Inocência se prepara para receber dois megaprojetos industriais: uma fábrica de peróxido de hidrogênio e a maior planta de celulose do país, investimentos que consolidam Mato Grosso do Sul como polo global da bioeconomia.
Inocência, a 331 quilômetros de Campo Grande, vai ganhar uma nova unidade industrial voltada ao fornecimento de insumos para a cadeia de celulose.
A Peróxidos do Brasil, joint venture entre o Grupo Solvay e a PQM (Produtos Químicos Makay), confirmou a instalação de uma fábrica que deverá operar em 2028, ao lado do complexo de celulose da Arauco, reforçando o posicionamento de Mato Grosso do Sul como “Vale da Celulose”.
O valor do investimento e o número de vagas diretas do projeto da Peróxidos ainda não foram divulgados.
-
PEC da aposentadoria levanta poeira em Brasília e pode abrir rombo histórico de R$ 24,7 bilhões
-
Caixa vai financiar 80 mil moradias já em outubro com nova política que libera até R$ 150 bilhões e mira famílias com renda de R$ 12 mil a R$ 20 mil
-
Conheça os impostos invisíveis que drenam o lucro de empresas e dificultam manter um CNPJ no Brasil: ISS, PIS, COFINS, IRPJ e CSLL estão entre os principais tributos que o empreendedor deve pagar a tríade do governo.
-
Índia impulsiona recorde de exportação de feijão, produtores brasileiros comemoram, mas alertam para riscos regulatórios
Nova vizinhança industrial e cronograma de operação
De acordo com o titular da Semadesc, Jaime Verruck, a planta “será vizinha à fábrica da Arauco e deve entrar em operação em 2028”, em linha com o avanço do polo de celulose do estado.
Em publicação nas redes, o secretário afirmou que o ciclo de aportes já supera R$ 100 bilhões em projetos industriais em Mato Grosso do Sul.
O que a Peróxidos vai produzir
Apesar de a iniciativa ser anunciada como “fábrica de hidrogênio”, o produto fornecido pela empresa é peróxido de hidrogênio (H₂O₂), insumo amplamente utilizado no branqueamento de fibras na indústria de celulose.
A Peróxidos do Brasil produz H₂O₂ no país desde a década de 1970 e mantém sua principal unidade em Curitiba, apontada pela companhia como a maior planta de peróxido de hidrogênio para o mercado do mundo.
A empresa também opera terminais de distribuição na Argentina, Chile e Colômbia, para dar capilaridade ao suprimento na região.
Modelo “on-site” e histórico de tecnologia
A estratégia da companhia inclui o conceito myH₂O₂, que prevê unidades on-site dentro ou ao lado de fábricas de celulose, reduzindo custos logísticos e emissões do transporte do insumo.
Em 2017, a Peróxidos implantou no Maranhão a primeira unidade “satélite” desse tipo, operada de forma remota a partir de Curitiba, para atender uma planta do setor.
A mesma lógica deve orientar o empreendimento em Inocência, integrado à demanda da Arauco.
Projeto Sucuriú: escala, investimento e empregos
A vizinha do novo projeto, a Arauco, ergue em Inocência a fábrica de celulose conhecida como Projeto Sucuriú, com capacidade anual de 3,5 milhões de toneladas e previsão de iniciar as operações até o fim de 2027.
O investimento global divulgado pela empresa é de US$ 4,6 bilhões, montante que, em estimativas de mercado, aparece também convertido para cerca de R$ 24 bilhões a R$ 25 bilhões.
No pico das obras, a implementação deve gerar cerca de 14 mil empregos, segundo divulgações locais e do governo estadual.
Impacto para o “Vale da Celulose” em Mato Grosso do Sul
O adensamento industrial em torno da celulose é apontado pelo governo estadual como eixo de desenvolvimento.
O Estado fala na quinta fábrica de celulose a ser instalada em Mato Grosso do Sul com a chegada do projeto da Arauco, consolidando o chamado “Vale da Celulose”.
Em 2025, a Semadesc registrou eventos oficiais de lançamento do empreendimento com essa classificação, além de dados que evidenciam a relevância da commodity na pauta exportadora sul-mato-grossense.
Cadeia de fornecimento e ganhos operacionais
A presença de uma unidade de peróxido de hidrogênio ao lado da fábrica de celulose tende a reduzir riscos de abastecimento e custos de transporte de um insumo crítico, além de permitir ajustes finos de produção conforme a sazonalidade de demanda.
O peróxido é aplicado nas etapas de branqueamento da polpa, contribuindo para padrões de qualidade e eficiência energética.
Em termos logísticos, a produção contígua também reduz a circulação de cargas perigosas em longas distâncias.
Essas características operacionais são consistentes com o modelo myH₂O₂ e com a prática de suprimento que a Peróxidos vem expandindo na América do Sul.
Quem é a Peróxidos do Brasil
A Peróxidos do Brasil é uma joint venture entre o Grupo Solvay e a PQM (Produtos Químicos Makay).
A empresa informa capacidade de 250 mil toneladas/ano em Curitiba e presença regional por meio de terminais e unidades na América do Sul.
Em 2025, a Solvay destacou investimentos para ampliar a atuação do grupo no continente, incluindo planta no Chile, no parque industrial de Coronel, na região do Biobío, a única unidade industrial de H₂O₂ na costa do Pacífico sul-americano.
Empregos e efeitos locais esperados
Enquanto a Arauco reporta milhares de postos na fase de implantação, o número de vagas ligadas diretamente à fábrica da Peróxidos ainda não foi divulgado.
A tendência, no entanto, é que a proximidade entre as plantas potencialize contratações indiretas em logística, manutenção e serviços técnicos, além de formação de mão de obra especializada na região.
Esse efeito já é observado em outros polos de celulose do estado.
O que diz o governo
Em mensagem pública, Jaime Verruck ressaltou que o projeto “consolida o Estado como referência mundial na cadeia de celulose e papel”.
Segundo ele, “a nova planta será vizinha à fábrica da Arauco e deve entrar em operação em 2028”, reforçando o ciclo de investimentos que vem transformando o parque industrial sul-mato-grossense.
Próximos marcos e pontos a acompanhar
Até o início da operação, são esperadas etapas de licenciamento, obras civis, comissionamento e integração de sistemas com a unidade de celulose.
Também deve avançar o planejamento logístico do entorno de Inocência, uma vez que o Estado tem direcionado concessões e melhorias de infraestrutura para dar vazão ao crescimento da produção florestal e de celulose, com foco na chamada Rota da Celulose.
Com a fábrica de peróxido ao lado da maior planta de celulose do país a ser erguida em uma única etapa, Inocência ganha um arranjo produtivo que alia escala e eficiência.
Que outras cadeias da bioeconomia podem se conectar a esse novo hub industrial de Mato Grosso do Sul?