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Nunca entregue seu telefone para a polícia

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 28/09/2024 às 21:28
Entregar seu telefone desbloqueado à polícia pode abrir brechas para acesso a dados pessoais. Saiba mais sobre os riscos.
Entregar seu telefone desbloqueado à polícia pode abrir brechas para acesso a dados pessoais. Saiba mais sobre os riscos.

Entregar seu celular desbloqueado a um policial pode expor seus dados pessoais a abusos! Nos Estados Unidos, isso já preocupa especialistas. E no Brasil? Com o avanço das IDs digitais e tecnologias biométricas, quais são as implicações de segurança?

Já imaginou estar em uma situação em que um policial exige o seu telefone e você, sem pensar muito, acaba cedendo?

Pode parecer uma atitude inocente, mas especialistas alertam que entregar seu celular em uma abordagem policial pode expor muito mais do que você imagina.

Em países como os Estados Unidos, onde o uso de IDs digitais está crescendo, os riscos são ainda mais alarmantes, segundo matéria publicada pelo site The Verge. Mas será que esse cenário pode acontecer também no Brasil?

Recentemente, estados norte-americanos começaram a adotar sistemas de identificação digital que permitem armazenar carteiras de motorista e documentos de identificação em dispositivos móveis como o Apple Wallet e o Google Wallet.

A partir desse movimento, as autoridades podem exigir que os cidadãos mostrem seus dispositivos móveis em vez de documentos físicos durante paradas policiais, criando um dilema sobre o que mais pode ser acessado nesses dispositivos.

A expansão das IDs digitais nos EUA e a preocupação com a privacidade

De acordo com The Verge, estados como Califórnia, Arizona e Colorado já permitem que os cidadãos armazenem suas IDs no celular.

No entanto, esse tipo de identificação ainda é limitada em alguns locais, como na Califórnia, onde pode ser usada apenas em “pontos de verificação TSA selecionados” e em empresas participantes.

Mesmo assim, o avanço da tecnologia e a intenção da Apple em substituir totalmente as carteiras físicas no futuro são sinais de que esses sistemas podem, eventualmente, ser usados em qualquer tipo de abordagem policial.

Isso levanta a questão: se você entregar seu telefone desbloqueado a um policial, o que mais ele pode acessar?

Embora a Suprema Corte dos Estados Unidos tenha decidido no caso Riley v. California que a polícia precisa de um mandado para revistar celulares, entregar voluntariamente o telefone pode abrir brechas para que os agentes acessem informações sensíveis sem sua permissão explícita.

Segundo Brett Max Kaufman, advogado sênior do Center for Democracy da ACLU, “essa decisão pode se transformar em uma questão sobre até onde vai o consentimento dado ao policial”.

Se você permitiu que ele olhasse uma informação específica, poderia ele explorar outros dados no aparelho sem sua autorização?

Como o Brasil se encaixa nesse cenário?

No Brasil, o uso de tecnologias como IDs digitais ainda está em fase inicial.

Embora o governo tenha investido no gov.br, que permite a digitalização de diversos documentos, como a carteira de motorista, ainda não existe uma regulação clara que obrigue os cidadãos a entregarem seus dispositivos móveis em abordagens policiais.

No entanto, o avanço dessas tecnologias pode trazer desafios similares aos observados nos EUA.

Vale ressaltar que, assim como nos Estados Unidos, a proteção de dados e o acesso a dispositivos eletrônicos sem mandado judicial também é uma questão delicada no Brasil.

A Constituição Federal protege o sigilo de comunicações, mas o que acontece quando o próprio cidadão entrega o dispositivo desbloqueado?

A situação torna-se ambígua e pode abrir margem para abusos, como os já documentados em outros países.

Biometria e senhas: um dilema jurídico

Tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, a utilização de biometria, como reconhecimento facial e impressões digitais para desbloquear celulares, é um ponto de controvérsia jurídica.

Nos EUA, alguns tribunais decidiram que os cidadãos podem ser obrigados a fornecer acesso a seus dispositivos via biometria, mesmo sem um mandado, mas isso não se aplica ao fornecimento de senhas, protegido pela Quinta Emenda.

No Brasil, essa discussão ainda está em aberto, mas especialistas apontam que, com o avanço da digitalização, a tendência é que os tribunais precisem enfrentar esses dilemas.

Mesmo com as proteções oferecidas pela Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que regula o tratamento de informações pessoais no Brasil, as nuances sobre o uso de biometria e o consentimento para acessar dados digitais ainda estão em construção.

O advogado Andrew Crocker, da Electronic Frontier Foundation, ressaltou ao Recode que é mais seguro invocar o direito de não entregar evidências do que tentar suprimir provas depois que o acesso já foi concedido. No Brasil, o princípio é similar, e evitar entregar o telefone desbloqueado é sempre a melhor opção.

Proteções digitais não garantem total segurança

Mesmo com algumas proteções, como a exibição de ID criptografada sem desbloquear o telefone, ainda há riscos consideráveis ao entregar o dispositivo a um policial.

Você pode estar pensando que não há nada incriminador no seu celular, mas a verdade é que ele contém uma quantidade enorme de informações pessoais que poderiam ser mal interpretadas.

Jay Stanley, analista de políticas da ACLU, disse ao The Verge que “mesmo que você não tenha feito nada de errado, entregar o celular pode expor dados que podem ser usados de forma equivocada ou abusiva”.

No Brasil, esse cenário é particularmente preocupante quando pensamos em erros de identificação ou coincidências que possam relacionar uma pessoa com crimes dos quais ela não tem conhecimento.

Além disso, há inúmeros relatos de abuso de poder por parte das forças policiais, o que torna essencial a precaução ao lidar com esses dispositivos.

Entregue ou não seu celular?

Em suma, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, a entrega de um telefone desbloqueado a um policial sem um mandado pode ser uma porta de entrada para potenciais abusos.

A recomendação de especialistas é clara: mantenha sua identidade física com você e evite entregar seu telefone em situações de abordagem policial.

Mesmo com as proteções oferecidas por sistemas como o Apple Pay e o Google Wallet, os riscos ainda superam as facilidades tecnológicas.

No Brasil, onde a adoção de IDs digitais está começando, as proteções legais ainda estão em evolução, o que exige cautela ao lidar com o avanço dessas tecnologias.

Mas e você, estaria disposto a entregar seu telefone para a polícia no Brasil se solicitado? Deixe sua opinião nos comentários!

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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