Aprovada em 2024, a Lei Combustível do Futuro torna obrigatória a mistura de gás renovável ao gás fóssil a partir de 2026, impulsionando projetos de biometano em aterros, usinas e empresas como Petrobras, Gás Verde e Orizon
O biometano, combustível renovável derivado do biogás, se consolida como um dos pilares da nova matriz energética brasileira. Com potencial para substituir até 70% do diesel consumido no país, o setor deve atrair R$ 25 bilhões em investimentos até 2030, mobilizando grandes empresas e projetos espalhados por diversas regiões.
O marco regulatório veio com a Lei Combustível do Futuro, que passa a obrigar, a partir de 2026, a mistura de gás renovável ao gás natural. Com isso, produtores, distribuidoras e governos estaduais já iniciaram uma corrida para ampliar a produção, construir gasodutos e oferecer incentivos fiscais que acelerem o uso do biometano no transporte e na indústria.
O que é o biometano e por que ele ganhou força agora
Chamado de “pré-sal caipira”, tem composição química similar ao gás natural, podendo ser usado diretamente em redes, veículos e indústrias sem adaptações.
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A virada recente no setor veio com a regulamentação da Lei Combustível do Futuro, que cria metas obrigatórias de uso de biometano — começando por 1% em 2026, mas podendo subir para 10%.
Será possível usar Certificados de Garantia de Origem (CGOB) como alternativa de cumprimento da meta, o que atrai investidores e cria um mercado paralelo.
Apesar do entusiasmo, o setor ainda enfrenta incertezas. A meta de 1% ainda não foi oficialmente fixada pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), o que pode dificultar o cumprimento do cronograma já em 2026.
A rastreabilidade e credibilidade dos certificados também são desafios técnicos e regulatórios em aberto.
Quem está investindo e como será o impacto
Empresas como Petrobras, Gás Verde e Orizon estão entre os protagonistas desse novo ciclo.
A Petrobras já negocia com players do setor para investir em plantas existentes, com expectativa de anunciar aportes até o segundo trimestre de 2026.
A Gás Verde, maior produtora da América Latina a partir de aterros sanitários, tem duas unidades em operação produzindo 160 mil m³ por dia e prevê chegar a 650 mil m³/dia até 2028, distribuídos por seis estados.
Além de atender a indústria, o biometano já abastece frotas pesadas de empresas como Henkel e L’Oréal.
A Orizon também acelera. Com uma planta em Paulínia (SP) e outras duas prestes a operar, a empresa estima atingir 1,3 milhão de m³/dia até 2029.
A circularidade é um trunfo: o lixo urbano vira gás, gerando valor onde antes havia passivo ambiental.
O desafio da logística e a construção de novos corredores verdes
Apesar do grande potencial, a logística é um gargalo importante.
Como as usinas ficam no interior do país e os gasodutos estão na costa, o transporte depende de caminhões — o que aumenta custos e emissões, indo na contramão da descarbonização.
Para resolver isso, empresas como a Necta, do Grupo Cosan, planejam criar corredores sustentáveis ligando polos de produção a centros consumidores.
A distribuidora já definiu 20 postos de combustível a biometano, sendo 10 em operação até o fim do ano, e mapeia rotas entre São Paulo, Mato Grosso, Minas Gerais e Paraná.
A meta é clara: substituir o diesel por biometano no transporte de carga, especialmente em regiões com rodovias movimentadas e produção agroindustrial relevante.
A área de concessão da Necta inclui, por exemplo, Presidente Prudente, primeira cidade do Brasil totalmente abastecida com biometano.
Incentivos estaduais e o papel das políticas públicas
Estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul já oferecem benefícios fiscais importantes, como redução de ICMS e isenção de IPVA para veículos movidos a biometano.
Esses incentivos são considerados cruciais por empresas do setor para decidir onde investir.
Além disso, o BNDES já começou a financiar novas plantas.
A Gás Verde, por exemplo, recebeu R$ 131 milhões para duas unidades, sendo uma delas em Pernambuco com capacidade para 45,6 mil m³/dia, entrando em operação em 2026.
O potencial brasileiro é gigantesco. Há cerca de 3 mil lixões a céu aberto que podem ser transformados em aterros produtivos, e usinas de cana-de-açúcar com capacidade para produzir milhões de metros cúbicos de gás por dia.
O país tem matéria-prima, demanda e escala para liderar globalmente.
Você acredita que o biometano será mesmo capaz de substituir o diesel no transporte pesado? Acha que os incentivos atuais são suficientes para destravar esse mercado? Deixe sua opinião nos comentários — queremos ouvir quem vive isso na prática.