Exploração na Margem Equatorial desperta expectativa por reservas bilionárias, mas depende de licenciamento ambiental em análise pelo Ibama. Petrobras concluiu simulado de emergência no Amapá e aguarda decisão para avançar com a perfuração.
A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, afirmou nesta sexta-feira (05), que não houve avanço no licenciamento ambiental para perfuração na Bacia da Foz do Amazonas.
“Continua tudo na mesma”, disse a executiva, ao comentar o andamento do processo que depende de parecer do Ibama.
Na semana anterior, a estatal concluiu um simulado de emergência em águas profundas do Amapá, etapa prevista nas exigências para a análise ambiental.
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Licenciamento na Foz do Amazonas segue sem decisão
Chambriard deu a declaração após participar da posse de diretores da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Segundo ela, a companhia cumpriu as providências técnicas que estavam sob sua responsabilidade e agora aguarda a manifestação do órgão ambiental federal.
A executiva não indicou prazo para a decisão e reforçou que a empresa continuará respondendo a eventuais pedidos complementares de informação.
O licenciamento contempla um poço exploratório em área offshore da Margem Equatorial, faixa geológica que se estende do Amapá ao Rio Grande do Norte.
A Foz do Amazonas concentra parte do interesse da petroleira por apresentar semelhanças com províncias petrolíferas de países vizinhos.
Ainda assim, a autorização formal para perfurar segue condicionada aos pareceres técnicos do Ibama, que avaliam riscos operacionais e a efetividade dos planos de resposta.
Simulado de emergência no Amapá
Como parte do rito de licenciamento, a Petrobras realizou, entre 25 e 28 de agosto de 2025, um exercício de resposta a incidentes na Foz do Amazonas.
A companhia informou que a atividade ocorreu em águas profundas do Amapá, com participação de equipes embarcadas e apoio aéreo e marítimo.
De acordo com relatos internos citados por fontes da empresa, não houve registro de intercorrências relevantes durante a simulação.
Esse tipo de exercício testa a mobilização de recursos, a comunicação entre as frentes de resposta e a capacidade de contenção em cenários de vazamento de petróleo.
O resultado compõe a “avaliação pré-operacional” exigida pelo Ibama e serve para verificar se os procedimentos descritos no plano de emergência conseguem ser executados em condições reais.
Encerrada a etapa prática, o relatório técnico segue para análise do órgão ambiental.
O potencial do “novo pré-sal”
A Margem Equatorial tem sido chamada por autoridades e especialistas de “novo pré-sal” pela expectativa de grandes volumes de óleo em águas profundas e ultraprofundas.
Em 2023, integrantes do governo citaram estudos segundo os quais um bloco na costa do Amapá poderia somar mais de 5,6 bilhões de barris em recursos potenciais de petróleo.
O número posicionou a região como uma das principais apostas exploratórias do país e alimentou projeções sobre impacto na produção nacional ao longo da próxima década.
Embora o título desta reportagem remeta a esse potencial, a Petrobras e os órgãos reguladores reiteram que a confirmação de volumes depende de perfuração e avaliação de dados de poços.
Em outras palavras, a estimativa não substitui a etapa exploratória.
Por isso, o foco atual da estatal está em vencer o trâmite de licenciamento para realizar a primeira perfuração e, a partir dos resultados, calibrar cenários de investimento.
O que o Ibama avalia
O Ibama analisa aspectos como sensibilidade ambiental da área, rotas de fauna, correntes marinhas, distância da costa, logística de resposta e estrutura dedicada à fauna afetada em caso de acidente.
Entram nessa verificação o plano de emergência, os recursos materiais e humanos previstos, além dos protocolos de integração com autoridades locais e federais.
Enquanto a análise segue em curso, não há liberação para iniciar a atividade de perfuração.
A Petrobras afirma que vem incorporando condicionantes solicitadas pelo órgão ao longo do processo.
Entre as medidas estão centros de atendimento à fauna, contratos de embarcações de apoio de alto porte, equipamentos de contenção e monitoramento e a realização de simulados específicos para o ambiente sensível da foz do rio.
A empresa sustenta que esses elementos elevam a robustez da resposta e reduzem o risco residual.
Histórico e contexto regulatório
Em 2023, um pedido anterior de perfuração na região foi rejeitado e retornou para complementações técnicas.
Desde então, a estatal reformulou documentos, ajustou procedimentos e reapresentou o projeto, que passou a prever exercícios práticos e infraestrutura adicional de resposta a incidentes.
Em 2025, com a conclusão do simulado e a entrega de relatórios, a tramitação alcançou nova fase, ainda dependente do crivo técnico do Ibama.
Do lado setorial, a Agência Nacional do Petróleo acompanha o processo como reguladora e, ao mesmo tempo, conduz agendas próprias, como o planejamento de oferta de áreas e o monitoramento das bacias sedimentares.
A decisão ambiental, no entanto, é determinante para qualquer avanço operacional no bloco específico da Foz do Amazonas.
Impactos para a Petrobras e para a produção nacional
Caso a perfuração seja autorizada e confirme volumes economicamente viáveis, a Petrobras poderá consolidar uma nova frente de exploração em paralelo ao pré-sal consolidado do Sudeste.
Esse movimento tem potencial de diversificar a carteira de ativos, diluir riscos geológicos e sustentar a curva de produção no médio e no longo prazo.
Além disso, a abertura de uma nova província pode atrair fornecedores e investimentos em cadeias de bens e serviços ligadas à indústria de óleo e gás.
Por outro lado, a inexistência de licença impede o início do ciclo exploratório e adia decisões de alocação de capital.
A estatal vem afirmando que mantém seus compromissos com metas ambientais e que a estratégia empresarial considera cenários de transição energética, mas ressalta a necessidade de repor reservas para assegurar segurança energética.
O equilíbrio entre esses objetivos passa, necessariamente, pelo desfecho do licenciamento ambiental.
O que esperar dos próximos passos
A partir da entrega do relatório do simulado, o Ibama deve consolidar pareceres internos sobre a conformidade do plano de emergência, a prontidão de recursos e a adequação das salvaguardas ambientais. Não há prazo público definido para a decisão.
Enquanto isso, a Petrobras permanece em estado de prontidão para ajustes adicionais que venham a ser solicitados.
A empresa também acompanha a agenda regulatória e mantém diálogo com autoridades federais e estaduais.
A discussão sobre a Foz do Amazonas ocorre em um momento em que o governo federal alinha metas ambientais com a política energética.
O desafio é compatibilizar a ambição de reduzir emissões e preservar biomas sensíveis com a necessidade de garantir oferta de energia e receitas.
Nessa equação, a transparência do processo de licenciamento e a aderência a parâmetros técnicos serão determinantes para o ritmo das próximas etapas.
Por fim, a expectativa sobre o “novo pré-sal” mantém o tema no centro do debate econômico e ambiental do país.
A confirmação de reservas relevantes poderia redefinir a trajetória de produção e de investimentos da estatal, mas tudo depende do aval ambiental e da primeira perfuração exploratória.
A pergunta que permanece é: o sinal verde do Ibama chegará a tempo de transformar essa promessa em fronteira concreta de produção?