Durante décadas, a Nova Zelândia foi um país pequeno, isolado e dependente de subsídios agrícolas que mantinham sua economia engessada. Tudo mudou nos anos 1980, quando uma reforma radical abriu os mercados, eliminou protecionismos e forçou os produtores a se unirem em cooperativas modernas.
A Nova Zelândia é um pequeno país no Pacífico Sul com pouco mais de 4,5 milhões de habitantes.
Mesmo sem fabricar carros, tornou-se o quarto povo mais motorizado do planeta, superando nações como Itália e Alemanha.
Essa façanha tem origem em um modelo agropecuário altamente eficiente, centrado na produção de leite, que responde por cerca de 3% de todo o leite do mundo.
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O país ostenta uma renda per capita de 48 mil dólares e figura entre os 20 melhores Índices de Desenvolvimento Humano do planeta.
Estradas impecáveis, casas sem grades e uma paisagem que mistura montanhas nevadas e pastagens verdes completam o cenário de prosperidade.
Condições naturais ideais
A história começou por volta de 1830, quando os colonizadores britânicos levaram vacas e ovelhas para a ilha.
O clima ameno, com temperaturas entre 10 °C e 20 °C, e a precipitação anual bem distribuída favoreceram o crescimento de gramíneas nutritivas, como as ryegrass.
O relevo suave facilita o pastejo rotacionado com baixo custo, e a condição insular reduz a entrada de pragas, diminuindo a necessidade de medicamentos.
Essa combinação permitiu à Nova Zelândia construir uma pecuária de alta qualidade com custos reduzidos e baixa carga sanitária.
Reformas que mudaram tudo
Apesar do potencial, até os anos 1980 o país estava estagnado, com economia fechada, inchada por subsídios e pouco eficiente.
A virada veio com um governo aplicou reformas radicais: cortou gastos, eliminou subsídios agrícolas e abriu a economia.
As mudanças foram tão profundas que a revista The Economist passou a chamar a Nova Zelândia de “a economia mais desregulamentada do mundo”.
O ambiente de negócios ficou mais livre e competitivo, impulsionando especialmente o setor de laticínios.
O surgimento da Fonterra
Sem apoio estatal, os produtores se organizaram em cooperativas para ganhar escala e investir em tecnologia.
Dessa união nasceu a Fonterra, hoje maior empresa láctea do planeta, responsável por 95% das exportações do setor.
A cooperativa processa 22 bilhões de litros de leite por ano e movimenta mais de 20 bilhões de dólares neozelandeses.
O modelo cooperativo garante que os 10,5 mil produtores sejam sócios, com cotas proporcionais ao volume de leite entregue, compartilhando lucros e riscos.
Além disso, a empresa conseguiu transformar o leite em produtos com muito mais valor agregado, com oleite artesanal, manteiga premium e produtos com valor industrial.
Eficiência e qualidade
O país adotou um sistema sazonal: 95% dos partos ocorrem na primavera, quando as pastagens estão mais nutritivas.
As vacas passam cerca de 280 dias ao ar livre, reduzindo o uso de ração industrial e os custos de produção para apenas 0,25 a 0,35 dólar por litro — menos da metade da média global.
Além disso, as vacas Jersey e Kiwi Cross oferecem alta eficiência de conversão alimentar e maior teor de sólidos lácteos.
Enquanto o Brasil tem média de 6,6% de sólidos, a Nova Zelândia alcança 8,4%, agregando valor ao leite e elevando a competitividade.
Inclusão de jovens e governança
O país também criou o sistema Sharemilking 50/50, no qual jovens entram com vacas e trabalho, e produtores experientes oferecem terra e cotas, dividindo lucros igualmente.
Cerca de 35% dos jovens do setor iniciam por esse modelo, que facilita o acesso à terra e renova o campo.
O poder de voto é proporcional ao volume de leite entregue, com limites para evitar concentração, garantindo participação democrática de todos os cooperados.
Sustentabilidade e inovação
A agricultura responde por 48% das emissões do país, e o governo investe em soluções como o aditivo 3NOP, que reduz o metano sem afetar a produtividade.
Práticas obrigatórias incluem cercamento de nascentes, faixas de proteção e controle de efluentes.
Mais de 350 cientistas trabalham em novos ingredientes lácteos, fórmulas infantis e proteínas especializadas, consolidando a liderança tecnológica do setor.
Leite que vira carros
Em 2023, a Nova Zelândia exportou 12,4 bilhões de dólares em produtos lácteos e importou 5,2 bilhões em veículos de marcas como Toyota, Hyundai e Chery.
Isso mostra o princípio da vantagem comparativa: o país produz o que faz melhor e usa o comércio para obter o restante.
Com isso, mesmo sem fábricas de automóveis, tornou-se uma das populações mais motorizadas do planeta, além de referência mundial em laticínios, sustentabilidade e qualidade de vida.
Artigo feito com algumas informações do canal AUVP AGRO.