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A travessia mais difícil da história humana: Travessia pelo Estreito de Bering foi por pântanos e canais fluviais, não por planícies; descoberta muda visão sobre chegada do homem às Américas

Escrito por Ruth Rodrigues
Publicado em 20/10/2025 às 12:46
Novo estudo revela que a travessia pelo Estreito de Bering, entre Sibéria e Alasca, foi dominada por pântanos, rios e canais – e não por planícies secas como se pensava.
Novo estudo revela que a travessia pelo Estreito de Bering, entre Sibéria e Alasca, foi dominada por pântanos, rios e canais – e não por planícies secas como se pensava. Foto: Steve Hillebrand/USFWS, Public Domain
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Novo estudo revela que a travessia pelo Estreito de Bering, entre Sibéria e Alasca, foi dominada por pântanos, rios e canais – e não por planícies secas como se pensava.

Durante a última Era do Gelo, entre aproximadamente 36 000 e 11 000 anos atrás, a região que atualmente corresponde ao Estreito de Bering — conectando a Sibéria à América do Norte — era ocupada por uma vasta “ponte de terra” chamada Beríngia; porém, segundo a pesquisa liderada por Sarah Fowell, da Universidade do Alasca em Fairbanks, essa travessia não era composta por pastagens ou tundra seca, e sim por um ambiente pantanoso, cheio de pequenos lagos, canais fluviais e vegetação variada.

A equipe de pesquisadores apresentou os resultados no encontro da União Americana de Geofísica (AGU), nos EUA, onde explicaram como amostras de sedimentos retiradas do fundo marinho mostraram pisos alagados em locais que estiveram emersa durante aquele período.

A descoberta altera significativamente a compreensão sobre como animais e humanos migraram entre os continentes através do Estreito de Bering — e indica obstáculos naturais mais severos do que se supunha.

Uma ponte de terra… mas não como se imaginava

Embora há muito se considerasse que a passagem terrestre do Estreito de Bering consistia em planícies secas, semelhantes às estepes da Sibéria ou aos campos do Alasca, o novo estudo mostra que a realidade era outra: “Estávamos procurando por vários lagos grandes — mas o que achamos foi evidência de vários lagos pequenos e canais fluviais”, afirma Sarah Fowell.

Isso significa que a região da antiga ponte terrestre era dominada por água doce, vegetação de musgos e árvores, e terrenos elevados pontilhados por zonas secas — o que a torna uma paisagem bem mais complexa do que se pensava.

Quando e onde ocorreu essa travessia

Durante a última grande glaciação, o nível do mar estava cerca de 120 metros abaixo do atual, o que expôs a plataforma que uniu a Sibéria (parte asiática da Rússia) ao que hoje é o Alasca, tornando possível o surgimento da ponte terrestre no Estreito de Bering.

Essa zona de travessia (Beríngia) situava-se entre os mares de Chukchi e o Mar de Bering, e funcionou como corredor de migração terrestre para animais e, possivelmente, para humanos.

Como foi feita a nova descoberta

A equipe liderada por Fowell coletou núcleos de sedimentos do leito do Mar de Bering, em locais que estiveram emergidos durante o período entre 36 000 e 11 000 anos atrás.

Esses sedimentos continham pólen, DNA antigo, fósseis e matéria orgânica. A análise mostrou que a paisagem era de pântano com canais fluviais, pequenas lagoas e vegetação de água doce.

Além disso, a presença de mamutes e bisões em caminhos mais secos foi identificada, o que sugere que essas espécies conseguiram aproveitar os pontos altos da região para atravessar.

Por que essa nova visão importa

A reconstrução do ambiente do Estreito de Bering tem implicações diretas para o entendimento das migrações humanas e animais entre Ásia e América.

Até então, partia-se do pressuposto de terrenos relativamente fáceis de atravessar — estepes secas — o que influenciava modelos de migração.

Porém, o fato de o corredor ter sido pantanoso implica que apenas algumas espécies ou grupos humanos mais adaptáveis conseguiram cruzá-lo, enfrentando condições adversas.

Por exemplo: “A paisagem úmida e aquosa pode ter sido uma barreira para algumas espécies, ou também um caminho para espécies que viajam pela água”, comenta a geóloga Jenna Hill, co-autora do estudo.

Esse novo panorama permite repensar rotas, calendário e adaptação dos primeiros humanos nas Américas — incluindo a hipótese de que eles não chegaram simplesmente “atravessando uma ponte fácil”, mas sim gerenciando obstáculos naturais severos.

Impactos no estudo do povoamento das Américas

Considerando o cenário revisado da travessia pelo Estreito de Bering, cientistas reavaliam quando e como os humanos chegaram às Américas.

A travessia da Beríngia poderia ter sido restrita a determinados intervalos de tempo, com algumas janelas ecológicas favoráveis.

Portanto, modelos tradicionais que consideravam a ponte terrestre como uma vasta planície seca se tornam insuficientes.

Agora, sabe-se que a região era heterogênea — com zonas secas que permitiam passagem, mas também muitos trechos inundados ou alagados. Isso implica em maior seletividade para quem cruzou e em rotações de migração mais complexas.

Desafios e perguntas que ficam

Apesar dos avanços, alguns desafios permanecem.

Por exemplo, qual era exatamente a rota utilizada por humanos e animais através da ponte do Estreito de Bering? Em quais condições climáticas ou geológicas a travessia era viável? Também, que espécie de adaptações permitiram essa migração, frente a um ambiente pantanoso?

Além disso, há indícios de que humanos chegaram à América por rotas alternativas — marítimas ou costeiras — o que amplia o leque de investigação sobre o povoamento das Américas.

A redescoberta da verdadeira paisagem da travessia pelo Estreito de Bering revela que a ponte terrestre — a antiga Beríngia — era dominada por um ambiente pantanoso e interligado por rios e canais.

Esse cenário mais desafiador do que se pensava muda a forma como entendemos a migração de animais e humanos entre os continentes.

Com isso, o Estreito de Bering ganha um papel ainda mais intrigante no estudo da história humana e natural.

Fonte

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Ruth Rodrigues

Formada em Ciências Biológicas pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), atua como redatora e divulgadora científica.

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