4 pode funcionar bem se tratado corretamente. Com trocas regulares de óleo, revisões frequentes e uso moderado, alguns usuários relatam quilometragens elevadas sem falhas graves.
Outro argumento é o custo relativamente mais baixo de reparo em comparação com transmissões automáticas modernas de dupla embreagem ou CVT, que podem ser ainda mais caras quando dão problema.
Ou seja: o AL4 não é um câmbio condenado desde o nascimento, mas exige um nível de cuidado e atenção que muitos consumidores não esperavam ao comprar veículos equipados com ele.
Impactos no mercado de usados
A má fama do AL4 afeta diretamente o mercado de seminovos e usados. Carros equipados com essa transmissão costumam ter desvalorização maior, justamente porque potenciais compradores conhecem os riscos e os custos associados à manutenção.
Em anúncios, não é raro que vendedores tentem destacar revisões completas do câmbio como forma de atrair interessados. Ainda assim, a reputação negativa pesa, e muitos evitam qualquer negociação quando o nome AL4 aparece.
O legado de um câmbio polêmico
O câmbio AL4 pode não ter estatísticas oficiais que comprovem, em números, que ele é o “pior do Brasil”. Mas o histórico de quebras, os milhares de relatos de proprietários, as petições por recall e os custos de manutenção criaram um estigma que dificilmente será apagado.
Entre os motoristas, a dúvida já se transformou em consenso: quem compra um carro com AL4 precisa estar preparado para investir em manutenção constante ou, em muitos casos, para enfrentar dores de cabeça.
O legado dessa transmissão no Brasil é o de um alerta para consumidores e fabricantes: prometer fluido vitalício e manutenção simples não basta quando a realidade mostra falhas recorrentes. No fim, o AL4 se tornou mais que um câmbio — virou um símbolo de como um projeto pode marcar negativamente a reputação de marcas inteiras no mercado automotivo.