O Nubank enfrenta forte reação após demitir 12 funcionários por justa causa durante a transição para o modelo híbrido. O sindicato cobra explicações, pede suspensão das demissões e alerta para o risco de retrocesso nas relações trabalhistas.
O Nubank, uma das maiores fintechs da América Latina, está no centro de uma polêmica que colocou em xeque sua imagem de empresa moderna e flexível. Após anunciar o retorno ao modelo de trabalho híbrido, 12 funcionários foram demitidos por justa causa depois de uma reunião interna marcada por críticas e tensões. O episódio desencadeou forte reação do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, que exige a suspensão imediata dos desligamentos e acusa a empresa de punir empregados por manifestarem opinião.
A mudança marca o fim de cinco anos de atuação totalmente remota, período em que o Nubank cresceu e consolidou sua base de mais de 122 milhões de clientes. A partir de julho de 2026, os colaboradores deverão trabalhar presencialmente dois dias por semana, e a partir de janeiro de 2027, três dias. Segundo o CEO e fundador, David Vélez, a decisão busca reduzir os “custos invisíveis” do trabalho remoto, como a queda de produtividade coletiva e a dificuldade de manter a inovação em projetos complexos.
Tensão interna e demissões por justa causa
A crise começou após uma reunião virtual realizada no início de novembro, da qual participaram cerca de sete mil funcionários. Durante o encontro, diversos colaboradores manifestaram insatisfação com o retorno obrigatório ao escritório, principalmente aqueles que vivem longe das sedes da empresa ou foram contratados em outras regiões do país durante a fase remota.
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Poucos dias depois, o Nubank anunciou o desligamento de 12 pessoas por justa causa, alegando que houve comportamentos considerados ofensivos e contrários ao código de conduta. Em comunicado interno, Vélez afirmou que a fintech valoriza o diálogo, mas não tolera desrespeito. A decisão, no entanto, foi recebida com indignação por parte dos colegas e rapidamente chegou ao conhecimento do sindicato, que classificou as dispensas como abusivas e sem justificativa plausível.
Em nota pública, a empresa reiterou que não comenta casos individuais de demissão e que segue avaliando cada situação de forma isolada por meio de seu Comitê de Conduta. O Nubank reforçou que preza por um ambiente aberto ao debate, mas sustentou que algumas linhas não podem ser ultrapassadas quando há ofensa direta a outros profissionais.
Reação do sindicato e cobrança por diálogo
O Sindicato dos Bancários reagiu exigindo explicações e pedindo a suspensão imediata das demissões. A entidade questiona a falta de transparência no processo e defende que nenhum trabalhador deve ser punido por se posicionar sobre mudanças que afetam sua rotina. Também informou que abrirá um canal de escuta para receber relatos de funcionários e planeja realizar uma reunião virtual para ouvir a categoria, especialmente os que se sentiram surpreendidos pela decisão.
O sindicato também criticou a política que exige que a maioria dos cargos esteja localizada a menos de 50 quilômetros de um escritório oficial. Para a entidade, essa medida é discriminatória, pois prejudica profissionais contratados remotamente que vivem em outras regiões do Brasil ou no exterior. Muitos desses colaboradores agora se veem obrigados a escolher entre se mudar, mesmo com o auxílio oferecido pela empresa, ou enfrentar o desligamento.
A entidade sindical argumenta que a transição deveria ocorrer com diálogo e responsabilidade, priorizando a manutenção dos empregos e a saúde dos trabalhadores. Também cobrou garantias de que o retorno ao modelo híbrido não se torne uma forma de pressionar funcionários a deixarem a companhia.
Um novo cenário para o Nubank e o mercado de tecnologia
A decisão do Nubank ocorre em um momento de expansão física significativa. A fintech está reformando escritórios e abrindo novos centros de inovação em Campinas, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Buenos Aires, Miami e Palo Alto. O objetivo é atrair talentos e fortalecer o trabalho em equipe em projetos estratégicos.
Por outro lado, especialistas apontam que o episódio pode afetar a reputação da empresa como uma das mais modernas do setor financeiro digital. A imagem de flexibilidade, que foi um dos pilares do crescimento do Nubank, pode ser comprometida se o conflito se prolongar ou se o sindicato decidir levar o caso à Justiça. A situação também acende um alerta para outras empresas de tecnologia que estudam rever suas políticas de home office, demonstrando como o retorno presencial pode gerar desgastes internos e questionamentos sobre liberdade de expressão.
A crise como ponto de inflexão
O impasse entre a fintech e seus colaboradores expõe um dilema que vai além do caso específico. Por um lado, a empresa argumenta que a presença física fortalece a cultura corporativa, estimula a colaboração e melhora a produtividade. Por outro, milhares de profissionais consideram que o trabalho remoto é um direito conquistado e representa mais qualidade de vida, além de ampliar o acesso a oportunidades em diferentes regiões do país.
A forma como o Nubank conduzirá essa transição pode se tornar um precedente para todo o setor financeiro e tecnológico no Brasil. Caso haja diálogo e revisão das decisões, a fintech poderá preservar parte de sua credibilidade e mostrar capacidade de adaptação. Mas, se insistir em uma postura inflexível, o caso pode evoluir para um embate trabalhista de grandes proporções.


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