Gigante da mineração investe bilhões em uma ferrovia inédita no Espírito Santo que cruzará seis municípios, mudando rotas logísticas, criando milhares de empregos e conectando regiões estratégicas ao sudeste. Detalhes técnicos e impactos ainda estão em análise ambiental.
Ramal ferroviário do Espírito Santo promete transformar a logística regional ao gerar até 5 mil empregos durante a construção, prevista para começar em 2028.
O projeto, sob responsabilidade da Vale, seguirá o traçado da Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM), conectando Santa Leopoldina ao Complexo Industrial de Ubu, em Anchieta, com forte impacto na cadeia produtiva capixaba.
Conforme o Relatório de Impacto Ambiental (Rima) apresentado ao Instituto Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) em abril de 2025, o ramal ferroviário do Espírito Santo prevê pico de 4.920 trabalhadores e utilizará cerca de 1.200 equipamentos, entre máquinas de terraplenagem, caminhões e ferramentas de montagem eletromecânica.
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A mobilização de mão de obra está estimada para o primeiro semestre de 2028, com previsão de duração de aproximadamente 50 meses na etapa de implantação.
Serão priorizadas contratações locais, conforme política da Vale, evitando captação de profissionais de outras regiões e reduzindo deslocamento.
Geração de empregos na construção civil e áreas técnicas
Durante as obras, haverá grande necessidade de profissionais da construção civil: motoristas, pedreiros, carpinteiros e operadores de máquinas.
Também será exigido conhecimento técnico especializado para montagem eletromecânica e superestrutura, com destaque para soldadores e equipes de estruturas metálicas.
Além disso, a fase de obras contará com serviços de apoio, como segurança, alimentação e limpeza, ampliando a cadeia de emprego.
Na fase de operação, estimada para iniciar em meados de 2033, deverão ser contratados cerca de 36 profissionais, entre maquinistas, inspetores de viagem e técnicos de manutenção da via e de sistemas eletroeletrônicos.
Parte das atividades, como controle de operações e manutenção de frota, poderá ser realizada em infraestrutura já existente da EFVM em Vitória e Tubarão.
Estrutura do ramal ferroviário capixaba e valor do investimento
O traçado principal terá 99,3 km e atravessará seis municípios: Santa Leopoldina, Cariacica, Vila Velha, Viana, Guarapari e Anchieta.
Estará totalmente em área rural, majoritariamente seguindo o eixo da BR‑101.
O valor total investido será de R$ 7,43 bilhões, desembolsados integralmente pela Vale.
Entre as estruturas destacadas, serão construídos:
- Um túnel com 715 m de extensão em Viana, com previsão de escavação de 28 meses
- 14 pontes ferroviárias, 1 ponte rodoviária, 8 viadutos ferroviários, 12 viadutos rodoviários e 44 passagens inferiores
Essas estruturas visam garantir a segurança da população e minimizar impactos viários e ambientais.
O projeto conta com licenciamento prévio e EIA/RIMA em análise técnica no Iema, dentro dos prazos legais.
Desafios ambientais e articulação com o governo
Após atraso de mais de um ano na entrega do EIA, previsto para janeiro de 2024, a documentação foi apresentada em março de 2025.
O acordo com o governo federal vinculou a renovação antecipada da concessão da EFVM à construção do ramal.
No início de 2025, o governador Renato Casagrande e o vice Ricardo Ferraço destacaram a necessidade de apoio dos municípios em processos de desapropriação de cerca de 477 imóveis.
O licenciamento ambiental segue como um dos principais entraves, com estimativas de que os trâmites para licenças e desapropriações durem até 24 meses, seguidos da execução da obra com prazo previsto de 50 a 60 meses.
Novo ramal ferroviário capixaba e impacto logístico nacional
O novo ramal ferroviário capixaba não só aprimora o escoamento de minério de ferro pelo Porto de Ubu, mas também abre espaço para o transporte de grãos, combustíveis e cargas gerais.
A capacidade projetada é de até 15 milhões de toneladas por ano, com velocidade operacional de 65 km/h e até quatro viagens diárias com composições de duas locomotivas e 172 vagões.
A ferrovia também se integra à EF‑118, prevista para ligar o Espírito Santo ao Rio de Janeiro, conectando Cariacica a Nova Iguaçu, passando por 25 municípios.
A primeira fase da EF‑118 será construída pela Vale, como contrapartida à prorrogação da concessão da EFVM até 2057, com investimento inicial de R$ 2,5 bilhões e extensão de 72 km entre Cariacica e Anchieta.
A extensão total da EF‑118 será de 578 km.
A construção do novo ramal ferroviário capixaba reforça a integração logística do Sudeste e serve de modelo nacional de infraestrutura, posicionando o Espírito Santo como player estratégico no escoamento de commodities.
Renovação da matriz de transporte e ganhos ambientais
Além da geração de emprego e modernização da infraestrutura, o ramal pode ser catalisador da mudança da matriz de transporte, ainda excessivamente rodoviária.
O transporte ferroviário contribui para redução de emissões de CO₂, menor impacto nas estradas e maior eficiência no escoamento de grandes volumes.
Para especialistas, agilidade no licenciamento e nas desapropriações será crucial para cumprir o cronograma.
Se o processo avançar sem entraves, o Espírito Santo pode atrair novos investimentos e consolidar-se como polo logístico regional.
Agora, fica a reflexão: será que o ramal ferroviário do Espírito Santo conseguirá virar o jogo e se consolidar como referência nacional em logística sustentável e integração regional?