Em agosto de 2005, Fortaleza foi palco de um dos maiores crimes financeiros do Brasil: R$ 164 milhões furtados do Banco Central através de um túnel sofisticado.
Considerado o segundo maior assalto a banco no Brasil em valores, o furto ao Banco Central de Fortaleza em 2005 chocou pela audácia e planejamento. Sem violência direta, uma quadrilha levou R$ 164 milhões cavando um túnel de 80 metros até o caixa-forte. A polícia só descobriria o crime dois dias depois, dando início a uma investigação complexa e revelando uma trama de engenhosidade, traição e violência.
Três meses cavando rumo ao caixa-forte do Banco Central de Fortaleza
O planejamento do furto ao Banco Central começou meses antes da execução. O grupo alugou uma casa na Rua 25 de Março, número 1071, no centro de Fortaleza, estrategicamente próxima ao banco. Para justificar a intensa movimentação de terra e pessoas em uma área residencial, montaram uma fachada: uma empresa fictícia de paisagismo, que supostamente trabalhava com grama e terra.
Durante três meses, cerca de 40 pessoas trabalharam na escavação de um túnel para o assalto ao Banco Central de Fortaleza. A obra, com custo estimado em R$ 500 mil, resultou em uma passagem subterrânea de 80 metros de comprimento, 70 centímetros de diâmetro e 4 metros de profundidade, passando sob a movimentada Avenida Dom Manuel.
-
Além do chocolate, o que está por trás do investimento de R$7 bilhões da Nestlé no Brasil?
-
Maior mina de ouro de estado brasileiro vai para as mãos de multinacional estrangeira em venda milionária
-
Brasil, o país mais desigual do mundo, também lidera em milionários na América Latina: conheça o paradoxo revelado pelo UBS
-
Número de refugiados explode no Brasil e país vira destino preferido de venezuelanos e cubanos
O túnel era revestido e contava com iluminação elétrica e até sistema de ar condicionado para combater o calor intenso do subsolo de Fortaleza. O solo arenoso facilitou a escavação, mas o calor exigiu cuidados extras, como evidenciado por pomadas para queimadura e isotônicos encontrados no local. Cerca de 30 toneladas de terra foram retiradas discretamente em sacos.
Noite e dia retirando R$ 164 milhões
A fase final ocorreu entre a tarde de sexta-feira, 5 de agosto, e o meio-dia de sábado, 6 de agosto. Os criminosos conseguiram romper o piso do caixa-forte do Banco Central de Fortaleza, uma estrutura de concreto e ferro com 1,10 metro de espessura, utilizando ferramentas profissionais, possivelmente com pontas de diamante. Para transportar o entulho e, posteriormente, o dinheiro, montaram um sistema de carrinhos sobre trilhos improvisados.
Informações privilegiadas parecem ter sido cruciais. Os ladrões sabiam como evitar ou neutralizar os sensores e câmeras de vigilância do Banco Central de Fortaleza – que apenas filmavam, sem gravar. Eles também focaram em cédulas específicas de R$ 50 que haviam sido recolhidas e estavam sem numeração, aguardando incineração, o que dificultaria o rastreamento. O montante levado, R$ 164 milhões, era tão grande que encheria o equivalente a seis caixas d’água de mil litros.
A descoberta chocante e a fuga dispersa
O furto só foi descoberto na manhã de segunda-feira, 8 de agosto, quando os funcionários do Banco Central chegaram para trabalhar. Isso deu aos criminosos uma vantagem de aproximadamente 44 horas para escapar. O grupo se dispersou rapidamente, seguindo planos de fuga pré-estabelecidos para diferentes destinos, incluindo a cidade vizinha de Boa Viagem (CE), São Paulo, Piauí, Bahia e outros estados.
Investigação, prisões e o rastro de violência
A investigação começou imediatamente. Algumas digitais foram encontradas no local. Um erro crucial levou à primeira prisão: um dos membros comprou 11 carros de uma vez, pagando em dinheiro vivo do assalto ao Banco Central. A polícia desconfiou e interceptou um caminhão cegonha em Minas Gerais que transportava os veículos, prendendo José Charles Moraes e encontrando R$ 6 milhões em três dos carros.
Apesar dos esforços, a recuperação do dinheiro do Banco Central foi baixa: apenas R$ 53 milhões dos R$ 164 milhões foram oficialmente recuperados. A Polícia Federal estima que apenas 20 a 30% do total foi reavido, levantando suspeitas de que parte do dinheiro possa ter sido desviada por policiais corruptos durante as apreensões. Ao todo, 26 pessoas foram presas ao longo dos anos.
A investigação do assalto ao Banco Central de Fortaleza também revelou um lado sombrio. Muitos envolvidos no furto tornaram-se alvos de outros criminosos. Vários foram sequestrados, extorquidos e assassinados, mesmo após pagamento de resgate, como no caso de Luiz Fernando Ribeiro (Fernandinho), um dos financiadores, morto em outubro de 2005.
Entre os presos notórios estão Antônio Jussivan Alves dos Santos (Alemão), apontado como líder; Moisés Teixeira da Silva (Tatuzão), considerado o mentor intelectual; Marcos Rogério Machado de Morais, o “engenheiro” do túnel (que fugiu em 2011); e Deucimar Neves Queiroz, funcionário da segurança do Banco Central que forneceu informações internas. Até um prefeito de Boa Viagem foi implicado por financiar parte da operação e ajudar na fuga.
O assalto ao Banco Central que virou filme
O furto ao Banco Central de Fortaleza tornou-se um dos casos criminais mais famosos do Brasil, ganhando repercussão internacional pela sua complexidade e audácia. A história inspirou o filme “Assalto ao Banco Central“, lançado em 2011, que se tornou um sucesso de bilheteria no país.