Brasil registra crescimento histórico no número de refugiados em 2024, com forte presença de venezuelanos e cubanos, revelando novos desafios e mudanças nos fluxos migratórios e políticas de acolhimento, segundo relatório nacional atualizado do governo.
O Brasil registrou, ao longo de 2024, um crescimento expressivo no número de solicitações de refúgio, consolidando-se como um dos principais destinos de migrantes em situação de vulnerabilidade no continente sul-americano.
Dados oficiais do Ministério da Justiça e Segurança Pública apontam para 68.159 pedidos de refúgio feitos apenas neste ano, representando um avanço de 16,3% em relação aos 58.628 pedidos contabilizados em 2023.
O relatório nacional “Refúgio em Números”, divulgado em 13 de junho de 2025, revela que, diante da intensificação de crises políticas, econômicas e sociais em países vizinhos e distantes, o Brasil passou a ser visto como refúgio viável, especialmente por venezuelanos e cubanos.
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Venezuelanos e cubanos impulsionam pedidos de refúgio no Brasil
Segundo o levantamento mais recente, os venezuelanos lideraram as solicitações em 2024, com 27.150 pedidos, mantendo o Brasil como destino prioritário diante da continuidade da crise humanitária, econômica e política na Venezuela.
Já os cubanos surpreenderam ao ocupar a segunda posição, apresentando o maior salto proporcional: foram 22.288 solicitações, número 84,2% maior que os 12.101 pedidos feitos por cidadãos de Cuba em 2023.
O terceiro maior grupo de solicitantes foi formado por angolanos, que registraram 3.421 pedidos de refúgio.
Os números indicam que a rota migratória para o Brasil, anteriormente dominada por cidadãos sul-americanos e africanos, ganhou novo perfil nos últimos anos, principalmente a partir de 2015.
A busca por proteção internacional por parte dos venezuelanos, cubanos, haitianos e angolanos correspondeu a 82,6% do total de pedidos feitos na última década, consolidando a preferência desses grupos pelo país.
Perfil dos refugiados no Brasil: gênero e nacionalidade
O relatório aponta que a maioria dos pedidos de refúgio foi feita por homens, que representaram 59,1% dos requerentes em 2024, enquanto mulheres responderam por 40,9%.
A legislação brasileira, alinhada à Convenção de Genebra de 1951, considera refugiadas as pessoas que são obrigadas a deixar seus países devido a perseguição motivada por fatores como raça, religião, nacionalidade, pertencimento a grupo social específico, opinião política, guerras e conflitos armados.
Ao longo do período de 2015 a 2024, o Brasil recebeu 454.165 pedidos de refúgio, provenientes de pessoas de 175 nacionalidades diferentes, um indicativo da diversidade dos fluxos migratórios que chegam ao território nacional.
Deste total, o predomínio de venezuelanos, cubanos, haitianos e angolanos reflete não apenas a proximidade geográfica e laços históricos, mas também o agravamento das crises em seus países de origem.
Crescimento no número de refugiados reconhecidos
Até dezembro de 2024, o país contabilizava 156.612 refugiados reconhecidos oficialmente, um aumento de 9,5% em relação ao número registrado no ano anterior, que era de 142.980 pessoas.
Somente em 2024, o Comitê Nacional para os Refugiados (Conare) concedeu o status de refugiado a 13.632 pessoas, reforçando o protagonismo brasileiro na proteção humanitária na América Latina.
Países de origem e destaque para venezuelanos
Entre os refugiados reconhecidos oficialmente, 93,1% são venezuelanos, grupo que lidera o ranking desde 2017, quando o governo brasileiro passou a adotar procedimentos facilitados para solicitações originadas do país vizinho.
Além dos venezuelanos, o Conare reconheceu, em 2024, o direito ao refúgio a cidadãos vindos do Afeganistão, da Colômbia e da Síria, evidenciando a amplitude dos fluxos e a abertura do Brasil a migrantes de diferentes regiões em situação de risco.
Esse cenário de aumento expressivo dos pedidos de refúgio reflete tanto o agravamento das crises internacionais quanto a percepção do Brasil como um local de oportunidade e acolhimento.
Fatores como a política de portas abertas, o apoio de entidades internacionais, a ampliação de políticas públicas de integração e a relativa estabilidade institucional do país contribuem para que o território brasileiro seja visto como alternativa para quem busca proteção internacional.
Desafios para a acolhida de refugiados no Brasil
Diante do crescimento dos fluxos migratórios, o Brasil enfrenta o desafio de fortalecer e ampliar políticas de integração, acesso à saúde, educação, moradia e inserção no mercado de trabalho para garantir que os refugiados tenham condições dignas de reconstruir suas vidas.
Organizações como a Agência da ONU para Refugiados (Acnur) e diversas ONGs atuam em parceria com o governo federal, estados e municípios para garantir o atendimento das demandas mais urgentes desses grupos.
Além disso, o aumento dos pedidos de refúgio também exige avanços no combate à xenofobia, à discriminação e à desinformação sobre os direitos dos refugiados.
O acompanhamento de fluxos migratórios e o monitoramento das políticas de proteção são estratégias essenciais para assegurar que o Brasil cumpra os compromissos internacionais assumidos e ofereça acolhimento humanitário efetivo.
Perspectivas e políticas públicas para o futuro
Segundo especialistas, a tendência é que o Brasil continue sendo destino relevante para solicitantes de refúgio, sobretudo diante da instabilidade em países como Venezuela, Cuba, Haiti, Angola e Afeganistão.
Dados de 2025 indicam que a pressão migratória deve se manter elevada, impulsionando discussões sobre o fortalecimento das políticas migratórias nacionais.
O crescimento dos pedidos de refúgio desperta ainda questões sobre a capacidade das cidades brasileiras de acolher e integrar tantos estrangeiros, principalmente nas regiões Norte e Sudeste, onde se concentram a maioria das solicitações.
Quais soluções e políticas inovadoras podem ser adotadas para garantir o equilíbrio entre acolhida humanitária e integração social dos refugiados no Brasil?