Influenciadores na China precisarão comprovar formação acadêmica para falar sobre finanças, saúde, direito ou educação. Regra reacende debate sobre responsabilidade digital e os limites entre qualificação técnica e liberdade de expressão.
As autoridades chinesas anunciaram novas regras que obrigam influenciadores digitais a comprovar formação acadêmica ou certificação profissional antes de publicar conteúdos sobre finanças, direito, saúde ou educação.
A medida surge após a disseminação de conselhos considerados incorretos ou enganosos nessas áreas, segundo órgãos de regulação do país.
De acordo com especialistas em governança digital, a proposta reflete uma tentativa de responsabilizar criadores de conteúdo por informações que possam impactar decisões financeiras, jurídicas ou médicas de grande alcance.
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A regra reacende o debate global sobre quem tem legitimidade técnica para opinar em temas que afetam a população em larga escala.
Objetivo da nova regra chinesa
A regulamentação busca conter a propagação de orientações inadequadas em assuntos de alta complexidade técnica.
Em áreas como finanças pessoais, direito e medicina, erros de interpretação ou simplificações excessivas podem induzir o público a decisões equivocadas.
Um levantamento publicado em 2024 pela Money Supermarket indicou que 74% dos vídeos sobre “hacks financeiros” veiculados por influenciadores apresentavam informações incorretas, sem sentido ou com potencial de causar prejuízos.
No setor de saúde, estudo da MedPro Group apontou que criadores de conteúdo que oferecem conselhos médicos não regulamentados podem gerar riscos de conduta e de danos ao consumidor.
Para especialistas ouvidos por agências internacionais, o objetivo da China é elevar o padrão mínimo de qualificação para quem produz conteúdo com caráter educativo ou de aconselhamento.
A expectativa é que a regra funcione como um filtro, reduzindo a presença de pessoas sem preparo técnico em temas que exigem conhecimento formal.
Casos que motivaram o debate sobre influência digital
A discussão sobre a credibilidade de influenciadores ganhou força após episódios envolvendo grandes audiências e perdas financeiras.
Um dos casos mais citados é o do norte-americano Logan Paul, que promoveu o projeto de criptomoeda CryptoZoo, alvo de ações judiciais por entregar menos do que prometia.
O processo foi encerrado em 31 de outubro de 2025, sem condenação, mas o caso expôs o impacto de recomendações sem base técnica em decisões de investimento.
Outro exemplo é o da influenciadora fitness Brittany Dawn Davis, processada pelo Estado do Texas em 2023 por vender planos de saúde e treino padronizados como se fossem personalizados, inclusive para mulheres com transtornos alimentares.
Ela fechou acordo de cerca de US$ 400 mil para encerrar a disputa.
Também em 2024, a corretora americana M1 Finance foi multada em US$ 850 mil pela FINRA, órgão autorregulador do mercado financeiro nos Estados Unidos, por campanhas com influenciadores que divulgaram informações incompletas ou sem supervisão técnica adequada.
Esses casos, segundo analistas de mercado, demonstram como a falta de preparo técnico e de mecanismos de controle pode gerar prejuízos financeiros e jurídicos tanto para os seguidores quanto para os próprios criadores de conteúdo.
Especialistas apontam benefícios e riscos
De acordo com especialistas em regulação digital e comunicação, a exigência de qualificação pode contribuir para elevar o nível de responsabilidade entre criadores e proteger o público de orientações equivocadas.
A avaliação é que a medida reforça a noção de que influência digital também gera deveres, principalmente quando envolve aconselhamento em temas sensíveis.
Por outro lado, pesquisadores em liberdade de expressão alertam para riscos de concentração de poder regulatório.
Se apenas pessoas “autorizadas” puderem comentar sobre determinados assuntos, há possibilidade de restrição de pluralidade de opiniões e de limitação do debate público.
Segundo esses especialistas, a aplicação da norma precisa ocorrer com transparência nos critérios de certificação e com mecanismos de recurso para evitar distorções.
Implementação e governança da nova política
O desafio agora, de acordo com analistas, é definir como a verificação de credenciais será feita.
A avaliação técnica de diplomas e certificados deve seguir regras objetivas e auditáveis.
Além disso, plataformas precisarão esclarecer quem será responsável pela checagem e de que forma as credenciais serão exibidas aos usuários.
Especialistas em comunicação digital destacam que, mesmo entre profissionais qualificados, conteúdos sobre saúde e finanças devem trazer avisos de limitação de uso e orientação para busca de serviços especializados.
Eles também ressaltam a importância de ampliar a educação midiática e digital da população, para que o público consiga distinguir informações técnicas de opiniões pessoais.
Impactos na América Latina e no Brasil
No Brasil e em outros países da América Latina, o tema também desperta atenção.
O número de influenciadores que abordam finanças pessoais, direito, saúde e proteção de dados tem crescido, e parte desses conteúdos alcança milhões de visualizações.
Para especialistas em regulação e comunicação, isso exige uma abordagem equilibrada entre qualificação e liberdade de expressão.
A recomendação de pesquisadores é que influenciadores que tratam de temas técnicos apresentem suas credenciais de forma transparente, informem possíveis conflitos de interesse e assumam responsabilidade pelo que publicam.
Já a atuação do Estado, segundo esses especialistas, deve se limitar à regulação de riscos concretos, sem restringir o debate público ou impor filtros ideológicos.
Questões de privacidade e proteção de dados
O uso de bases de dados para armazenar diplomas e certificados de criadores levanta preocupações sobre privacidade e segurança da informação.
Organizações de proteção de dados afirmam que plataformas e governos precisam definir políticas claras de uso, armazenamento e auditoria desses registros, sob risco de exposição indevida de informações pessoais.
Advogados e consultores de compliance também recomendam que empresas e anunciantes revisem contratos com influenciadores, prevendo responsabilidade compartilhada pelo conteúdo divulgado.
As cláusulas devem incluir exigência de revisão técnica prévia e regras sobre a divulgação de riscos ao público.


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