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Esse banheiro público foi usado por espiões da Guerra Fria — e ajudou a União Soviética a construir submarinos nucleares mais silenciosos

Escrito por Débora Araújo
Publicado em 05/07/2025 às 10:08
Esse banheiro público foi usado por espiões da Guerra Fria — e ajudou a União Soviética a construir submarinos nucleares mais silenciosos
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Um banheiro público em uma vila tranquila da Inglaterra foi peça-chave em uma das redes de espionagem mais impactantes da Guerra Fria. Descubra essa história surpreendente.

À primeira vista, o banheiro público de Alresford, uma vila inglesa charmosa e pacata a cerca de 1h30 de Londres, parece absolutamente comum. Mas esse local, tão rotineiro, serviu como ponto de coleta de documentos secretos da Marinha britânica nos anos mais tensos da Guerra Fria. Lá, espiões soviéticos trocavam informações confidenciais escondidas dentro da caixa acoplada do vaso sanitário. Era o tipo de lugar em que ninguém prestaria atenção — justamente por isso foi escolhido. Hoje, esse banheiro é parte oficial da história britânica e carrega uma placa que diz: “Informações secretas escondidas neste banheiro foram coletadas periodicamente por Harry Houghton.”

O início de tudo: desconfiança, traição e muito dinheiro suspeito

Nos anos 1950, Harry Houghton, um funcionário da base naval de Portland, parecia ter uma vida comum — mas a realidade era outra. Ele fazia constantes viagens a Londres e voltava com dinheiro demais para o padrão de um burocrata da Marinha.

Sua esposa, Peggy Houghton, começou a desconfiar. Encontrava envelopes estranhos, documentos confidenciais e viu o marido se transformar em alguém paranoico e agressivo. Em 1955, ela alertou os superiores de Harry — três vezes. Ignorada, foi acusada de ser uma esposa ciumenta. Mal sabiam eles que estavam diante de um dos maiores escândalos de espionagem da Inglaterra.

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A conexão soviética e a criação da rede Portland

Houghton não agia sozinho. Ele formou, junto com sua nova parceira, Ethel Gee (apelidada de “Bunty”), e outros três agentes soviéticos, a temida rede de espionagem de Portland, que atuou por anos sob as barbas da inteligência britânica. O esquema era engenhoso:

  • Harry e Bunty fotografavam documentos ultrassecretos na base naval;
  • Escondiam as imagens dentro de um banheiro público em Alresford;
  • Os agentes soviéticos as recolhiam e colavam os microfilmes dentro de livros antigos, substituindo até pontos finais;
  • Os livros eram então enviados para Moscou, onde os micropontos eram lidos com aparelhos disfarçados de moedas ou botões.

Os personagens excêntricos por trás da espionagem

Um dos envolvidos era Gordon Lonsdale, um suposto canadense vendedor de jukeboxes. Na verdade, ele era um agente da KGB, com identidade forjada. Seus aliados, os Krogers, eram “livreiros de antiguidades” — na verdade, também espiões experientes que haviam colaborado com a URSS desde a época do Projeto Manhattan, nos EUA.

Com uma rotina aparentemente normal — jantares, idas ao teatro, visitas à livraria —, esse grupo repassou informações valiosas sobre submarinos nucleares e armamentos britânicos ao inimigo.

Denúncia, rastreamento e prisão cinematográfica

Em 1960, a CIA enviou uma denúncia ao serviço secreto britânico. Um espião polonês revelou que um agente da Marinha britânica havia sido cooptado pela KGB em Varsóvia — era Harry.

O MI6 rastreou Houghton, seguiu seus passos até o banheiro de Alresford, depois até a casa dos Krogers. Em janeiro de 1961, em frente ao Teatro Old Vic, em Londres, Houghton, Bunty e Lonsdale foram presos. Na bolsa de Bunty estavam documentos secretos fresquinhos.

Os Krogers foram capturados em seguida. A casa onde moravam era um verdadeiro laboratório de espionagem.

O julgamento e o destino dos espiões

O julgamento foi um dos maiores casos de espionagem da história britânica.

  • Harry e Bunty foram condenados a 15 anos de prisão (cumpriram 9)
  • Lonsdale recebeu 25 anos, mas foi trocado por um agente britânico preso na URSS
  • Os Krogers pegaram 20 anos, mas também foram trocados e viveram o resto da vida como instrutores de espiões em Moscou — viraram até selo postal soviético

Uma história de espionagem, traição — e amor

Depois de presos, Harry e Bunty se casaram e permaneceram juntos até a morte, nos anos 1980. As cartas de amor trocadas entre eles na prisão foram desclassificadas em 2019, junto com documentos que finalmente confirmaram: Peggy Houghton havia dito a verdade o tempo todo.

O governo britânico havia ignorado um alerta que poderia ter desmantelado a rede de espionagem anos antes.

Segundo o governo do Reino Unido, as informações roubadas permitiram à URSS construir submarinos mais silenciosos e eficientes, além de obter dados críticos sobre o submarino nuclear britânico Dreadnought.

O banheiro público de Alresford, que ainda existe e pode ser visitado, foi literalmente um centro de informações estratégicas durante a Guerra Fria.

Espionagem no banheiro virou símbolo histórico

Hoje, o local é lembrado com uma placa informativa, e a cidade de Alresford tem até visitas guiadas relacionadas ao episódio. Se você encontrar um livro antigo com um ponto final estranho, pense bem antes de descartá-lo.

Espionagem, amor, traição e documentos secretos escondidos em vasos sanitários. Parece roteiro de cinema, mas aconteceu — e teve como palco principal um banheiro público de vila interiorana na Inglaterra.

O caso do banheiro de Alresford é uma lição sobre como os maiores segredos da política mundial podem estar escondidos nos lugares mais improváveis. E, às vezes, tudo poderia ter sido evitado se alguém tivesse simplesmente acreditado em uma esposa ignorada.

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Débora Araújo

Débora Araújo é redatora no Click Petróleo e Gás, com mais de dois anos de experiência em produção de conteúdo e mais de mil matérias publicadas sobre tecnologia, mercado de trabalho, geopolítica, indústria, construção, curiosidades e outros temas. Seu foco é produzir conteúdos acessíveis, bem apurados e de interesse coletivo. Para sugestões de pauta, correções ou contato direto: deborasthefanecruz@gmail.com

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