Desenvolvido pelo Banco Central em parceria com os ministérios das Cidades e da Fazenda, o novo modelo da poupança promete liberar até R$ 20 bilhões para o crédito imobiliário neste ano e dobrar o potencial de financiamentos até 2027, redesenhando a política habitacional e o acesso dos bancos aos recursos da caderneta
O novo modelo da poupança que o governo deve anunciar ainda esta semana pode mudar o funcionamento do crédito imobiliário no Brasil. A proposta, articulada pelo Banco Central em parceria com os ministérios da Fazenda e das Cidades, busca liberar cerca de R$ 20 bilhões na economia ainda em 2025, ao flexibilizar parte dos recursos que hoje ficam retidos como depósito compulsório.
Conforme reportagem do O Globo, a prática, o modelo cria um incentivo direto para os bancos ampliarem a oferta de financiamentos habitacionais: a cada real concedido em crédito imobiliário, as instituições ganham o direito de usar o mesmo valor da poupança de forma livre por até cinco anos. Essa mudança altera a dinâmica de direcionamento obrigatório dos recursos da caderneta e pode redesenhar o mercado habitacional já nos próximos meses.
Como o novo modelo da poupança funciona

Atualmente, 65% dos recursos da poupança precisam ser aplicados no crédito imobiliário, enquanto 20% ficam parados no Banco Central e 15% são de uso livre pelos bancos.
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A nova regra cria uma camada de flexibilidade, permitindo que parte do compulsório (até 5 pontos percentuais) seja liberada para os bancos que ampliarem o crédito habitacional.
Com isso, o recolhimento compulsório cairia de 20% para 15%, e os bancos que participarem do programa ganhariam liquidez extra.
O mecanismo será testado até o fim de 2026, com aplicação plena a partir de 2027.
O potencial imediato é de liberar até R$ 37,5 bilhões, dependendo da adesão das instituições financeiras, embora a estimativa mais conservadora seja de R$ 20 bilhões já neste primeiro ano.
Efeito esperado no crédito e nos juros
A lógica do Banco Central é que, ao oferecer recursos livres como recompensa, os bancos se sentirão estimulados a conceder mais financiamentos imobiliários.
O crédito habitacional tende a crescer e as taxas de juros podem cair, já que os ganhos das operações livres poderão compensar margens menores no setor imobiliário.
O modelo também gera competição entre instituições, especialmente porque a Caixa Econômica Federal, líder no segmento, já esgotou boa parte de seus recursos direcionados e deve aproveitar a oportunidade para expandir sua carteira.
O efeito, no curto prazo, é uma possível retomada das concessões, em um momento de desaquecimento do crédito e taxas ainda altas no mercado.
Impacto sobre bancos e compradores de imóveis
Para os bancos, o novo modelo significa maior liberdade de aplicação e melhor gestão de liquidez.
Na prática, eles passam a usar parte do dinheiro que antes ficava imobilizado no Banco Central em operações de crédito ou investimentos mais rentáveis.
Para quem busca comprar a casa própria, o impacto pode vir na forma de juros mais baixos e prazos mais acessíveis.
O governo espera que a competição por novos contratos reduza o custo médio das operações dentro do Sistema Financeiro de Habitação (SFH), voltado a imóveis de até R$ 1,5 milhão e juros limitados a 12% mais TR.
Segundo estimativas internas, a exigibilidade de crédito imobiliário pode saltar de R$ 90 bilhões para R$ 200 bilhões em dois anos, caso o modelo seja adotado integralmente.
Isso dobraria a capacidade de financiamento com recursos da poupança, em um cenário de retração de captações e aumento da demanda habitacional.
O papel do Banco Central e o alinhamento político
A proposta foi desenhada pelo Banco Central em conjunto com a Caixa e os ministérios das Cidades e da Fazenda.
O anúncio oficial será feito pelo presidente Lula, com apoio direto do ministro Jader Filho, que defende a medida como “um ajuste técnico que destrava a habitação e dá fôlego à economia real”.
O plano chega em um momento delicado. A autoridade monetária tenta conter pressões inflacionárias, enquanto o governo busca impulsionar o crédito e a construção civil antes das eleições municipais.
O teste do modelo, portanto, funcionará como um balanço entre política monetária e estímulo econômico, calibrado pela liberação gradual de compulsórios.
Riscos e desafios do novo modelo
Apesar do potencial de expansão, o modelo traz riscos. O aumento de liquidez pode pressionar a inflação e a Selic, caso o crédito livre avance em ritmo acelerado.
Há também dependência do apetite dos bancos, que só liberarão recursos se vislumbrarem rentabilidade adequada.
Outro desafio é o comportamento da própria poupança.
Com aplicações migrando para fundos mais rentáveis, o saldo disponível na caderneta vem encolhendo, o que exige modelos mais dinâmicos para sustentar o crédito imobiliário.
Técnicos do Banco Central apostam que o incentivo correto pode reverter essa tendência, ao gerar volume de crédito suficiente para manter a poupança como pilar do financiamento habitacional.
O que pode mudar a partir de 2027
Se o teste for bem-sucedido, o novo modelo da poupança será incorporado definitivamente ao sistema financeiro a partir de 2027.
Nesse cenário, a liberação de compulsórios seria permanente, e os bancos teriam um mecanismo de rotação automática: a cada novo crédito imobiliário concedido, novos recursos livres seriam habilitados.
O resultado esperado é um ciclo mais estável de oferta de crédito imobiliário, com menos dependência de intervenções pontuais do governo e maior previsibilidade para o mercado.
Na prática, o crédito da casa própria passaria a ser impulsionado por eficiência bancária, não apenas por exigência regulatória.



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