Mudanças no consumo e inovação no setor impulsionam uma nova era para as cervejas no Brasil, com marcas investindo em saúde, variedade e experiências que desafiam o domínio de rótulos tradicionais. Tendências indicam um público mais exigente e diversificado.
O consumo de cerveja no Brasil vem passando por uma transformação acelerada, impulsionada por novos comportamentos dos consumidores e pela entrada de produtos inovadores no mercado.
Hoje, marcas que oferecem cervejas com vitamina D, sem glúten ou com zero álcool ganham espaço e alteram significativamente a dinâmica de um setor historicamente dominado por grandes rótulos populares.
Consumo de cerveja e domínio das grandes marcas
Conforme publicado pelo canal do Youtube Invest News, durante décadas, marcas tradicionais como Skol, Brahma e Antarctica, todas da Ambev (Companhia de Bebidas das Américas), dominaram as prateleiras e o imaginário coletivo brasileiro.
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Essas cervejas, produzidas em larga escala, eram associadas a momentos de lazer, festas populares e campanhas publicitárias marcantes.
No entanto, o cenário atual é bem diferente.
O consumidor tornou-se mais exigente e passou a buscar opções que combinam sabor, saúde e identidade, abrindo espaço para novos competidores e segmentos.
Premiumização e fragmentação do mercado de cerveja
Essa mudança se acentuou especialmente na última década, impulsionada por dois fatores principais: a busca por diferenciação e a ascensão da Heineken no mercado brasileiro.
A entrada mais agressiva de marcas internacionais e o fortalecimento das cervejarias artesanais aumentaram o número de opções disponíveis, tornando o consumo muito mais fragmentado.
Segundo estimativas do setor, atualmente existem milhares de rótulos de cerveja disponíveis no país, a ponto de um consumidor precisar de mais de um século para experimentar todas as marcas nacionais oficialmente registradas, caso provasse uma por dia.
O fenômeno chamado de “premiumização” ganhou força, tornando a escolha da cerveja uma decisão de ocasião, não mais apenas um hábito rotineiro.
Marcas como Heineken e Stella Artois passaram a ser vistas como sinal de status, principalmente entre consumidores urbanos.
A Heineken, em particular, investiu em marketing, presença em pontos de venda estratégicos e ações voltadas ao público jovem, conquistando cerca de 25% do mercado brasileiro em 2025, de acordo com dados da própria empresa.
A Ambev ainda lidera o setor, com aproximadamente 60% de participação, mas seu domínio já não é absoluto como nos anos 2000, quando detinha mais de 70%.
Jovens mudam o consumo de cerveja no Brasil
A nova geração de consumidores também influencia as transformações do setor.
Há um movimento crescente de moderação no consumo de álcool, especialmente entre jovens adultos.
Dados da consultoria Euromonitor International mostram que, no Brasil, o mercado de cerveja deve crescer apenas 1% ao ano até 2029, sinalizando uma estagnação no número de consumidores regulares.
Em resposta, as empresas intensificaram o lançamento de produtos alternativos, como cervejas sem álcool, versões com redução calórica e receitas enriquecidas, a exemplo das cervejas com adição de vitamina D.
Estratégias das grandes empresas e inovação
“Nosso objetivo agora é atender o maior número possível de perfis e ocasiões com o menor número de rótulos viáveis”, explicou Gustavo Castro, executivo responsável pela estratégia e portfólio da Ambev.
A empresa revisou seu portfólio, apostando em inovação, como no caso da Estella Pure Gold (sem glúten e com menos calorias) e da Corona Sunbrew (sem álcool e enriquecida com vitamina D), além de adotar a simplificação, concentrando esforços em “mega brands” como Brahma, Spaten, Budweiser e Corona.
Esse movimento estratégico de concentração em grandes marcas viáveis levou ao corte de rótulos menos competitivos, como Bohemia e Antarctica, que perderam espaço no portfólio.
Além disso, a Ambev utilizou plataformas digitais como o Zé Delivery para testar novos produtos regionalmente antes de ampliar a distribuição, como ocorreu com a Spaten, que só ganhou escala nacional após superar concorrentes internacionais em mercados-piloto.
Economia da ampulheta e tendências de mercado
O consultor Cid Passini classifica essa tendência como “economia da ampulheta”, em que tanto as cervejas populares de baixo custo quanto as premium ganham força, enquanto os produtos intermediários perdem relevância.
Segundo ele, “há espaço para uma cerveja premium mais acessível, assim como para uma cerveja popular que oferece boa relação custo-benefício”.
Saúde, moderação e novos hábitos
Outro fator importante para a mudança de comportamento é a preocupação crescente com a saúde e o bem-estar.
O aumento das opções de cervejas sem álcool ou com baixo teor calórico atende um público que busca reduzir o consumo de álcool sem abrir mão do convívio social.
O termo “zebra striping” passou a designar o hábito de alternar entre cervejas tradicionais e opções zero álcool em uma mesma ocasião, prática cada vez mais comum entre consumidores preocupados com moderação.
Tendências internacionais e o futuro da cerveja
Fora do Brasil, o cenário acompanha tendências semelhantes.
Nos Estados Unidos, a Michelob Ultra — focada em consumidores que buscam um estilo de vida mais saudável — registrou crescimento de 3,1% nas vendas entre março e junho de 2025, enquanto marcas tradicionais como Bud Light perderam espaço.
Especialistas apontam que fatores como o uso crescente de medicamentos para emagrecimento e a mudança de hábitos alimentares também contribuem para a revisão do consumo de bebidas alcoólicas.
A indústria cervejeira, diante desse novo contexto, investe em inovação e pesquisa para se manter relevante, oferecendo produtos que combinam tradição e modernidade, sem perder de vista as demandas por saúde e praticidade.
O desafio está em acompanhar a diversidade de perfis e ocasiões, garantindo que o copo do consumidor esteja sempre cheio, seja com uma cerveja clássica, uma artesanal, uma versão sem glúten ou até mesmo uma cerveja zero álcool com vitamina D.