Com velocidade de Mach 6,7 (7.274 km/h), o X-15 é o avião mais rápido da história — e foi pilotado por humanos com traje espacial nos anos 60. Entenda o projeto lendário.
Em uma era em que aviões comerciais lutam para atingir Mach 1 e caças modernos mal passam de Mach 2, é quase inacreditável pensar que um avião experimental americano atingiu Mach 6,7 — ou 7.274 km/h — ainda na década de 1960. E o mais surpreendente: com um piloto a bordo, vestido com um traje espacial e voando na borda do espaço. Esse feito, que até hoje não foi superado por nenhuma aeronave tripulada, pertence ao lendário North American X-15 — um projeto ousado, quase ficcional, que ajudou a moldar o futuro da aviação hipersônica, dos voos suborbitais e até mesmo da exploração espacial.
Um foguete com asas
O X-15 não era um avião comum. Parecia mais um míssil alado com cabine. Construído pela North American Aviation e operado pela Força Aérea dos Estados Unidos e NASA, o X-15 foi projetado para ir onde nenhum avião havia ido antes: a borda do espaço.
Com motor de foguete, estrutura reforçada com liga de titânio e niôbio, e capacidade de suportar temperaturas extremas, o X-15 foi desenvolvido para testar os limites da velocidade, altitude e controle atmosférico em velocidades hipersônicas.
-
O gigante de dois motores que bebe como um cargueiro: Boeing 777-300ER consome 7,8 toneladas de combustível por hora em voos de até 14.000 km
-
Programa Voa Brasil vende só 1,5% das passagens em um ano e levanta dúvidas sobre impacto real
-
McDonnell Douglas DC-10, trimotor que marcou a aviação nos anos 70, consumia 11 mil litros de querosene por hora e foi aposentado de voos comerciais pelo alto custo de operação
-
Boeing 747-400, com quatro motores GE CF6 e consumo de até 10,5 toneladas de combustível por hora, ainda é usado em voos de carga e carrega 416 passageiros em longas distâncias
Seu modo de operação também era inusitado: o X-15 era lançado do ar, preso sob a asa de um bombardeiro B-52. Após atingir altitude e posição ideais, o X-15 era liberado e, então, acendia seu motor de foguete, disparando a altitudes próximas de 100 km e velocidades que desafiavam qualquer lógica da aviação tradicional.
O dia em que o impossível aconteceu: Mach 6,7
No dia 3 de outubro de 1967, o piloto de testes William J. “Pete” Knight entrou para a história ao atingir Mach 6,7, o equivalente a 7.274 km/h — um recorde absoluto nunca mais batido por nenhuma aeronave tripulada.
Knight pilotava a aeronave X-15A-2, uma versão modificada do X-15 com tanques externos e proteção térmica adicional. Vestia um traje espacial pressurizado, similar aos usados em voos orbitais, necessário para suportar a altitude e o ambiente rarefeito.
O voo durou apenas alguns minutos, mas os dados obtidos impactaram gerações de engenharia aeroespacial. Durante a missão, a fuselagem da aeronave atingiu temperaturas superiores a 1.200°C e algumas partes derreteram. O feito foi tão extremo que o próprio X-15A-2 nunca mais voou após esse recorde.
Uma aeronave além de seu tempo
Entre 1959 e 1968, os três X-15 construídos realizaram 199 voos experimentais, sendo pilotados por lendas como Neil Armstrong (antes da Apollo 11) e Joe Engle. Em várias dessas missões, os pilotos atingiram altitudes acima de 80 km, consideradas oficialmente como “voos espaciais” pela Força Aérea dos EUA.
Por isso, 13 pilotos do X-15 receberam asas de astronauta, tornando o projeto um dos precursores diretos do programa espacial americano.
Com ele, os engenheiros testaram:
- Controle de aeronaves em velocidade hipersônica
- Entrada na atmosfera em ângulos variados
- Sistemas de navegação a altitudes suborbitais
- Materiais resistentes a calor extremo
- Perfis de voo que seriam usados depois nos ônibus espaciais
Em muitos aspectos, o X-15 foi um laboratório voador, responsável por provar que o ser humano pode viajar acima da atmosfera e retornar com segurança — algo que parecia impossível apenas uma década antes.
Por que ninguém bateu o X-15 até hoje?
Apesar do avanço tecnológico desde então, nenhuma aeronave tripulada conseguiu superar os 7.274 km/h do X-15. Existem várias razões para isso:
- O risco de voar nessa velocidade é extremo, mesmo com traje pressurizado.
- O custo-benefício de voos tripulados hipersônicos é baixo comparado a sondas ou mísseis.
- Após o X-15, o foco da indústria migrou para foguetes espaciais e satélites.
- A aviação comercial não tem interesse real em voar acima de Mach 3 com passageiros.
Até mesmo caças hipersônicos modernos, como o experimental SR-72 da Lockheed Martin (ainda em desenvolvimento), não contam com pilotos a bordo.
Ou seja, o recorde do X-15 continua imbatível após quase 60 anos, reforçando a importância do projeto como um dos mais ousados e bem-sucedidos da história da engenharia aeroespacial.
O legado do X-15: do céu ao espaço
O X-15 foi mais que uma aeronave — foi um passo entre a aviação tradicional e a exploração espacial. Seu legado ainda é sentido nos sistemas de reentrada dos foguetes da SpaceX, nas cápsulas da NASA e até nos projetos de voos espaciais comerciais da Blue Origin e Virgin Galactic.
É como se o X-15 tivesse dito, ainda nos anos 60: “É possível voar ao espaço sem sair do planeta.” E a verdade é que ele fez isso, repetidamente.
Até hoje, muitos consideram o X-15 o maior avião já construído pela humanidade — não pelo tamanho, mas pela ousadia, velocidade e ambição de levar um ser humano mais rápido do que qualquer outro veículo voador jamais conseguiu.