Testes oficiais indicam consumo e desempenho semelhantes ao E27, mas especialistas alertam para atenção redobrada em alguns modelos de carros apenas a gasolina e mais antigos.
Desde 1º de agosto de 2025, a gasolina comum e aditivada passou a ter 30% de etanol anidro na mistura, a nova mistura é chamada gasolina E30. A mudança foi definida pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) na Resolução nº 9/2025, e vale para todo o país. Segundo a ANP, a regra também elevou a exigência de qualidade, sem alterar o procedimento de medição do teor de etanol na “gasolina C” vendida ao consumidor.
A regulação veio na esteira do programa Combustível do Futuro (Lei 14.993/2024), que atualizou a base legal e ampliou a margem para o governo ajustar o percentual obrigatório até o teto de 35% quando houver viabilidade técnica. Em outras palavras: o E30 é um passo dentro de um plano maior de descarbonização e ganho de eficiência.
Para preservar o desempenho da gasolina E30, a ANP propôs ajustes nas especificações — incluindo aumento do RON (octanagem pesquisa) mínimo da gasolina C de 93 para 94, de modo a manter a qualidade mesmo com mais etanol na mistura. Resultado esperado: combustível com maior octanagem e compatível com os motores modernos.
-
Efeito Trump: membros fundadores do Brics buscam novas alianças globais e Brasil recebe 40 empresas tailandesas em rodada de negócios em São Paulo
-
Uma das maiores minas de ouro do mundo chega a 3.000 metros de profundidade e guarda reservas avaliadas em R$ 420 bilhões
-
Thiago Nigro explicou como o DREX pode mudar a vida dos brasileiros
-
INSS emite convocação oficial para mais de 600 mil aposentados e alerta: quem não responder pode ter benefícios bloqueados imediatamente
Testes oficiais com E30: consumo, desempenho e emissões
O Ministério de Minas e Energia (MME) divulgou o estudo do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT) que avaliou 16 carros e 13 motos representativos da frota nacional. Conclusão central: não houve impactos negativos relevantes em consumo, dirigibilidade ou emissões quando comparado o E27 (mistura anterior) ao E30. Os ensaios contemplaram partida a frio, estabilidade de marcha lenta e provas em laboratório e pista.
Na prática, isso significa que, em média, o motorista não deve perceber diferença no uso cotidiano apenas por causa do E30. Esse é o ponto técnico sustentado pelo governo para afirmar que a adoção do novo teor é viável e segura para a frota.
Ainda assim, condições reais de uso, como trânsito intenso, carga, altitude, temperatura e estado de manutenção, podem provocar variações de consumo entre veículos e regiões, algo esperado em qualquer combustível. Anotar consumo por tanque e acompanhar a manutenção continua sendo a melhor forma de avaliar o seu caso. (Base técnica no relatório do MME/IMT.)
As críticas de especialistas: quando a E30 pode preocupar
A adoção do E30 também trouxe questionamentos metodológicos. O engenheiro Gerson Borini apontou falhas nos critérios de seleção de veículos, na construção de linha de base (comparação E27 vs. E30 no mesmo carro, sob mesmas condições) e no desenho dos testes de partida a frio.
O IMT e o MME, por sua vez, defendem que os ensaios seguiram normas, com protocolos triplicados e uso de scanner OBD para checar falhas. Tradução para o leitor: há debate técnico legítimo, e monitorar o comportamento no uso real ao longo dos próximos meses faz sentido.
Um alerta recorrente entre especialistas é o carro exclusivamente a gasolina, especialmente antigo ou carburado. Como o etanol tem menor poder calorífico, pode haver tendência à mistura mais pobre e temperaturas internas maiores em motores sem eletrônica capaz de compensar adequadamente, o que pode acelerar desgaste em usos severos. Veículos flex, por outro lado, são projetados para operar com altas proporções de etanol e tendem a não ter problema com a gasolina E30.
Preço da gasolina com E30: caiu, subiu ou ficou igual?
O governo ventilou a possibilidade de barateamento de até R$ 0,11 por litro com a nova mistura, mas o que se vê nas bombas é um quadro misto. Dados recentes citados pela imprensa mostram, por exemplo, leve alta em São Paulo (de R$ 6,07 para R$ 6,12) e queda em Vitória (ES) (de R$ 5,98 para R$ 5,84) entre o fim de julho e meados de agosto, conforme registros da ANP. Ou seja, o impacto varia por praça, e margens da cadeia (refino, distribuição e revenda) influenciam o preço final.
Além do preço por litro, é útil lembrar que consumo por quilômetro também pesa no bolso. Mesmo que o litro barateie um pouco, um eventual aumento de consumo em certos veículos pode anular a economia — outro motivo para acompanhar autonomia real do seu carro nas próximas semanas.
Qual gasolina usar: E30 comum/aditivada x gasolina premium (25%)
Para evitar confusão, a gasolina premium continua com 25% de etanol anidro e não entrou no E30. Ela costuma ser indicada quando o manual do fabricante exige octanagem mais alta ou quando há detonação (“batida de pino”) em motores de alta compressão. Para a imensa maioria dos carros, a gasolina comum/aditivada E30 segue conforme a especificação e atende ao uso diário, desde que o veículo esteja em bom estado de manutenção.
Se o seu modelo é antigo e somente gasolina (principalmente carburado), vale conversar com um mecânico de confiança sobre ajustes de mistura e verificação de sonda lambda, velas e sistema de ignição, cuidados que reduzem risco de mistura pobre e superaquecimento em uso severo.
E30 no posto, como fiscalizar (teste da proveta) e regra de transição
O consumidor pode solicitar o teste da proveta no posto. A fórmula não mudou: mede-se a fase aquosa após misturar 50 mL de gasolina com solução salina até 100 mL; o cálculo do % de etanol anidro segue % EAC = [(A − 50) × 2] + 1, em que A é o nível da fase aquosa. Para E30 conforme, a leitura fica tipicamente entre 64 e 65 mL na proveta. Guarde nota e peça o laudo se desconfiar da qualidade.
Há ainda um período de transição: até 30/08/2025, a ANP não aplicará medidas cautelares quando encontrar 26% a 31% de etanol na gasolina comum/aditivada em revendas (administração de estoques). Atenção: se o posto comprou após 1º/08 fora do novo padrão, pode ser autuado fora da faixa de 29% a 31%. Para denúncias, use o canal Fala.BR.
Dica prática: abasteça em postos confiáveis, verifique lacres e procedimentos de recebimento, e acompanhe a luz de injeção. Qualquer falha recorrente após a mudança de combustível merece diagnóstico por scanner.
Consumo e manutenção com a gasolina E30
Vai render mais ou menos? Em média, os testes não apontaram diferenças relevantes em consumo. Mas, por fundamentos físico-químicos, alguns veículos (sobretudo antigos e só gasolina) podem consumir um pouco mais com o E30 se a calibração não compensar. O caminho seguro é medir seu consumo real (km rodado ÷ litros) por 2 a 3 abastecimentos consecutivos e comparar com históricos.
Para minimizar qualquer efeito: mantenha filtro de ar, velas e injeção em ordem; use combustível de procedência; evite rodar no limite com o tanque muito baixo; e siga o manual. Em regiões frias, observe o comportamento na partida nas primeiras manhãs com E30 e, se notar dificuldades, registre e leve ao mecânico.